Muros de Concreto


Fui ao cinema essa semana para assistir, pela segunda vez, o excelente Tropa de Elite 2. Em determinado momento do filme, o herói nacional mister Capitão Nascimento, vivido por Wagner Moura, pergunta: “quem sustenta o sistema?” . Eis que uma voz na multidão da sala me responde: “O Obina, oras!”.

Na hora foi até engraçado, mas depois me deu uma puta raiva! Se tem uma coisa que o tal do Obina ferrou totalmente foi com a música que ele escolheu para celebrar os três gols dele. Não, além de acabar com nosso domingo, ele não poderia escolher um pagode maroto e idiota para as imagens dos gols. Tinha que ser Tihuana com a música do momento. Uma coisa que, assim, não tem absolutamente nada a ver com o contexto da situação, porque TUDO o que o MiniChicken não é, é “osso duro de roer” e afins.

Mas essa escolha do gordinho jogou na nossa cara o real muro de concreto que pode nos derrubar: o próprio Cruzeiro. Que NÃO QUIS jogar no domingo, que NÃO QUIS entrar em campo, que NÃO QUIS ouvir meus conselhos (como se alguém ouvisse né???), que NÃO QUIS ouvir o clamor da torcida e continuar isolado na liderança do campeonato. O Cruzeiro não quis nada no domingo, o Obina quis, titio Doriva fez um ótimo trabalho mental com os caras e bateu aquela saudadezinha momentânea do titio Adílson ad infinitum cruzeirense Batista, matador-mór do frango depenado nos clássicos. O Cruzeiro não querendo nada no domingo me deu preguiça até dos argentinos ídolos. Pode parar com essa marra, Cruzeiro. Se o treino é jogo, o jogo é guerra, em campo tem que pegar um e pegar geral. E não ficar selecionando timinhos segundinos (vide Grêmio e MiniChicken) para depositar nossa dó de campeão.

Mas o que passou, passou. E Obina, você estava certo. Agora o bicho vai pegar.

Muros de contretoE o bicho tem mesmo que pegar e tem que ser mesmo agora, meu caro time, ou não será NUNCA. Tem que ser enérgico, preciso e heróico. Tem que pensar, novamente, e com ares de Libertadores, que menos que “tudo” será “nada”. E que só quem pode te atrapalhar rumo ao título é você mesmo.

Vamos pegar na próxima rodada o lanterna da competição, e meu estômago já revira só de pensar em domingo passado. O campeonato tá quase no fim, e passar essa sensação de preguiça, de desistência, é o fim da picada. Não podemos transformar a nossa “tropa de elite” em mais um time que cairá pelas beiradas se o cansaço bater à porta. Mesmo porque, vocês vão me desculpar, mas jogador de futebol ganha MUITO dinheiro pra reclamar que tá “cansadinho”. Pra casa do chapéu com os “cansadinhos”! Ou faz o que tem que ser feito, do jeito que tem que ser feito, ou a porta da rua é a serventia da casa. Sempre foi, né, Perrella, só você que não está vendo. Você também é um muro de concreto bom de derrubar. Aguarde teu momento.

A semana é de zoação da parte deles, e eu to agüentando o tranco legal, mesmo porque esse momento de felicidade no lado fraco da lagoa só acontece a cada dois ou três anos e OLHE LÁ. A reação no jogo veio no momento certo, e acho que se dessem mais dez minutinhos ali a gente tinha empatado, mas o fiasco não ter sido maior não é mérito do time. É OBRIGAÇÃO do time. E eu acho revoltante que nego resolva que não tá afim de mostrar bom futebol justamente contra pseudos-rivais. Deixa pra mostrar que não tá inspirado pra jogo na pelada de fim de ano dos funcionários do clube. E para de gastar dinheiro de torcedor à toa. A derrota faz, sim, parte do futebol. A provocação sadia é sempre bem vinda, e torna tudo mais leve e divertido. Mas jogar um futebol revoltante, com uma zaga revoltante, que ficou 45 minutos achando que estava num parquinho, me deixa muito chateada e descrente.

Em contrapartida, nasce no coração dos cruzeirenses uma esperança quase que metafísica de que, sim, ainda é possível. Ainda é MUITO possível, e é para essa possibilidade que devemos caminhar. Agora, sem tropeços. Qualquer um será fatal. Parafraseando a musiquinha escolhida por Obina, domingo pode ser o nosso dia, pode até ser o do rival. Mas a diferença é que nós temos que ir embora levando o que é nosso. Os três pontos.

Estou meio viciada no Capitão Nascimento e acho que todo mundo deveria esquecer a gracinha do gordinho e ir no cinema sem culpa (e sem se lembrar de domingo!) assistir a essa produção fantástica. A arte imita a vida, e o futebol pode imitar a arte, e independente da musiquinha que as pessoas escolhem, não podemos ser, nós mesmos, nosso próprio muro de concreto. Então, Cruzeiro querido, não dá bobeira, não. O título tá na sua mão, e a gente quer mais do que só história pra contar. Não vem com idéia não que a gente não quer confusão. Mas VAMO JUNTO, sempre, porque o bicho vai pegar. Quem não tem a manha, que peça pra sair. Mas quem tem fé não abandona. E a gente vai, todo dia, acreditar em você.