Fenomenal Ingratidão


Início de 1994. Estava eu, com meus 12 anos, nadando numa das piscinas rasas do clube do Cruzeiro, aquele ali na Pedro I. De repente, ao meu lado, percebo passando por mim uma cara conhecida.  Era o “menino” Ronaldo, na época com seus 17 anos. Ele atravessou a piscina, sorridente, e saiu. E eu fiquei ali, atônito, olhando aquele garoto que idolatrava, e cuja imagem eu não me esqueceria.

Vi muitos gols de Ronaldo no Mineirão. Dois deles guardo intensamente na memória. Um, o famoso gol contra o Bahia, aproveitando a incrível bobeada de Rodolfo Rodriguez. Eu estava lá! E o outro contra o Boca, após uma arrancada realmente fenomenal, desde o meio campo, passando por toda a zaga, e o goleiro, antes de marcar. Apesar de breve, foi uma passagem marcante que ele teve aqui, principalmente pra quem a viveu intensamente, como eu e tantos outros. Marcou muitos e importantes gols. Gols que marcaram a história do clube, dos torcedores e do próprio jogador.

Mas por algum motivo que ignoro, Ronaldo parece não se lembrar de onde tudo começou. Parece ter vergonha de olhar pra quem era, de onde veio. Após sua venda para o PSV, não me recordo de uma única oportunidade em que Ronaldo citasse o Cruzeiro, o clube que o projetou para o mundo. E assim foi, com o passar dos anos. Ele lá. Gols, títulos, copas, contusões, superações, escândalos. Eu aqui. Torcendo, vibrando, sentindo. Sem nunca ter um retorno.

Nem quero me estender demais nesse assunto. A verdade é que quando Ronaldo abandonou o Flamengo, após uns dias de treinamento e juras de amor ao clube, e foi parar no Corinthians, eu não fiquei nem um pouco surpreso. Mas confesso que perdi toda admiração, todo respeito que tinha por ele, não só pelo que ele disse ao Faustão no domingo quando ele mais uma vez, digamos, “cuspiu no prato que (não) comeu”, mas por todo o conjunto da obra.

Termino essa coluna em tom de desabafo afirmando que não discuto sua condição de craque. Acho que Ronaldo ainda pode fazer muita diferença dentro de campo, como aliás já está fazendo. Mas fora de campo, pra mim, Ronaldo é nulo. O que ele faz ou diz, apenas desconsidero.