Duas perspectivas dentro do mesmo contexto


Salve, salve guerreiros! Finalmente uma vitória convincente, sem aberrações técnicas e táticas (os lances da arbitragem não entrarão nessa coluna), que nos colocou o Cruzeiro em quinto lugar, colado no G-4. Sensação boa porque, mesmo com a vitória sobre um rival desfalcado e que não atuou bem, vimos finalmente um Cruzeiro mais aguerrido , mudado e incomodado com sua própria situação, dando pequenas mostras daquela equipe capaz, que estamos tão acostumados. Confesso que já andava temeroso por esse time não apresentar à mínima “liga” necessária para uma campanha decente no Brasileiro. É cedo para qualquer exaltação mais acalorada, permanecem alguns erros e deficiências; entretanto as palavras chaves dessa coluna são as novas perspectivas; leiam-se possibilidades.

Isso porque não foi nenhuma mágica mirabolante que fez do Cruzeiro uma equipe mais sólida do que vinha sendo. Celso Roth viu a defesa sucumbir diversas vezes e optou por medidas já testadas anteriormente, mas que andavam esquecidas. Essas possibilidades, encorpando e utilizando o elenco de forma mais proveitosa, passa a dar ao Cruzeiro novas perspectivas dentro e fora de campo. Parece que subitamente, em apenas um jogo, vimos que se não existe um elenco galáctico, o mesmo tem o seu valor e esse precisa ser mais bem explorado das mais diversas formas.

A começar pelo posicionamento tático dos dois volantes de marcação – Charles e Leandro Guerreiro – e a centralização de Tinga. Vinha sendo notórios os espaços dados entre a zaga e a primeira linha de volantes até a partida contra o Palmeiras, que nos custaram derrotas e más atuações. Insistindo em uma trinca que, postada em um 4-1-2-1-2 acabava sobrecarregando Guerreiro e deixando exposta a retaguarda, jogando assim o Cruzeiro era fácil e constantemente golpeado pelo ataque adversário. A correção desse defeito só foi possível com a entrada de Ceará na lateral-direita; o que nos deu maior poder de marcação e recomposição; e justiça seja feita, a uma até então inacreditável melhora de Diego Renan, que vem atuando bem, com regularidade pelo setor esquerdo, marcando melhor e nos mantendo cada vez mais longe do alcance de Everton. Expert em postar defesas, Roth enxergou espaço para melhorar e postou Charles e Guerreiro lado a lado – com esse último ainda por vezes recuando e sendo um terceiro zagueiro – reforçando ainda mais todo o setor. E bingo! Atuação segura da defesa, que cometeu pouquíssimos erros e portou-se de forma segura.

Segurança essa, que dedico um parágrafo à parte, para os dois principais responsáveis. Thiago Carvalho fez partida brilhante, o que nos faz pensar como Matheus vinha tendo chances e ele não. Além de claramente mais técnico com a bola nos pés, ele mostrou ser um zagueiro calmo e de boa antecipação, algo que Matheus definitivamente não vinha mostrando. Suas primeiras atuações no Cruzeiro foram muito prejudicadas pela apática defesa de Vágner Mancini, o que logo nos fez pensar ser apenas mais um. Mas dada a oportunidade em um esquema mais seguro, foi bem e merece sim ser mais utilizado. Já Victorino, que já começava a falar demais, comeu um banco merecido para “acordar”, como afirmou Celso Roth. Acordar sim, já que vem atuando abaixo da crítica e longe daquele zagueiro que chegou em 2011. Talvez mordido pela situação e vendo a brecha, também atuou de forma irretocável, soberano pelo alto, comandando a defesa e marcando forte o bom atacante Barcos. O pênalti cometido, minha opinião, foi outro erro do árbitro. O próprio uruguaio deve saber que, caso mantenha o nível parecido como o apresentado diante do Palmeiras, volta a ser titular tranquilamente. O retorno de ambos os zagueiros e as alterações táticas no setor nos dão mostras de novas possibilidades dentro do próprio elenco para a sequência da competição.

Atuando com Tinga mais centralizado, o Cruzeiro ganhou um Montillo menos previsível, mais solto e flutuando pelo meio. Além da chegada do volante, que mesmo não sendo um primor na conclusão, dá opção nos movimentos ofensivos, deixando o argentino mais livre. Por diversas vezes vimos o meia buscar a bola por todos os lados do gramado, enquanto Tinga taticamente se colocava à frente, agredindo a defesa palmeirense, abrindo campo para o camisa dez. Boa sacada de Celso Roth, que conseguiu tornar o meio-campo menos engessado e mais útil, com os volantes responsáveis pela marcação e Montillo armando e tendo suporte para tal.

Mas nenhuma outra perspectiva se acendeu tão claramente quanto a de um ataque finalmente eficiente. A mesma só é possível com a manutenção de Wellington Paulista no banco de reservas. Não vou desperdiçar o parágrafo no jogador, mas sim enaltecer o quanto o ataque cruzeirense flui sem o mesmo. Sem as faltas patéticas, as reclamações constantes e as bolas bisonhamente perdidas, o ataque tem chances de marcar gols de bola rolando. Claro como água: a ótima partida de Wallyson pelos lados, imprimindo velocidade e opção de jogo, colocando Borges no seu devido lugar, dentro da área concluindo, não deve ser alterada com o retorno do artilheiro dos pênaltis. Apesar das chances perdidas para matar o jogo, vimos um ataque com cara de ataque e não mais dois cones do DETRAN atrapalhando um ao outro. Sem Wellington Paulista, o ataque do Cruzeiro marcou gols e se movimentou como todos os ataques das outras equipes no mundo, uma inveja particular que tinha eu. Além do fato de termos visto um Wallyson que estava desaparecido voltar com boa atuação, como nos primeiros tempos de 2011. Com movimentação constante e servindo os companheiros, alternou os lados do campo e buscou o jogo como manda o manual do bom ponta, ressurgindo de forma salutar no momento que o time mais precisa do seu estilo de jogo.

Foram mais do que os três pontos conquistados no domingo. A sensação de que finalmente o time certo vai aparecendo foi coletiva entre os vários torcedores com quem conversei. É preciso saber enxergar as deficiências e trabalhar em cima delas, buscando soluções alternativas como vimos ser feito na última partida. Ao mesmo tempo, novas opções dentro do próprio grupo vão aos poucos (re) surgindo, abrindo maiores possibilidades na mão do treinador e fortalecendo a equipe. Novas perspectivas, para um Cruzeiro ainda irregular, mas que aos poucos, vai achando o caminho certo.

Maior que o Cruzeiro, nada.
Forte abraço!

Foto: VipComm


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