A verdade dói, mas pode ser benéfica


Fico chateada quando leio e ouço comentários de torcedores cruzeirenses tentando depreciar a imagem de um atleta como Gilberto, depois da entrevista dada ao jornalista João Vitor Xavier da rádio Itatiaia. Não pelo atleta em si, porque este já mostrou dentro de campo que é um vencedor, mas por perceber que o torcedor mostra-se parvo quando deveria encarar a realidade. Mas esta atitude apenas reflete a sociedade em que vivemos onde é muito fácil criticar o outro e negar as próprias falhas.

Aos que acham que o atleta deveria dar nome aos bois, eles foram dados. Roger, Dimas Fonseca, Benecy Queiroz e Valdir Barbosa foram citados durante a entrevista. Como diz o ditado, “para quem sabe ler um pingo é letra”. Ou alguém tem dúvida de quem disse “acho melhor a gente não jogar a Libertadores. Jogar a Copa do Brasil que é um caminho mais fácil, porque o Cruzeiro é copeiro e terá mais facilidades”? Pelo nível dos atletas dispensados e dos jogadores contratados é óbvio. O mais interessante é perceber que Gilberto tem mais noção da grandeza do Cruzeiro que as pessoas que o comandam.

Roger, hoje contestado por grande parte da torcida celeste, teria sido o responsável indireto pela saída de Gilberto. Acredito que tenha sido melhor para o meia na ocasião, já que as cobranças sobre ele eram inúmeras e pesadas, mesmo não sendo o único responsável pela má fase da equipe, mas para o Cruzeiro não. Gilberto, enquanto esteve no clube, se mostrou muito mais importante dentro de campo que o “craque da galera”. Alguém vai dizer que Gilberto se machucava muito e jogava pouco. É um fato, assim como ele, quando jogava, era muito mais produtivo e eficaz que Roger, que também vive no departamento médico. O mesmo raciocínio serve para o volante Fabrício.

Gilberto disse claramente também quais eram os jogadores que não fugiam da raia e encaravam a torcida nos momentos mais delicados. Deu o exemplo do jogo contra o Palmeiras em São Paulo. Apenas ele, Leo, Leandro Guerreiro e Fábio tiveram coragem para encarar as cobranças. Os outros? Queriam ficar em São Paulo ou ir para o Rio de Janeiro. É preciso ser mais claro que isso? Realmente é necessário dizer os nomes dos que se acovardaram? Acho que não. O pior é que quase todos ainda estão aqui.

A única coisa que me incomoda nessa entrevista é o atraso. Ela deveria ter acontecido na sua saída. Irrita-me muito no futebol a falta da verdade na exposição dos acontecimentos. Fatos acontecem e jornalistas não podem revela-los por falta de provas. Se não tiver uma fonte, alguém que confirme a informação, não é publicado. Lamentável, porque milhares de pessoas são feitas de idiotas e pagam para isso. Acredito que o conteúdo da entrevista não surpreendeu quem acompanha a Raposa, mas muitos torcedores estão indignados com a declaração, tentam diminuir o jogador, com comentários do tipo: “jogador em fim de carreira que quer aparecer na mídia”, “despeitado” ou “serve apenas para dar notícia à mídia atleticana”. Recuso-me a fazer uma análise tão superficial diante de tantos erros cometidos pela direção do clube há algum tempo.

As declarações deveriam gerar reflexões, principalmente por parte da diretoria celeste. Gilberto saiu em setembro do ano passado, mas os problemas daquela época persistem na Toca II. Fazendo uma conexão entre a entrevista de Gilberto e a negativa de Adilson Batista ao clube para retomar o comando técnico do time fica fácil imaginar que Roger é um problema dentro do grupo. Passou da hora do jogador deixar o clube. Que torcedor está satisfeito com o elenco atual? Quem ficou satisfeito com o futebol apresentado em 2011? NINGUÉM! As mudanças são lentas e, pelo que parece, teremos um ano tenso como ano passado durante o Campeonato Brasileiro.

A china azul tem opções. Pode continuar como uma vaquinha de presépio, aceitando tudo que convém a ela, aceitando os elogios e brigando com quem a contraria. É mais fácil achar que quem não está ao seu lado é seu inimigo. Ou pode aproveitar situações como esta e tentar virar o jogo. Cobrar mudanças e tentar levar o Cruzeiro ao lugar que ele está acostumar a ocupar, o topo da tabela.
Abra o olho torcedor! Deixe o papel de coitado para outros. Veja o lado positivo das críticas e faça dele objeto do crescimento do Cruzeiro.

Na verdade Gilberto não disse nada que qualquer torcedor já não saiba. O difícil é aceitar que alguém de “fora da casa” faça o que deveria ser feito por quem está dentro.