07 jan Velha roupa colorida
Após um começo de ano bem desanimado por conta da falta de contratações galácticas com as quais sonhamos todo santo ano, vou começar minha participação em 2010 nesse distinto site falando de moda. Nesse caso, na falta de critério de moda na camisa do Cruzeiro.
Zezé Perrela e companhia limitada que não pensem que eu vou gastar a bagatela de R$159,90 pelo estrago completo que fizeram no nosso manto sagrado. Com muita tristeza eu digo isso, mas é verdade: não consigo pensar em como poderia ficar pior esse tanto de propaganda. Nossas cores, azul e branca, estão sendo sujadas por outras cores nada a ver, e o resultado ficou esdrúxulo. 2010 será mais um ano em que iremos ao Mineirão com nossas camisas de outros anos, fazendo propaganda para antigos patrocinadores, porque o plantel “marketing do clube + novos patrocinadores” não está disposto a colaborar.
Vi nas últimas semanas uma manifestação ferrenha da torcida cruzeirense contra o novo modelo de camisa, e nessa hora chego a amar as redes sociais, por isso. Agora temos vez e voz para reclamar do que não nos agrada, e devemos fazer isso sempre que necessário. Muita gente acha que esse negócio de reclamar do alaranjado de um dos patrocinadores é fazer muito barulho por nada. Mas nossa torcida é exigente por natureza – e, francamente, quem teve em 2008 a camisa considerada a mais bonita do campeonato brasileiro, pela Playboy, não deve se contentar com nada menos. (E, pra quem não se lembra, a Playboy não é uma revista só de mulher pelada; é uma das publicações com conteúdo jornalístico mais respeitado do país, e, sua matriz americana, do mundo.)
Nas redes sociais vi um manifesto interessantíssimo que mostrava camisas de vários outros times onde os patrocinadores adaptaram a cor de suas marcas ao modelo da camisa. Perto de nós, temos o exemplo do Palmeiras com a Pirelli. A marca, originariamente vermelha (como pode ser vista no site oficial), teve sua versão branca na camisa dos porquinhos. Outros modelos podem ser facilmente achados pelo orkut e twitter. Não precisamos ir longe: nosso próprio Cruzeiro já teve a marca da Coca Cola, mundialmente vermelha ou branca, impressa até em azul no nosso manto sagrado branco. Agora, vamos combinar: em se tratando de marcas, quem é BMG/Ricardo Eletro perto da Coca Cola?
Adaptar a cor de uma marca – e os publicitários podem me corrigir, se estiver errada – não é uma questão apenas de estética, é também uma questão de respeito ao produto em que a marca vai se instalar. A camisa de um clube de futebol é sua principal identidade, e sua flâmula não pode ficar perdida dentro de uma imitação barata de caixinha de lápis de cor. Além de tudo, ainda pode criar uma certa aversão de determinado grupo social – neste caso, da torcida específica. Eu, além de definitivamente não comprar essa nova camisa, também vou pensar duas vezes antes de entrar nos estabelecimentos comerciais dos patrocinadores que escondem em suas paletas de cor as minhas cinco estrelas do peito.
Já teve a polêmica do valor das marcas Cruzeiro e Frango, e não basta ainda ter os mesmos patrocínios da turma do galinheiro, ainda temos que nos contentar com um produto esteticamente feio? Me ajuda aí. É claro que eu não espero que nossas camisas sejam estilo São Paulo Fashion Week, mas um pouco de respeito ao patrimônio não faz mal a ninguém, e nem tira dinheiro do patrocinador. Muito pelo contrário: chama atenção de quem vê a camisa e ainda conquista a admiração da torcida, que, a longo prazo, pode até pensar em boicotar a concorrência só pra dar uma forcinha àquele colaborador que nos agradou com a beleza adaptável de sua marca.