Como uma luva no time do Cruzeiro…


Como uma luva no time do Cruzeiro... - Fotos: Vipcomm - Cruzeiro Esporte Clube

Quando fechada a negociação de Diego Souza com “Mundo Ucraniano”, muito se argumentou sobre a decisão da diretoria celeste. Como tudo na vida, os prós e contras foram levantados de imediato: desmanche do time, Diego Souza não vinha jogando nada, falta de ambição da diretoria, etc. As vozes escoavam alto e era preciso parcimônia para entender a jogada; deixar o lado torcedor de lado e ligar o sentido crítico. Além de muito feliz pela grana que entrava nos cofres celestes, vibrei com a chegada do então contrapeso da negociação, o atacante William. Aliás, vibração no sentido mesclado da palavra, algo como expectativa e vislumbre de potencial, tudo junto. Chegamos ao final do 1º turno do Brasileirão como líderes e cientes de que ganhamos um verdadeiro reforço.

William despontou no Corinthians em um esquema similar ao que atuamos hoje; era o jogador agudo de Tite, que buscava o jogo, recebia a bola e criava as jogadas, aliando a essas funções a compostura diante do gol. Na equipe paulista ele já demonstrara que essa função do lado do campo era a sua mais rentável. No Cruzeiro não tem sido diferente. Após um início devagar -normal para qualquer jogador que é colocado em um sistema já em funcionamento – William vai se encaixando cada vez mais na equipe titular e crescendo de produção. Essa crescente tem feito o ataque cruzeirense ainda mais perigoso, um incomodador de defesa literalmente. Mas não para por aí. A contribuição do atacante tem melhorado todo um aspecto tático de um esquema já bem implantado na filosofia da equipe.

Segundo dados do portal Whoscored.com, referência em estatísticas, William tem provado em campo o quanto se tornou importante para essa equipe. Taticamente, é um jogador versátil: inverte os lados de atuação, assim como pode atuar na faixa central, recebendo dos volantes para buscar a penetração ofensiva. Contra o Bahia foi possível notar bem essa movimentação e alternância. Postada com três zagueiros, foi preciso jogar nas costas dos alas e confundir a marcação dos beques para alcançarmos a meta adversária. A trama do primeiro gol retrata um William participando pelo flanco esquerdo, dando opção ofensiva a Egídio e cruzando para o peixinho de Borges terminar na rede.

Em se tratando de números, outro reflexo do ganho da equipe com William em campo. Pelo Brasileirão o jogador atuou em quatro partidas como titular e outras quatro vindo do banco. Naquelas em que foi escalado de início, anotou um gol e deu duas assistências. Além disso, completou impressionantes 90% dos passes que tentou – perdendo apenas para Lucas Silva dos atuais titulares- tendo em média 25 por partida. Isso diz muito se entendermos que o Cruzeiro é um time que precisa da bola para ter sucesso em seu esquema. Uma vez com ela, é preciso trabalhá-la com qualidade para criar oportunidades. Uma porcentagem de acerto tão alta indica função tática bem-feita, oxigenando e municiando a equipe. William também apresenta uma média de dois passes-chave por jogo; aqueles em que o jogador cria para uma finalização concreta do companheiro. Nesse quesito ele só perde para Éverton Ribeiro, com três. Menção honrosa para o ganho em intensidade e velocidade da equipe com o jogador em campo.

Defensivamente, ele também vem desempenhando bom papel. É o segundo melhor jogador ofensivo que mais contribui lá atrás, com média de dois desarmes por partida, além da marcação pressão exercida na saída de bola adversária. Pelos lados, William só não tem apoiado mais que Egídio, mas ostenta a boa marca de dois cruzamentos certos por partida. É preciso levar em conta aqui que o Cruzeiro não faz da bola alçada sua característica mais forte, ao menos quando os lances são de bola rolando.

Toda essa numeralha é uma tentativa de demonstrar para o amigo leitor um pouco mais do que os olhos atentos estão percebendo. A entrada de William no time principal elevou a qualidade em diversos aspectos e proporcionou dentro de campo maiores recursos. Sua evolução individual vai acompanhando a coletiva, o que é mais importante. Talvez lhe falte ainda maior poder de definição, concluir mais em gol, como fazia frequentemente no Corinthians. Em sua defesa, é notável que ele tenha abrido mão dessa característica muito em prol da necessidade de encaixe do jogo coletivo celeste. A causa é válida e vem sendo executada com talento. Se tínhamos na cabeça um esboço de time para essa altura da temporada, certamente William não estava nos planos. Mas hoje está e vem agregando demais ao futebol da equipe, provando dentro de campo que merece ser titular. A expressão “encaixar como uma luva” justifica, quase em termos literais, o atual momento de William no Maior de Minas.