A dinastia do Guerreiro


A dinastia do Guerreiro

Bons tempos aqueles em que ir ao Mineirão e gritar ‘Guerreiro’ era sinônimo da presença do volante Ramires em campo. O jovem que veio totalmente desconhecido em 2007 se firmou, cresceu, apareceu e se tornou um dos melhores jogadores brasileiros da atualidade. Saiu do clube em 2009 em momento conturbado por perda de Libertadores, mas nos dois anos em que defendeu a camisa do Cruzeiro, não acho que possamos fazer grandes queixas. Deu retorno técnico e financeiro, conquistando no período apenas dois estaduais, mas deixando as portas do clube abertas para um possível retorno no futuro.

Mas quando um craque se vai, a torcida normalmente vê a necessidade de preencher essa lacuna, muitas vezes colocando um jogador de nível mediano em um status que não corresponde a sua qualidade. E a torcida do Cruzeiro começou a passar esse canto de guerreiro para outros jogadores, numa clara tentativa de se identificar melhor em campo. O primeiro a receber a honraria, foi Fabrício. No entanto, após o épico 6×1 de dezembro de 2011, o volante acertou sua saída do clube e deixou a vaga. Nesse momento, caiu no colo do meio campista Charles a alcunha ‘sagrada’. Mas com uma série de más exibições, também não se firmou e acabou sendo emprestado para o Palmeiras em negociação pelo atacante Luan.

Depois de dois tiros n’água, o eleito é aquele que já traz Guerreiro no nome. Com 33 anos de idade, duas temporadas no clube e 100 jogos recém-completados com a camisa Celeste, Leandro não está nem perto de merecer alguma honraria. Considerado por muitos o elo fraco do time na temporada, parece ter um prestígio interminável com o treinador Marcelo Oliveira. Dos 14 jogos na temporada, não atuou em apenas dois. Mas pouca gente sabe qual foi a primeira vez que o destino colocou o atleta no caminho do Cruzeiro.

Um sábado a tarde, dia 02/12/2000. Cruzeiro e Internacional duelavam no Mineirão pelas quartas de final da Copa João Havelange. O Cruzeiro precisava da vitória para avançar na competição e o confronto estava empatado em 2×2. Próximo ao fim da partida, o volante Leandro Guerreiro, até então uma jovem promessa do Colorado, protege uma bola para saída pela lateral do campo. Geovanni, passa por fora da linha lateral, toma-lhe a bola e aciona Fábio Júnior no meio da área, que marca o gol da vitória e classificação. Infelizmente não tivemos uma sequência vitoriosa no torneio, sendo eliminados pelo Vasco na semifinal. Mas o lance selou o destino do atleta no clube que o revelou, sendo dispensado ao fim da temporada.

Muitos anos se passaram e hoje, Leandro Guerreiro é o primeiro da lista de contestáveis em um time cujo aproveitamento beira a perfeição. Não consigo estabelecer uma lógica para essa utilização de um volante cuja capacidade de desarme e o vigor físico estão longe de ser um primor. A experiência é o grande ponto a seu favor, visto que as outras opções disponíveis (Lucas Silva e Uéliton) carecem de maior rodagem. Henrique, que parecia fadado a titularidade, passou por nova cirurgia e ainda não tem previsão certa de retorno aos gramados. A grande questão passa por como o camisa 55 vai se portar durante os jogos mais complicados, já se iniciando pela provável decisão do estadual, frente ao Atlético-MG. Na primeira fase, o mais velho jogador da equipe titular cometeu falhas infantis, culminando numa expulsão que quase nos custou o resultado.

Ter um primeiro volante contestado e campeão não será novidade. Augusto Recife que o diga. Torçamos para que o jogador se acerte e volte a apresentar o futebol das últimas rodadas do Brasileiro 2011, quando um Guerreiro cabeludo liderou um sistema defensivo fraco a se acertar nas rodadas finais e nos livrar de um rebaixamento que parecia certo. Que ao fim dessa temporada, a falha dos tempos de garoto, na finada Copa João Havelange, seja apenas um episódio esquecido no tempo, e que tenhamos lembranças bem mais ricas da contribuição de Leandro Luchese Guerreiro para nossas páginas heroicas e imortais.