Distorções e irresponsabilidade


Observando o noticiário esportivo do Cruzeiro nos últimos dias e lendo comentários de torcedores, vi o burburinho de que Mano Menezes havia declarado publicamente a necessidade de contratação de laterais para 2017. Apesar de concordar parcialmente com essa suposta visão do comandante, de que precisamos de novidades no setor, comentários dessa natureza não me pareceram verídicos, por não serem condizentes com o perfil de entrevistas de Mano. E a minha suspeita estava acertada, olhando a íntegra do que o treinador disse a respeito das alas celestes.

“Foi um setor onde a gente, na minha opinião, não produziu satisfatoriamente para o nível que a gente precisa. Isso também se deve a escolha do jeito da equipe jogar até certo tempo. O Paulo (Bento) armava uma defesa diferente do que eu armo. Fechava muito a linha de quatro, nossos laterais ficavam um pouco ou bastante expostos no enfrentamento de um contra um. Na inversão da bola, os atacantes do adversário recebiam a bola com muito espaço para progredir e avançar em direção a nossa área e isso tirou a confiança de nossos laterais. Isso criou um problema na temporada, que já corrigimos em parte, mas precisamos recuperar. Não é só uma questão de nome, mas do jeito da equipe jogar”.

Essas foram as palavras do técnico, que em nenhum momento falou em novas peças. Concordo quando o treinador ressalta essa mudança do time no período Paulo Bento. Era notório que havia um distanciamento entre a linha defesa e o meio-campo, o que criava uma frouxidão no sistema de marcação. Jogadores como Marinho, do Vitória, Marcos Guilherme, do Atlético-PR, e Maranhão, do Fluminense, deitaram e rolaram pra cima do nosso time usando esse espaço. E não estou aqui falando de grandes craques. Um jogador rápido e minimamente habilidoso conseguia dinamitar nosso sistema defensivo.

A torcida está muito mal-acostumada, viciada até, em uma cultura de contratar e descartar. Falta aí a compreensão do quanto dinheiro é gasto e da quantidade de partes envolvidas em cada negociação. Comprar um jogador, não ter paciência com sua adaptação e querer se livrar dele após 6 meses, 1 ano, é um dos maiores motivos pelo qual os times brasileiros vivem sufocados em dívidas. Nenhuma instituição suporta um modelo tão irresponsável. É burrice promover uma reformulação no plantel por ano. O próprio Marinho, supracitado, saiu daqui enxotado, após menos de 6 meses no clube. E com alguns lampejos de bom jogador, especialmente quando o nosso (des)treinador era o Luxemburgo. Falta paciência com muita gente.

Neste texto, não falarei em nomes. Guardarei esta análise para uma próxima oportunidade, mas já adianto que dispensar e contratar provavelmente não será a solução. Se fosse simples assim, não teríamos visto tanta rotatividade de atletas e nenhuma credibilidade. É hora de entender o mercado, ter critério, saber aproveitar bem o elenco e só gastar em gente que vá resolver o problema de fato. Ao contrário de outros clubes por aí, dinheiro no Cruzeiro não brota em árvore e, infelizmente, não encontraram uma jazida de petróleo abaixo da Toca. Não é só planejar: é planejar bem e executar com precisão. Só assim para o Cruzeiro voltar a se comportar em campo com a grandeza que o mundo inteiro reconhece.

Por: Emerson Araujo