Motivada por conflito mundial, estreia do nome Cruzeiro completa 70 anos


Fundada em 02 de janeiro de 1921 por imigrantes italianos buscando inserção na comunidade esportiva belohorizontina, a Società Sportiva Palestra Itália seria, pouco tempo depois, uma das principais instituições do Brasil a sofrer as consequências das disputas que tomaram conta do mundo durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Naquele período, o Brasil se aliou às nações do bloco conhecido como “Aliados”, aliança que tinha como lideranças países como EUA, Inglaterra, França e Rússia em oposição aos chamados países do “Eixo”, aliança formada por nações como Alemanha, Itália e Japão como potências principais.

A represália no país aos movimentos sócio-culturais afinados com os “países inimigos” foi uma das práticas do governo brasileiro, naquele momento presidido por Getúlio Vargas, para afirmar a sua condição de aliado e inimigo do eixo. Devido a isso, um decreto do dia 31 de agosto de 1942 obrigou a todas instituições do país que tivessem alguma referência às nações inimigas que mudassem de nome ou deixassem de existir.

Segundo historiadores do Cruzeiro Esporte Clube, a decisão federal dividiu posições no clube e alguns dos conselheiros cogitaram enfrentar, até de forma armada, esta resolução. No entanto, a solução pacífica prevaleceu e reuniões visando a escolha de um novo nome, atendendo a determinação governamental, passaram a ser realizadas.

Enquanto a indefinição sobre o nome prevalecia, ganhou força a convicção de que o clube deveria homenagear o Brasil em sua nova nomenclatura. O nome Ypiranga, em referência ao rio em que D. Pedro I proclamou a Independência do Brasil, chegou a ser adotado durante um curto período de forma extra-oficial, mas seria uma reunião no dia 07 de outubro de 1942, presidida por Oswaldo Pinto Coelho, então líder da agremiação, que definiria o nome que alçou o clube ao patamar de um dos maiores do país, do continente e do mundo.

Em referência à constelação Cruzeiro do Sul, um dos principais símbolos do Brasil, o nome escolhido pelos conselheiros foi Cruzeiro Esporte Clube. Na mesma reunião, optou-se pelo abandono das cores verde e vermelha, que faziam alusão à bandeira italiana, e a adoção do azul e branco, cores presentes na bandeira nacional brasileira, mas também utilizadas pela seleção italiana.

A estreia do Cruzeiro Esporte Clube com esta nomenclatura, no entanto, só aconteceria no ano seguinte, em amistoso realizado no dia 14 de fevereiro de 1943, há exatos 70 anos, contra o São Cristovão (RJ), no antigo estádio do Barro Preto, em Belo Horizonte.

A partida foi vencida pelos cariocas por 5X3, mas aquele dia ficaria marcado como a demonstração de que nem mesmo a força do governo brasileiro poderia conter o avanço daquele clube fundado por imigrantes italianos e que ganhava Belo Horizonte a cada ano que passava.

O nome Cruzeiro fortaleceu a instituição e a mesma, a partir de então, preparou-se para romper fronteiras. De terceira força da cidade, o clube cresceu, conquistou torcedores (rivaliza com o Grêmio pelo posto de maior torcida fora do eixo Rio-São Paulo), parou o Santos de Pelé, venceu de forma até hoje inédita a Tríplice Coroa, ganhou a América por duas vezes e foi eleito o maior clube brasileiro do século XX, sustentando com toda honra o orgulho de suas origens italianas e da sua história repleta de glórias e conquistas.

Ficha técnica da primeira partida do Cruzeiro Esporte Clube, publicada no site oficial do Cruzeiro:

CRUZEIRO 3 x 5 SÃO CRISTOVÃO-RJ
Motivo: amistoso
Data: 14/02/1943
Local: estádio Barro Preto, em Belo Horizonte-MG
Renda: Cr$ 10.800,00
Árbitro: Guilherme Gomes-RJ
Gols: Nogueirinha (2), Magalhães, Alcides, Caxambu, Papetti, Nestor (2)
CRUZEIRO
Geraldo II, Gerson, Azevedo, Bibi (Fuinha), Juca, Caieirinha, Nogueirinha, Rizzo II (Pedro), Niginho, Ari, Ismael, Alcides
Técnico: Bengala
SÃO CRISTOVÃO
Joel, Mundinho, Pelado, Gualter, Papeti, Castanheira, Santo Cristo, Alfredo, Caxambu, Nestor, Magalhães
Técnico: Picabéia