22 fev O que ninguém tem coragem de dizer sobre o Corinthians, mas que precisava ser dito
Peço licença ao leitor cruzeirense. Sei que o espaço é destinado a você, mas o momento é para uma reflexão maior e que atinge diretamente não só você, mas a gremistas, colorados, atleticanos, flamenguistas, palmeirenses, corinthianos e todos os outros. Atinge o nosso futebol.
Quero falar sobre a trágica noite na Bolívia (e já é a terceira vez que nós do Guerreiro dos Gramados paramos para pensar este assunto), mas quero pensar o assunto além do senso comum. Pretensioso? Talvez! Mas garanto que meu posicionamento é resultado de um incômodo em não ver na midia algumas situações que considero que sim, para o bem do nosso futebol, deviam estar em debate.
Confesso desde já minha antipatia ao Corinthians e que isto pode fazer com que minha interpretação seja exagera. Não pretendo ser o dono da verdade, mas uma voz em meio a discussão.
Acho um clube com uma bela história (o apoio da torcida na época do jejum de títulos e a democracia corinthiana são alguns exemplos), mas recentemente superestimado por parte da mídia (como se o seu torcedor fosse mais apaixonado que outros), frequentemente campeão com arbitragens e até campeonatos questionáveis (vide Brasileirão 2005) em tempos recentes, com relações de poder estranhas, mas, principalmente, com um culto à loucura que não me parece nada saudável e que é o foco fundamental deste texto.
Nos últimos anos, vimos vários incidentes envolvendo a torcida alvinegra. Nos últimos 8 anos, a equipe paulista participou de 5 Libertadores. E em 4 delas a sua torcida promoveu situações de barbárie. Vejamos:
1) Incidente 1: Corinthians 1 X 3 River Plate. 2006. Torcedores tentam invadir o gramado antes do fim da partida para agredir jogadores.
http://www.youtube.com/watch?v=5BonCmPnd9s
Uma vez pode ser considerada fatalidade, mas tantos episódios de violência, solenemente ignorados neste momento pelos programas que debatem o ocorrido em Oruro, são desconexos e insignificantes? Penso que não.
Não quero cair no senso comum e generalizante de que “torcida de pobre e bandido é assim mesmo”. Por mais que torcedores do próprio clube se orgulhem de situações que acho questionáveis (ser maloqueiro, por exemplo), é ridículo pensar que todo torcedor do clube paulista ou até que a maioria de sua torcida apoie situações como essa e, principalmente, associar violência a pobreza, argumento ridículo que vem favorecendo a elitização do acesso aos estádios no país. O problema é que, mesmo sendo uma minoria, é fato que as suas ações violentas são recorrentes e precisavam ser destacadas sempre que se repetirem.
Falar que só a torcida do Corinthians pratica estes atos é outro ponto equivocado. Seria hipocrisia esquecer, por exemplo, dos arrastões promovidos por alguns membros da Máfia Azul em viagens para os jogos do clube, como frequentemente é registrado em viagens ao Rio de Janeiro, por exemplo. Fora o canto “Máfia Azul 157 (em referência ao crime de latrocínio – roubo seguido de morte)”, uma das músicas mais deploráveis que já ouvi em um estádio de futebol. E o mesmo se aplica a tantas organizadas dos grandes clubes do país.
Acontece, porém, que a mídia brasileira não poupa críticas a estas atitudes. E faz bem! Combater a violência no futebol virou obrigação da nossa sociedade e o silêncio não pode ser a tônica diante de ações como essa.
No entanto, por que ao registrar o que aconteceu em Oruro a nossa imprensa não resgata os antecedentes da torcida alvinegra? Não resgata as relações de torcedores envolvidos nestas ações e diretores do clube, conhecidas de muitos, mas quase nada divulgadas? Por que insiste no culto a um “bando de loucos” que, muitas vezes, associa intimamente o culto à loucura com práticas violentas?
Este silêncio alimenta o terrível discurso corinthiano do “contra tudo e contra todos”, já correndo pelas redes sociais, como se a punição imposta pela Conmebol fosse injusta e arbitrária. Não é! É o resultado de uma ação, no mínimo, irresponsável que culminou na morte de um adolescente. Um estádio com torcida ou não, o que, para mim, foi uma medida acertada, diante disso, é uma preocupação quase que banal.
Fico ainda mais frustrado ao imaginar como nossa imprensa, que crucificou o Tigre na final da Sul-Americana mesmo sem investigação alguma, agiria se o incidente fosse protagonizado pelos bolivianos. Pedidos de suspensão ao San José seriam o mínimo que veríamos nos nossos programas esportivos.
Não defendo a exclusão do Corinthians da competição. Não é justo com os profissionais de bem que defendem o clube e os milhões de torcedores que carregam uma paixão honesta e humana pelo clube. Mas nossa mídia devia cobrar sim uma punição dura, lembrar antecedentes da torcida alvinegra e denunciar também como eles se repetem em outros estádios e clubes do Brasil, ainda que em menor escala.
Ah. E parar de uma vez de cultuar uma loucura que é, muitas vezes, entendida como álibi para a boçalidade por muitos dos torcedores paulistas. Tipo os que estão presos na Bolívia e que encerraram o vídeo gravado na delegacia com a frase “Tá tudo tranquilo e quarta tem jogo”.