16 anos de uma conquista


16 anos de uma conquista - Cruzeiro Esporte Clube

13 de agosto de 1997. Há 16 anos, um chute de fora da área dava o bicampeonato da Libertadores da América ao Cruzeiro. O herói do jogo foi Elivélton, que contou assim, para o livro Anos 90: Um Campeão Chamado Cruzeiro, a façanha celeste:

A conquista da Copa Libertadores de 1997 marcou minha carreira. O curioso é que eu estava praticamente contratado pelo Atlético-MG quando o Cruzeiro foi me buscar para a disputa da competição. A possibilidade de disputar mais uma Libertadores me seduziu. Fui, então, para a Toca da Raposa com a certeza de que seria feliz. O Cruzeiro havia mantido a boa base de 1996. Eu fui um dos poucos contratados no início do ano. O grupo me recebeu muito bem, o que colaborou para a minha rápida adaptação. No começo da temporada, fiquei um período no banco de reservas, mas logo ganhei a oportunidade que desejava. Dali em diante, não perdi mais a titularidade. Na nossa estreia na competição, enfrentamos o Grêmio, no Mineirão. Para surpresa de todos, perdemos por 2 a 1. O Oscar Bernardi, que vinha fazendo um bom trabalho, foi demitido e, para o seu lugar, chegou o Paulo Autuori. Ele motivou o grupo, que estava assustado com a derrota em casa, na estreia do torneio. Ele resgatou a autoconfiança do elenco. Já sob o seu comando, fomos para o Peru, para as duas partidas em Lima, contra Alianza e Sporting Cristal. Novamente, perdemos. Mas, dessa vez, não houve desespero nem mesmo com as duas derrotas. O professor Paulo Autuori nos fez crer que toda aquela situação seria revertida. Sua liderança e comando frente ao elenco foi impressionante, assemelhando-se a de um chefe de tribo. Perante a imprensa, ele assumiu toda a responsabilidade.

