
10 nov Papo de mano
Tem pelo menos uns onze jogos que eu venho dizendo que é o “jogo do título”. As explicações futebolísticas para isso, óbvio, são inexistentes, restando apenas a explicação sentimental: só quem tem esperança – e, consequentemente, medo do incerto – consegue achar que cada passo é substancial para se percorrer um caminho. Acontece que o verdadeiro passo substancial, que nos fará pular de cabeça no caminho ou sair totalmente dele, não chegou há onze jogos. Chegou agora.
Se ganhar do Vitória dentro da Bahia é tenso, jogar contra o Corinthians dentro de São Paulo, então, nem se fala. Ainda mais quando o Corinthians, nesse caso, tem uma pecinha-chave chamada Elias, e um gigante disfarçado de jogador decadente chamado Ronaldo, que (fale e pense o que quiser), é tão grande (sem trocadilhos) que não cabe no mundo-bola (sem trocadilhos, de novo), e fica maior ainda (pára de pensar besteira!) quando resolve jogar contra seus iguais. Acho até que ele tem, no fundinho do coração, um apreço pelas cinco estrelas, e não tem lá muita vontade de fazer gol contra Fábio (como ele bem disse ano passado, quatro dias após o fatídico dia 15), mas todo cuidado é pouco. Se Corinthians tem um gigante – ainda que em descenso –, Corinthians tem tudo. E é bom não bobear.
O passo dessa vez é substancial porque o ganhador deste jogo vai continuar a briga pelo caneco com o Fluminense; o perdedor, que se contente com a vaga na Libertadores. Isso é fato, é palpável. Não existe outra forma de ver essa batalha de sábado como a mais importante da guerra, até então. O que foi construído anteriormente serve para chancelar os dois clubes como brigões pelo título, mas é agora que a jiripoca vai piar e mostrar quem é que merece, mais, estar na briga. Só quem tiver mais sangue nos olhos, no sábado, é que vai continuar buscando o seu lugar ao sol. Essa é a realidade. Durma-se com um barulho desses.
Acontece que o sábado também vai mostrar, no melhor Zeca Pagodinho way of life, “quem é parceiro e quem é bom amigo, quem tá contigo e quem é de correr”. Depois tem Flamengo, tem Palmeiras, e provavelmente mais algum que no momento não me recordo qual, mas é agora, contra os manos do Paca, que os argentinos e brasileiros desse time terão que mostrar a real força de uma bandeira azul e branca; porque mostrar isso depois, caríssimos amados, não vai adiantar absolutamente nada. Não há dúvidas de que o Cruzeiro, finalmente, depois de séculos de espera, achou seu camisa 10. O negócio é que, agora, ele TEM que funcionar, quer o universo conspire a favor ou não. Pouco importará, neste fim de semana, o que o destino realmente reserva. Um camisa 10 com a faca nos dentes pode mudar uma predestinação desfavorável e fazer com que o único caminho possível seja a vitória. Mas tem que ter a faca nos dentes.
Este jogo não vai nos reservar o direito de esperar técnica dos nossos jogadores, porque técnica eles têm. Os corintianos também têm. Em alguns setores, em maior proporção, em outros, menor. Também existem talentos dignos de páginas heróicas, dos dois lados. Não é um jogo de um time ascendente contra outro que está à beira do colapso – como já jogamos dessa forma, e já perdemos, também. Dessa vez, são dois gigantes em proporção com suas vantagens e desvantagens. A única coisa que vai influenciar diretamente no resultado dessa batalha é a real vontade de vencer, o sangue nos olhos e a ira nos pés.
Buda já dizia que esperança é uma merda, e quando não a temos, temos tudo. Mas como torcedor de futebol sai de casa todo trabalhado em ser trouxa, esperar sempre o melhor, não se preparar nunca para o pior e nem sempre aceitar o que vier, Buda não significa nada nesse momento. A torcida continua cheia de esperanças de que o caneco virá, quer as forças superiores queiram ou não, e (quase) nada pode influenciar negativamente nesse caminho de glórias. Ok, é aceitável, porque o futebol desperta na gente o que a gente tem de pior: a tal da esperança. E já que a gente quer entrar em campo para a vitória, essa esperança tem que ficar bem longe do nosso sangue nos olhos, porque por mais que entendamos o contrário, a esperança é vizinha do medo do desconhecido. E os cães alvinegros não podem farejar nenhum sinal de medo, senão a coisa toda desanda.
Dois pelo título, literalmente no mano a mano, em um duelo em que o Cruzeiro vai precisar MUITO mandar um salve para os seus objetivos de vida – que, em 2010, é a chance de ser campeão brasileiro. Mais uma vez, falo que agora é a hora de tentarmos tudo. Sonharmos tudo. Querermos tudo. Isso porque, mais uma vez, menos que tudo, será nada.