Ser ídolo


Outro dia, num texto do jornalista Chico Maia, li o depoimento dele falando sobre a “emoção, incredulidade e choro”, provocados em um torcedor cruzeirense pela simples presença de Sorín em um evento na cidade de Montes Claros. O que levou Chico a escrever sobre a cena é, segundo ele, a carência de ídolos nos dias atuais, de atletas identificados com clubes, coisa comum nas décadas passadas.

Ao fim do texto li também os comentários que seguiam. Muitos criticaram dizendo que a reação do rapaz é um exagero, já que Juampi, para alguns, não passou de um jogador “de pelada”, outros compararam o craque argentino a outros atletas do passado. Algumas opiniões simplesmente tentavam diminuir a importância e história do ex-atleta no Cruzeiro porque são de pessoas que torcem pelo rival.

Isso me levou a refletir sobre o que torna um jogador ídolo de uma torcida tão exigente como a cruzeirense. Mas não existe razão nas relações humanas. A vida não é uma ciência exata. O que em um atleta o destaca em outro pode não criar a mesma empatia. E tudo depende, no caso do torcedor, dos seus valores.

Primeiro, acho a comparação entre jogadores de gerações diferentes indevida. Jogar na década de 60, por exemplo, foi diferente dos dias atuais. Aquela foi a era do futebol romântico, onde pouco se ganhava por ser atleta e o que interessava era apenas jogar bola. Os jogadores passavam sua via de atleta praticamente dentro de um único clube, o que facilitava a identificação.

Para mim, ser ídolo vai além de conquistar títulos, tá aí o Pelé para não me deixar mentir, ganhou tudo com a Seleção Brasileira, mas passa longe de ser unanimidade no país, sendo inclusive muito criticado por suas atitudes fora das quatro linhas. Ser aclamado como o craque do momento pela mídia, menos ainda, Messi que o diga, como é difícil para ele conquistar seus compatriotas. Ser um cara politicamente correto não é diferencial, não é não Maradona?!

Feliz é o torcedor que tem o prazer de ver representando seu time pessoas como Zico e Sócrates, craques com a bola nos pés, bons de prosa, intelectualmente acima da média. E Sorín faz parte desse time. Pode até ser questionado quanto à sua qualidade técnica, mas argentino a gente sabe como é, quando não vai pela técnica coloca a garra em campo.

Como não admirar o Hermano vindo do país que tem a maior rivalidade com o futebol brasileiro? O cara que conheceu e respeita a história do maior de Minas e as coisas da nossa terra, nossa cultura? Um argentino que gosta de tango e cúmbia tanto quanto dos músicos do Clube da Esquina e Skank.

Sorín não tinha a elegância de Tostão, mas não é menos ídolo que ele. A identificação no futebol vai além do campo. É dessas coisas que não tem explicação, por isso Juan Pablo Sorín é ídolo e provoca reações que não podem ser exprimidas por palavras. Que bom que não “existe razão nas coisas feitas pelo coração”!