A arte de ‘cornetar’


Salve, China Azul!

‘Cornetar’: uma palavra bastante utilizada no meio futebolístico. Trata-se, basicamente, de criticar, no sentido mais irritante da palavra. A intenção é pegar no pé mesmo, e independente se o jogador ‘cornetado’ tenha apresentado um bom futebol nas últimas apresentações, basta uma má atuação para tudo ir por água abaixo. E nem adianta discutir, já que o ‘corneteiro’ sempre tem razão.

Na maioria das vezes, estes torcedores ultrapassam os limites da coerência. Nesta altura da temporada, com o time celeste em reconstrução e onde há muito o que acertar (ninguém questiona isso), eles tendem a aparecer em maior quantidade e intensidade. O alvo não varia muito; é, geralmente, um jogador brasileiro e de pouca grife.

Vamos aos fatos. Um dos jogadores mais criticados pela torcida do Cruzeiro nesta temporada é Marquinhos. Sinceramente, eu não entendo o porquê. Não que eu o considere um craque, o melhor jogador da equipe, um primor em todos os fundamentos; todavia, é nítido que ele é um dos jogadores que mais tem se esforçado, lutado e aparecido nesta temporada.

No 4-2-3-1 usado pelo Cruzeiro, Marquinhos é um dos pontas, cuja obrigação é fazer a marcação pela lateral, sem perder a alternativa da velocidade no ataque. Os pontas são a válvula de escape, importantíssimos para o sistema. Por muitas vezes, durante os jogos, ele faz a sua função e ainda tenta ajudar na saída de bola, buscando trabalhar próximo aos volantes para qualificar um pouco mais o passe. É sua função? Obviamente, não. Mas quando há alguma necessidade, ele se apresenta, e não tem medo. Mesmo que hajam erros, fica notória a vontade, a entrega do jogador para que o esquema flua de uma forma mais satisfatória.

Ao contrário do que a maior parte da torcida fazia com Dagoberto, por exemplo. Na segunda metade da temporada do ano passado, principalmente, o nosso ex-camisa 11 apenas fingiu: fingiu que jogou, fingiu que se dedicou, fingiu que treinou… Além disso, ainda dava declarações na imprensa questionando as escolhas do treinador, ao invés de trabalhar mais para estar em condições de participar mais ativamente dos jogos. Mesmo com todas estas circunstâncias, era um nome amplamente gritado pela torcida em todos os jogos no Mineirão, e a sua saída foi criticada por boa parte da torcida (em sua maioria, os mesmos que criticam a voluntariedade do Marquinhos).

A ‘cornetagem’ tem sido tão absurda, que tem até atingido o técnico Marcelo Oliveira –não, eu não estou brincando. Já li e ouvi torcedores que voltaram a questionar o técnico bicampeão brasileiro, e de maior aproveitamento da história do clube, com 72,1%. Os argumentos são fracos, mas essa ala da torcida insiste que o treinador “já deu o que tinha que dar”. Chega a ser impressionante.

Não, amigos, não quero por este texto dizer que está tudo bem com o Cruzeiro. Estamos nos moldando aos poucos, partida por partida, e é normal que hajam altos e baixos, tanto na individualidade, quanto no conjunto. Entretanto, não devemos apenas criticar por criticar, mas sim analisarmos a função de cada um em campo, se o seu cumprimento está sendo bem-feito e se o jogador tem se dedicado a realizar de forma satisfatória este cumprimento. Em competições como a Libertadores, muitas vezes, a transpiração ajuda mais do que a inspiração (vide a última quinta, contra o Mineros).

A ‘cornetagem’ é cega e bastante limitada. Aos torcedores cruzeirenses que tem um amigo ‘corneta’, por favor, os ouçam, mas não discutam e nem deem muita atenção. Não adianta.

Não vamos deixar de ser críticos, não vamos aceitar toda e qualquer coisa, mas que tenhamos bom senso, até quando não estivermos satisfeitos.

Saudações celestes!

Por: Pedro Henrique Paraíso