Comprometimento e trabalho – muito trabalho!


“Pedirei 100% todos os dias, pois vivemos disso, não fazemos outra coisa. Quem não dá tudo, não dá nada, é como dizemos no meu país.”

Paulo Bento, novo treinador do Cruzeiro, foi apresentado na última segunda-feira. Sua entrevista coletiva foi interessante em diversos aspectos, mas nada foi tão marcante quanto esta frase. O seu envolvimento com o trabalho, sua disciplina e sua disposição, marcas ressaltadas por diversos comandados em outros tempos, serão fundamentais para resgatar o bom futebol, que anda sumido na Toca da Raposa.

Ninguém questiona a necessidade que o Cruzeiro tem de se reforçar. Contudo, sabemos que o atual elenco é capaz de se apresentar em um nível muito maior do que nas últimas partidas. Jogadores como Mayke, Henrique, Arrascaeta e Willian, por exemplo, têm rendido muito abaixo do que renderam em momentos anteriores. A recuperação que todos eles precisam passa, diretamente, pelo dia-a-dia de treinamentos, o principal pilar para a retomada de confiança de qualquer jogador. Paulo Bento, como demonstrou na sua entrevista coletiva, conhece o elenco celeste e, com trabalho, pode auxiliá-los a retomarem as boas atuações individuais mas, principalmente, coletivas.

Na parte coletiva, aliás, temos muito a avançar. Ao final da temporada passada, as coisas pareciam mais claras neste aspecto, mas a saída de Mano Menezes e a aposta infrutífera em Deivid nos fizeram voltar muitos passos atrás. O Cruzeiro continua com muitas dificuldades quando precisa propor o jogo, não consegue se organizar no meio-campo e a transição ofensiva de qualidade é inexistente. É claro que não espero milagres de Paulo Bento, já que o Cruzeiro ainda carece de reforços de qualidade, mas acredito que teremos uma evolução na aplicação tática e um maior volume de jogo. O foco do seu trabalho nos primeiros dias, pelo menos naquilo que foi liberado para a imprensa, foi justamente esta parte. Não há nada tão fundamental quanto o trabalho diário para uma mudança de postura neste aspecto.

Mas o trabalho do treinador não é feito sozinho, e ele vai precisar da ajuda dos jogadores para que as coisas mudem. É necessário, primeiramente, que haja um comprometimento do elenco na assimilação das ideias do novo treinador. A rotina de trabalho é intensa, incluindo alguns treinamentos em dois períodos e sempre pela manhã, incluindo no domingo, cerca de 12 horas após a partida contra o Figueirense. E não só na questão dos treinamentos, ou da forma de trabalho: o conhecimento prático, aquele aplicado para colocar a bola dentro do gol, vai ser de suma importância para o sucesso da equipe. O envolvimento com o Cruzeiro, com o clube que paga seus salários, deve alcançar um outro patamar, é aí que entra a importância da frase em destaque no início deste texto, dita pelo treinador na sua coletiva de apresentação. Paulo Bento declarou, com todas as letras: quem não der o seu melhor pelo clube, não estará apto para jogar. Quem não se comprometer diariamente, quem não se esforçar ao máximo todos os dias, não terá o privilégio da titularidade inquestionável. Comprometimento é o mínimo que a torcida pode exigir. Nesta declaração, o treinador português marcou um gol de placa.

Não posso enxergar o futuro e dizer se vai ou não dar certo. Entretanto, analisando o pontapé inicial de Paulo Bento na Toca, acredito que podemos ver um Cruzeiro mais organizado em campo. Trabalho, pelo menos, não há de faltar.

 

Foto: Pedro Vilela/Light Press

 

Por: Pedro Henrique Paraíso