Ponto de vista: A polêmica das cadeiras no Mineirão


Alguém se lembra daquele trecho entoado nas arquibancadas: “E eu não vou de cadeira numerada. Eu vou de arquibancada pra sentir mais emoção.”?

Pois bem. Em tempos de romantismo no futebol e que, mesmo sem muita organização , existia cortesia e civilidade, frequentar as arquibancadas era um exercício prazeroso para todos.  A cadeira numerada era tido como um lugar chato, onde iam geralmente os mais abastados. A arquibancada não. Era do povo!
Mas se tudo no decorrer da vida muda, no futebol não foi diferente. É gente, o futebol mudou.
Aqui no Brasil, os tempos em que futebol era programa família, não existem mais. A falta de segurança, violência, intimidação tomaram conta. Cuidado redobrado no estádio e em seu entorno é pouco pra tanta coisa errada e para a falta de suporte que o Estado teria que nos garantir. Hoje, é cada um por si e o resto que se dane. Essa é a verdade!
No clássico do dia 3 de Fevereiro, o torcedor vai enfrentar algo que até então não era praticado aqui no Brasil, mas que é visto nos principais campeonatos europeus. O lugar numerado.
Uma lei estadual já garante este direito a frequentadores de cinemas e teatros. A lei foi criada pelo Dep. João Vitor Xavier, conforme consta no site da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais:
PROJETO DE LEI Nº 1.602/2011


Cria a obrigatoriedade de se numerarem os assentos nas salas de cinema e dá outras providências.


A Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais decreta:


Art. 1º – Ficam os proprietários das salas de cinema no Estado obrigados a numerar suas cadeiras, informando ao consumidor, no momento da compra do ingresso, o assento que irá ocupar.


Parágrafo único – O número do assento adquirido deverá estar registrado no cupom de ingresso.


Art. 2º – Os referidos estabelecimentos terão o prazo de cento e oitenta dias, a contar da publicação desta lei, para se adequarem às disposições desta lei.


Art. 3º – Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.


Sala das Reuniões, 10 de maio de 2011.


João Vítor Xavier
Meu questionamento é simples e pode causar polêmica. Se para teatros e cinemas esta lei vale, por que não vale para o futebol?
Muitos vão responder que estão tentando mudar a cultura do torcedor de futebol, elitizando, etc. Me desculpem, mas minha opinião é a de que pra ser torcedor, e ser do povo, não precisa ser vândalo ou sem educação ou violento. E hoje, é o que vemos nos estádios.
Vejo a numeração dos lugares no estádio como algo muito benéfico ao torcedor. Na compra, você poderá escolher o seu lugar no estádio e terá garantido este direito. No estádio, haverão fiscais que vão orientar o torcedor a chegar corretamente ao seu lugar para assistir ao jogo.
O problema é que muitas pessoas reclamam disso com argumentos que refletem uma falta de interpretação e certa ignorância a cerca do está sendo proposto. Coisas como: “Futebol vai virar tênis”, “não vai poder ficar em pé”, “se vão fiscalizar o lugar onde você está, vão fiscalizar suas atitudes”. “Nem tudo que vale na Europa, vale aqui. Por isso a Europa tá (sic) em crise”.
O meu ponto de vista sobre isso é que o estádio ficará mais organizado. Você vai comprar um ingresso e não uma mordaça. É claro que você vai poder ficar em pé. Do jeito que algumas pessoas tratam este assunto é como se a ditadura da Coreia do Norte estivesse sendo implantada aqui.
Na Europa, quem assiste a seus campeonatos pode ver nas arquibancadas. As torcidas cantam o tempo todo, os fiscais ficam nas laterais das escadarias de acesso às cadeiras e na base da arquibancada, torcedores ficam de pé, gritam e pulam. Qual o problema nisso?
Todos nós somos avessos a mudanças. Penso que é uma mudança necessária para organização e, principalmente, para que o torcedor tenha um pouco mais de educação. No modelo que passa a ser antigo, quando era final de campeonato, todo mundo ficava espremido pra entrar no estádio, pessoas ficam em pé em lugares feitos para se sentar, danificando os assentos. Eu pergunto: você gostava de ficar espremido no meio de um monte de gente pra assistir a um jogo? Gostava de encontrar um assento estragado e sujo? Tenho certeza que não.
Com esta nova política, por exemplo, você não vai precisar sair de casa com 4 horas de antecedência pra chegar ao estádio, correndo o risco de não pegar um bom lugar para assistir ao jogo. Quando tudo estiver implementado e funcionando corretamente (assim espero), você vai poder sair mais tarde de casa, chegar ao estádio e ver o seu lugar lá, te esperando pra ver o jogo.
Infelizmente, para muitos, é difícil ter educação, seja por criação, seja por instrução ou convicção. Aqui no Brasil para que se consiga um objetivo em prol do coletivo, sempre se tira alguma coisa. As pessoas tem incutidas na sua consciência que ela é mais especial do que qualquer outra e deve ter mais vantagens. A Lei de Gérson impera em todas as camadas da sociedade.
Não estou aqui querendo ditar regra ou comprar a consciência de ninguém. Quero apenas expor meu ponto de vista. Concordar ou não, criticar e elogiar é um direito que cabe a todos e todos serão respeitados por mim, quanto a isso.
Da mesma forma que acho que o futebol não vai ficar chato. Vai ficar chato se ninguém gritar, se ninguém xingar, se ninguém comemorar um gol.
A antiga cultura (se é que se pode chamar de cultura) da falta de respeito será extinta, a paixão pelo futebol, não.