Pesado, difícil e místico


Pouquíssimas coisas no mundo do futebol se comparam a um jogo como Cruzeiro x São Paulo por uma competição continental. E não é porque rola catimba, rivalidade extrema e espírito de vingança por feitos do passado; é porque os dois times tem peso na camisa e respeito mútuo, coisa rara de se ver  entre duas entidades de suma importância para o futebol brasileiro. 

Um jogo contra o São Paulo é daqueles que dificilmente sabe-se o que vai acontecer durante os 90 minutos, e isso torna o “jogar contra o São Paulo” uma experiência reveladora do futuro, tanto para o time paulista quanto para o Cruzeiro.

Jogar contra o São Paulo é pesado. São títulos e mais títulos dispostos em campo, dos dois lados, cercando todas as posições. São dois times de tradição, de força. Copeiros. Enquanto o time paulista procura o tetra, nós sonhamos com o tri. Por isso, jogar contra o São Paulo enche os olhos dos amantes da Libertadores. A América, nesse jogo, se sente em casa. E é por isso que quem vence essa disputa torna-se sério candidato a levar o título: porque é aqui que a América quer estar.

Jogar contra o São Paulo é místico. E, como nos mitos, nas experiências mágicas, tudo pode acontecer. Um atacante imenso com coração forte pode marcar um gol no Gigante da Pampulha e, por alguns segundos, botar tudo a perder. Um jogador por muitos desacreditado pode chegar às terras distantes e fazer um “gol de anjo, verdadeiro gol de placa”, selando uma classificação que poderia ficar difícil se aquela inspiração não tivesse acontecido.

Jogar contra o São Paulo é difícil e, embora muitos digam que o time paulista anda naquela fase que ninguém merece, não chegou à toa às quartas da Libertadores. Um apagão no adversário em outras partidas não pode ser tomado como certo para essa, onde estarão em campo a vontade de apagar o passado por parte deles, e a sede de conquista dos nossos guerreiros. É preciso atenção, cautela, foco no objetivo, para que o inesperado não aconteça – a menos que o inesperado seja um gol “a la Henrique” para elevar ao panteão de ídolos outro jogador esquecido ou injustiçado.

Apesar de tudo isso, o jogo contra o São Paulo é apenas isso: um jogo. Muita gente aponta o Cruzeiro como favorito por causa dessa fase de vacas magras do adversário, mas a vitória se conquista em campo, jogando bola. A responsabilidade do Cruzeiro não é apenas vencer, porque vencer, inclusive, não vem a ser responsabilidade delegada. É objetivo máximo, é a única coisa que buscamos. A responsabilidade do Cruzeiro é mostrar aos mais de 50 mil torcedores em campo, e todos aqueles ao redor do mundo, do que somos realmente capazes. É ensinar ao São Paulo, com toda sua tradição e força, a jogar bonito. A jogar com garra. O jogo tem tudo para ser um grande show, e até mesmo os ilustres são paulinos sabem que o espetáculo, nesse caso, ficará por conta do Cruzeiro.

Hoje à noite, no Mineirão, estarão em campo duas realidades: o futebol bonito e o truncado, o que avança e o que espera pelos erros do adversário. Um grupo unido e um grupo que busca, a todo custo, achar a comunhão. Um técnico contestado, mas querido, e um técnico nem tão querido, e bastante contestado. No fim das contas, estarão em campo a vontade aguerrida de avançar, pelos nossos, e a necessidade inconteste de dar alguma coisa à sua torcida, pelos tricolores. A briga será de gigantes, e até o Mineirão ficará pequeno diante a tanta supremacia e força. Tomara que seja, como todos esperam, um jogo de encher os olhos. Resta saber se os deuses do futebol premiarão a consolidação de um trabalho ou o acaso; a competência ou a sorte. Ou ambos.

No começo do texto eu disse que esse jogo (na verdade, os dois jogos) é uma experiência reveladora de futuro para ambos os times. Se o São Paulo bater o Cruzeiro, terá batido o time que é, de longe, o melhor entre os brasileiros na competição. Mas se o Cruzeiro bater o São Paulo… será sublime. Será a certeza de que faltam dois passos, só mais dois passos, para que a América se sinta livre em Minas Gerais. Nós merecemos essa redenção, por tudo que nos foi vivido – e aprendido.

Portanto, encham o coração de esperança, acreditem nos guerreiros. Coloquem na balança o nosso merecimento e depositem fé nessa verdade. Nem sempre o melhor vence, mas sempre vence quem merece. Quem entra em campo com sangue nos olhos e faca nos dentes, com a vontade de um predador faminto que acabou de avistar a presa. Jogar contra o São Paulo pode ser pesado, difícil e místico. Mas jogar contra o Cruzeiro deve ser inexplicável. A força que a gente carrega nessa camisa tem que ser a mesma que carregamos dentro de nós, porque é ela que nos conduz avante.

Hoje, quando o Cruzeiro entrar em campo, façam suas preces, acendam suas velas, façam a mandinga, segurem-se no amuleto. Mas, principalmente, acreditem. Acreditem muito na nossa força, na nossa história e na nossa vontade. A nossa energia positiva atingirá os nossos guerreiros em campo e os levará ao topo do mundo, mesmo que por 90 minutos, que parecerão 900. Acreditem no suor dos 11 que embalam nosso sonho. E preparem-se para o show, porque ele virá. E será lindo.

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E se tudo der certo, como a gente acredita, amanhã é dia de respirar fundo e viver mais um capítulo da Libertadores da América. Vamos empurrar o Cruzeiro também no Morumbi, casa tranqüila, onde tenho certeza que seremos muito bem vindos, assim como receberemos bem os visitantes de hoje.

O @CruzeiroEC está organizando uma caravana top com ônibus de primeira e ingresso incluso. Só 150 dinheiros, baratinho, e é claro que meu nome é o primeiro da lista (hehehe). Os guris estão dando show na realização de eventos e é aquela galera em que se pode confiar de olhos fechados. Portanto, fica o convite para podermos participar, juntos, de mais essa batalha.

Nunca a frase “vou aonde você for só pra ver você jogar” fez tanto sentido. Não desperdice essa chance de ouro de mostrar para nossos guerreiros que estamos com eles, sempre, em todos os lugares. E, como inteligentemente diz @marcogontijo, “Libertadores não basta ver. Tem que viver”. Bora viver o Cruzeiro, então. 😉