 Visava, com isso, nos poupar dos efeitos das derrotas. Concentramo-nos no jogo de volta contra o Grêmio, em Porto Alegre. Essa partida era a nossa prova de fogo. Precisávamos vencer a qualquer custo. As dificuldades, porém, eram enormes. O estádio estava lotado. O Grêmio, com força máxima, queria nos vencer, inclusive para que fôssemos eliminados prematuramente da competição. Afinal, temiam a possibilidade de nos enfrentar na fase de mata-mata. Foi um jogo emocionante, no qual jamais me esquecerei. Logo no início da segunda etapa, fiz uma jogada pela esquerda, livrei-me do marcador e cruzei para o Palhinha dentro da área, que marcou o gol da vitória. O que era impossível para muitos aconteceu: a vitória do Cruzeiro em pleno Olímpico. Foi o primeiro passo rumo ao topo. Vencemos também os jogos contra os peruanos no Mineirão, o que assegurou a segunda colocação no grupo e a classificação para as oitavas de final. Enfrentamos, nessa fase, o El Nacional, do Equador. Em Quito, perdemos por 1 a 0. Voltamos confiantes que alcançaríamos o placar necessário para a classificação. Como esperado, fizemos dois gols, na segunda etapa, que nos asseguravam a passagem para a fase seguinte. Porém, o futebol prega peças e, no último minuto da partida, fomos surpreendidos com um gol dos equatorianos. A partida foi para os pênaltis. Embora inesperado, não nos abatemos com o gol. Sabíamos da qualidade do nosso goleiro em defesa de pênaltis. Convertemos todas as cobranças e, na última deles, o Dida defendeu. Estávamos classificados. Pela frente, tínhamos novamente o forte time do Grêmio. A primeira partida foi em Belo Horizonte. O Mineirão estava lindo, todo azul. Logo no primeiro minuto da partida, marquei um gol que balançou o estádio. Não sabia para onde correr, de tanta alegria. Continuamos na pressão para marcar mais um e, nesse embalo, conseguimos o segundo, com o Alex Mineiro. O resultado deixou a torcida eufórica e a imprensa sem entender como um time dado como morto ressuscitou daquela forma. Porém, a classificação para a semifinal não estava garantida. O jogo em Porto Alegre, como prevíamos, foi um peleja. Estávamos muito concentrados para a partida e cientes de que, possivelmente, o campeão sairia daquele confronto. No segundo tempo, marcamos na frente, com um gol do Fabinho, que estava machucado. Mas, em 12 minutos, o Grêmio virou. Sofremos mais de 15 minutos de pressão. O professor Autuori havia nos preparado para essa situação. Seguramos, então, o placar que nos colocou na semifinal. Fico arrepiado, ainda hoje, ao lembrar desse momento. O Colo Colo, do Chile, foi nosso adversário na semifinal. Pra variar, foi um duelo duríssimo, que só se decidiu nos pênaltis. Na primeira partida, no Mineirão, tivemos uma vitória magra, por 1 a 0. Partimos, então, para Santiago, focados na conquista da vaga para a final. O time chileno, por sua vez, entrou em campo determinado a reverter o resultado negativo de Belo Horizonte. E até então estava conseguindo. Perdíamos o jogo quando um fato lamentável ocorreu. Estava chovendo muito no estádio. Enquanto me preparava para bater o escanteio, um torcedor atirou um guarda-chuva em minha direção. Sem pensar, devolvi para a arquibancada. O juiz não vacilou: tirou o cartão vermelho e me expulsou. Na mesma hora, lamentei o ocorrido. Perdíamos o jogo e, com a minha expulsão, estávamos em desvantagem numérica em campo. Meus companheiros ficaram bravos comigo, dizendo que agi ingenuamente. Graças a Deus, tínhamos um guerreiro chamado Cleisson, que marcou o gol salvador. A partida foi, então, para os pênaltis e, mais uma vez, o Dida foi o grande herói. Vencemos e, mais que isso, estávamos na finalíssima do torneio de clubes mais glamouroso da América. No vestiário, senti um alívio inexplicável com a classificação, pois, se perdêssemos, certamente eu seria responsabilizado. Comemoramos muito. Nosso retorno ao Brasil ocorreu com muita brincadeira e descontração no avião. O adversário da final era conhecido na competição: o Sporting Cristal. Na partida de ida, em Lima, vivi um drama. Fui obrigado a acompanhar o jogo pela televisão. Em certos momentos, a vontade era de desligar o aparelho para acabar com a aflição de não poder colaborar. Mas meus companheiros foram guerreiros e conseguiram um excelente empate no Peru. Chegou, então, a finalíssima, no dia 13 de agosto. O torcedor cruzeirense preparou uma festa de gala no Mineirão, com mais de cem mil presentes. Entrei em campo com minha filha, a Stéfani, o que foi uma emoção à parte. Com ela no colo, não pude deixar de me emocionar com a festa daquela torcida apaixonada. Quando o jogo começou, tentamos impor nosso ritmo e partir para o ataque em busca do gol, mas o time peruano surpreendeu com sua postura em campo. Muitos comentaram depois que o Cruzeiro estava nervoso naquela primeira etapa, porém a verdade é que não esperávamos ver o Sporting Cristal jogando tão bem. Tanto é que, ao final da partida, a pequena torcida deles aplaudiu-os de pé, reconhecendo a garra do time. Voltando ao jogo, descemos para o vestiário cientes de que os últimos 45 minutos seriam de tensão. A partida reiniciou, e as dificuldades continuaram aparecendo. O Sporting Cristal assustou no meio da segunda etapa, com uma cobrança de falta bem executada, em que o Dida deu rebote. Na sequência, um jogador peruano, à queima roupa, chutou contra a nossa meta. Nossa sorte era que o Dida sempre foi diferenciado e realizou o milagre de defender aquela bola. Não demorou muito e veio o grande momento. Após uma cobrança de escanteio, a zaga peruana rebateu a bola, que sobrou na entrada da área. Sem medo de ser feliz, enchi o pé direito, que não é o bom. A bola foi passando pelos jogadores de área, pelo goleiro, até estufar a rede. Saí correndo. Fui primeiramente abraçar o Dida e, em seguida, meus companheiros de linha. Só não voei porque já estava sem perna de tanto que corri em comemoração ao gol. Quanta emoção! Ergui as mãos aos céus, agradeci a Deus por aquele feito grandioso. Eu não via a hora de a partida acabar. Com o apito final, veio a certeza: dali em diante, para sempre, meu nome estaria gravado na história do Cruzeiro. Comemoramos muito. Foi uma competição em que todos nos consideravam eliminados, mas com garra, luta e perseverança, superamos os desafios e alcançamos o título. A Libertadores de 1997 foi, sem dúvida, o título mais emocionante da minha carreira. Guardo, ainda hoje, muito carinho e amor por esse Clube, que marcou minha vida de uma forma tão positiva. Valeu, Cruzeiro!