Moreno e sua já visível contribuição: quando o relevante não está somente em fazer os gols


Moreno e sua já visível contribuição: quando o relevante não está somente em fazer os gols

A vitória de ontem foi necessária. Pelo três pontos e pela atuação coletiva consistente, é inegável o potencial desse Cruzeiro 2014, que mesmo na busca da retomada da intensidade avassaladora que o marcou na temporada passada, soube conservar aspectos do seu jogo campeão e ainda sim aprimorá-los a cada jornada. Se Ricardo Goulart foi destaque soberano com seus três gols, assistência e movimentação, muito se deve à lapidação que o setor ofensivo vem sofrendo sem alarde. O Cruzeiro trabalha uma característica do seu jogo que merecia maior burilamento; o papel da referência de ataque.

Marcelo Moreno atua de forma bem distinta do que Borges. Sinto que mais importante até. No ano passado, Borges foi o centroavante titular em boa parte do ano, fez seus gols, foi importante em vários momentos. Cumpriu seu papel, na medida da necessidade. Contudo, sua contribuição efetiva na mecânica coletiva e ofensiva da equipe sempre esteve em pauta. Por características físicas, Borges não briga tanto com os zagueiros, seja pelo alto ou com a bola nos pés. É um finalizador, oportunista. Sai pouco da área e quando sai, participa menos na criação, sendo presa fácil para a contenção defensiva do adversário.

E é aí que tem entrado Marcelo Moreno nessa temporada. Vimos ontem um Cruzeiro com o controle da partida, acionando sua referência, mas longe de ficar preso somente nessa característica do seu jogo. Moreno tem ajudado a aprimorar o papel dessa referência de forma híbrida, não sendo apenas o centroavante “poste”, mas participando muito do jogo coletivo do time, em especial do setor ofensivo. Pelas suas qualidades e lapidação de Marcelo Oliveira, Moreno tem sido cobrado por maior movimentação, tanto que constantemente cai para a faixa direita do campo. Melhor dotado tecnicamente do que seu concorrente de posição, o boliviano abre um leque novo de oportunidades estratégicas a serem exploradas pelo restante da equipe. Em movimentação, ele sai para abrir jogadas, segurar a bola pelo lado direito, dar o primeiro combate nos zagueiros/laterais e aprofundar o campo ofensivo. Mais consciente taticamente, acaba buscando opções que antes não eram preenchidas pelo comando de ataque, confundindo a defensiva adversária e resultando numa abertura de espaços constante, exemplificada; mas não limitante; no 1º – briga pela bola no meio e inicia a jogada de gol – 2º – puxa consigo dois marcadores – e 3º – novamente desloca-se da marcação e abre espaço pro oportunismo de Goulart – gols da partida, como visto nesse vídeo. Note também um exemplo do combate dado à primeira linha de marcação adversária logo no lance inicial do jogo.

O mapa de calor abaixo ratifica a nova movimentação da referência de ataque celeste quando Marcelo Moreno está em campo. Repare que o centroavante atua por quase toda a grande área e explora o flanco direito ofensivo em sua totalidade, caindo até mesmo pelo esquerdo-central. É uma movimentação nova e certamente idealizada pela comissão técnica, que demonstra, mais uma vez, perspicácia em aprimorar e explorar um setor da equipe ao extremo. E mesmo com toda essa movimentação e desprendimento de posição fixa, Moreno permanece como maior finalizador do time na temporada, com 16 arremates e três gols, comprovando o avanço multifuncional que o esquema celeste demonstra em 2014.

 Moreno e sua já visível contribuição: quando o relevante não está somente em fazer os golsZonas de movimentação de Moreno diante de La U: boliviano esbanja efetividade no jogo coletivo.

 

 

 

Mesmo em processo pessoal de adaptação ao futebol jogado aqui, Moreno já mostra utilidade e contribui de forma concreta à engrenagem do time. Com ele, o Cruzeiro melhora um aspecto de seu funcionamento que carecia, além de ajustes, certa evolução. Reforça também a noção de que é um time ciente de que não poderá se acomodar no futebol que apresentou em 2013 somente. Será preciso aprimorar sua hibridez marcante dentro de campo. No contexto do futebol, é mais fácil transformar algo que esteja dando errado em algo positivo do que o contrário; evoluir o que já vinha dando certo. Abraçando e executando essa mentalidade evolutiva em dois meses de temporada, o Cruzeiro mostra o porque está acima dos demais clubes, nesse momento, dentro de campo.