Um Cruzeiro diferente?


O jogo da última quarta-feira, entre Cruzeiro e São Paulo, dividiu opiniões no quesito técnico. Para alguns, o time mineiro apresentou-se bem, muito diferente daquilo que vinha demonstrando desde o início do segundo turno. Outros, porém, não enxergaram isso. Pelo contrário, viram o Cruzeiro novamente mal postado em campo, com deficiências em todos os setores.

Tostão, ídolo cruzeirense e colunista da Folha de São Paulo, foi um destes. Na coluna de ontem, ele escreveu: Do ponto de vista coletivo, não vi nenhuma melhora no Cruzeiro na partida contra o São Paulo. Não dá para cobrar isso do técnico Vágner Mancini. O time celeste foi muito frágil na defesa, no meio-campo e no ataque. Dagoberto, Cícero e Luís Fabiano deitaram e rolaram. A atuação do argentino Farías foi péssima. Dá para fugir do rebaixamento, mas não dá para ficar animado com a dupla de atacantes Farías e Keirrison.

Embora concorde com o nosso Tusta, pois o Cruzeiro foi muito mais alma do que técnica, há outros aspectos a se considerar além das fragilidades defensiva, de criação e ofensiva.

Primeiramente, a capacidade do time de tomar a iniciativa do jogo e sair na frente do placar. Pela primeira vez no returno, após 8 rodadas, o Cruzeiro marcou gol antes do adversário. Isso, de certa forma, ajudou a elevar a moral dos jogadores em campo, os quais nitidamente se mostraram mais à vontade após o gol de Keirrison.

Outro aspecto que entusiasmou torcedores, inclusive a mim, foi que, mesmo com a virada na segunda etapa, o time não se abateu. Nas rodadas anteriores, o gol tomado tinha carga de derrota certa. Contra o São Paulo, nem mesmo o bonito gol – ao mesmo tempo de pura sorte – de Dagoberto, foi capaz de esmorecer o time.

Nas duas vezes em que se viu atrás no placar, o Cruzeiro não se entregou. Foi para o ataque e, na base da raça e da vontade, alcançou o empate. Empate, aliás, que não era o sonho de resultado, mas acabou se transformando no resultado da esperança. 

Dentre todos os aspectos positivos dessa partida, talvez o que mereça maior destaque é a postura do time em campo. Se a técnica está longe da ideal, contra o São Paulo, finalmente, a equipe mostrou que é possível somar pontos na base da raça e da entrega, ainda que o adversário seja muito superior. Nisso, vejo o toque do trabalho de Vágner Mancini.

Ele, na minha visão, identificou que mais urgente do que os ajustes técnico e tático, naquele momento, era a renovação do emocional do grupo. E, nisso, obteve sucesso. Talvez daí se explique a vibração dele após o jogo, quando disse: “se o time jogar assim até o final, não vai cair”.

E eu, que comecei concordando com Tostão, pois tecnicamente o time não foi bem contra o São Paulo, encerro discordando dele. Assim como Mancini, e ao contrário da Fera de Ouro, também acredito que, mesmo divorciado da técnica, o Cruzeiro pode permanecer na elite nacional. Desde que sobre raça.