Ninguém tira o brilho dessa história


Domingo é dia de clássico, mas só dentro de campo. Mais uma vez as torcidas não estarão frente a frente nas arquibancadas. Lamentável! Tenho certeza que, mesmo com o estádio lotado, ele estará vazio. A festa promovida pelas duas torcidas, que foram registradas inclusive num clipe do Skank e rodaram o mundo, está cada dia mais longe do estádio. Desde o fechamento do Mineirão inventaram essa história que na Arena do Jacaré ou no Independência não pode haver a participação das duas torcida, por causa da violência. Mas será isso mesmo? Por que na Vila Belmiro pode? E em São Januário?

Vejo a violência que envolve o futebol acontecer independente do estádio, competição ou rivalidade. Os confrontos entre bandidos que se transvestem de torcedores surgem, em sua grande maioria, longe dos locais das partidas. Os responsáveis pelo evento, clubes, Governo Estadual (na figura da Polícia Militar) e o Ministério Público, se omitem, dizem que em “nome da segurança apenas uma torcida é permitida”.

Aí eu e milhares de torcedores – somos apenas torcedores – não podemos curtir o jogo ao lado de amigos que torcem pelo outro time. Ou vamos ao estádio apenas entre nossos pares, ou reunimos a turma em casa, porque o PM pediu para torcedores do CAM não saírem de casa com a camisa do time. Não posso mais dividir o mesmo espaço com meu primo atleticano como fizemos muitas vezes.

Quem acompanha o futebol sabe que acabar com a violência de “torcidas de futebol” demanda um trabalho muito maior que apenas definir clássico com torcida única. Drogas são usadas fora e dentro dos estádios. Confrontos são marcados através das redes sociais e ninguém investiga e coíbe. Tocaias a torcedores nas estradas são comuns nos jogos que envolvem times de outros estados, mas nada acontece. Recentemente vimos notícias de brigas envolvendo duas torcidas organizadas do Cruzeiro. E aí, vão proibi-las de entrar no Independência no domingo?

Enquanto esses bandidos não forem identificados e banidos dos estádios os verdadeiros torcedores ficarão longe das arenas. Talvez seja minha culpa também, e dos torcedores chapa branca, que torcemos apenas para o Cruzeiro, que gritamos apenas o nome dele, que por medo ou comodidade nos omitimos e deixamos que eles tomem conta do espaço público, já que agora nem nas ruas podemos andar despreocupados envergando nosso manto com orgulho, porque podemos ser agredidos.

Infelizmente quem for ao jogo domingo não poderá, ao fim da partida, olhar para o outro lado, ver o lado monocromático, e rir enquanto eles choram. O momento de alegria e escárnio vai ser adiado por algumas horas. Mas por mais força que façam para esvaziar está festa, a satisfação de ver o Maior de Minas brilhar em campo ninguém tira de nós!

Foto: VipComm