O título está a caminho, mas não esqueçamos assim da defesa


O título está a caminho, mas não esqueçamos assim da defesa - Cruzeiro Esporte Clube

A reação demonstrada na partida maluca contra o Criciúma, assim como a proximidade do tão esperado grito de campeão, não devem ofuscar situação um tanto inquietante a respeito do recente futebol cruzeirense. O amigo leitor que não julgue ser essa coluna de hoje uma cornetagem oportunista, pelo contrário. Faz-se necessário dissecar um pouco mais as recentes atuações do setor defensivo como um todo, esse sofrendo queda de desempenho importante na reta final de campeonato. Se seguir a caminhada do título já não parece ter mistérios, em contrapartida, existem algumas explicações para tal momento instável da retaguarda celeste.

Em breve filtragem, é possível constatar que o declínio do desempenho defensivo começou a partir da vitória por 2×1 contra o Internacional, fora de casa. Até ali eram três jogos consecutivos sem levar gols, com atuações convincentes diante de Botafogo, Atlético-PR e Corinthians. Para essa partida, a defesa cruzeirense, que vinha sólida em sua formação habitual com Bruno Rodrigo, Dedé, Egídio, Ceará, Nílton e Lucas Silva, não pode contar com o último, suspenso, tendo Henrique em seu lugar. Sem partir da análise individual, essa mudança simbolizou o início de um período de mudanças constantes em todo setor defensivo. Por motivos de lesão, suspensões e convocação da Seleção, testemunhamos uma sequência de jogos nos quais a defesa cruzeirense foi sendo alterada gradualmente.

Perdemos Dedé para a seleção e entrou Léo. Perdemos Lucas Silva, Nílton e Egídio por suspensões revezando Henrique e Mayke (Ceará indo para a esquerda), além de Bruno Rodrigo por lesão. Em sequência, essas foram mudanças cruciais no modus operandi do setor que vinha apresentando um funcionamento muito interessante, mas que, diferentemente das máquinas, não é tão perfeito quando trocadas suas peças de eixo. Até essa partida e início das alterações, o Cruzeiro havia levado 19 gols em 23 jogos, média de 0,8. Desde o Inter, foram 8 jogos e 10 gols sofridos, rendendo média de 1,25 por partida. Esse aumento no número de gols sofridos alavancou negativamente a média para 0,95; quase um gol por partida. Para uma defesa que se mantinha sólida como rocha, essa queda de desempenho foi sentida bruscamente, justificada pela quebra de sinergia.

Entretanto, não se pode culpar o mundo. Antes de criticarmos o nível dos que entraram, é importante ter em mente que essa quebra é aceitável e até esperada em um campeonato de fôlego. O problema é quando ela se torna constante e irresponsável, contaminando todos os setores em campo.

Os jogadores sentiram, refletindo nos desempenhos individuais. Ceará parece desgastado e sem o mesmo poder de marcação que o manteve como titular por boa parte do Brasileirão. Egídio idem. Apesar de boa atuação no clássico, Léo se mostrou longe de todo o potencial que pode render. Dedé e Bruno Rodrigo seguem firmes, mas sem o segundo, a zaga naturalmente viria a sentir a diferença. Já Nílton talvez seja o que mais sentiu; tem chegado menos à frente e sido menos combativo do que de costume, o que não diminui sua relevância ao time. Essa semana de descanso será vital para seu retorno em alto nível como antes. Lucas Silva conseguiu manter o ritmo destacado, mas teve que se desdobrar com a entrada de Henrique, o que deixou a defesa bem mais exposta que antes.

Já em relação aos números, o declínio também pode encontrar justificativas nas mudanças constantes do setor. A média que era de 30 desarmes por jogo a oito jogos atrás, caiu para 23. São menos bolas roubadas defensivamente, resultando em maior posse e avanço dos adversários. As saídas alternadas de Egídio, Dedé, Nílton e Bruno Rodrigo refletiram diretamente nesse aspecto do jogo coletivo celeste, uma vez que esses mesmos jogadores são os principais responsáveis na função, sendo os que mais desarmaram no time até aqui, com 100, 76, 69, 60 desarmes respectivamente. Sem eles em campo, o Cruzeiro passou a roubar menos bolas e consequentemente, deixá-la com os adversários que nos atacaram em maior volume.

Essa lógica é também aplicada em outro aspecto; o número de bolas afastadas pela defesa cai drasticamente sem Bruno, Dedé ou Nílton, os três principais no quesito, com 288, 261, 95 lances, respectivamente. Em suma, a ausência de todos esses jogadores em partidas distintas surge como grande justificativa para a queda defensiva.

O declínio pode ser visto como positivo quando desperta questionamentos antes adormecidos pela boa campanha. Assegura com os pés no chão, tanto de torcedores, jogadores, comissão técnica e dirigentes, que o atual time do Cruzeiro não é imbatível e deve ser ainda melhor burilado. Talvez não para esse ano, com o caminho já traçado e poucos jogos restantes, mas sim para a próxima e ainda mais exigente temporada.

A proximidade do título mitigou, mesmo que inconscientemente, as obrigações defensivas e níveis de concentração nas últimas partidas. Isso é normal, pois não há time no mundo que atue, tanto defensiva quanto ofensivamente, na mesma pegada a temporada inteira. Sendo ainda racionais, essa queda até demorou muito a bater, já que estamos nas últimas partidas do ano.

O saldo do setor defensivo na temporada é ainda muito positivo. Agregamos um zagueiro de seleção ao elenco, constatamos a seriedade e eficiência de outro; descobrimos um lateral-direito de potencial absurdo e um volante identificado com o clube, além de uma joia feita em casa. Contudo, se nessa temporada a queda defensiva ainda não pareceu nos desviar do caminho vencedor, não é justo dar chances para o azar, margens para erros. Haverá muito o que ser trabalhado para a próxima temporada.

Por hora, o que vale mesmo é apoiar incondicionalmente que joga e contar as horas, os minutos e segundos para explodirmos de felicidade…