Fazer o que?


Escrever hoje é um desafio

para mim. Gosto de escrever sobre fatos que estão expostos, mas ninguém fala. Depois do jogo contra o América-MG tudo ficou escancarado e só não enxerga quem não quer. Há pelo menos um ano venho fazendo comentários sobre erros cometidos por diretoria e comissão técnica. Erros que vão de contratações à escalação do time em campo. Fui criticada várias vezes neste espaço por torcedores que não gostam de ler comentários que vão contra o senso comum. Para esses é mais fácil chamar quem tem opinião diferente da maioria de atleticano, é o mesmo tipo de comentário que fazem sobre a imprensa mineira. Vão pelo caminho mais fácil em vez de elaborarem argumentos e promoverem um debate sadio.

Sempre achei que a torcida cruzeirense fez do Cruzeiro um time campeão por ser exigente e cobrar, acima de tudo, bom futebol. Já vi inúmeras vezes o time sair de campo vaiado, mesmo com a vitória, por não jogar bem. Vi o contrário também, sair aplaudido com derrota ou eliminado de alguma competição, mas jogando bola. Mas, há algum tempo vejo um perfil de torcedor diferente. Hoje o torcedor está mais preocupado em fazer piadinhas nas redes sociais e dar audiência a programas ditos jornalísticos, mas que fazem mais humor e menos jornalismo. A torcida cruzeirense está narcisista, o foco agora é ela e não mais desempenho do time.

Enquanto passava por esse processo de transformação um ex-presidente, atualmente senador, fez o que quis dentro do clube, deixando uma herança maldita para o novo gestor (dentre elas parte do time atual e comissão técnica) que vai sofrer para arrumar a casa. Mas como fazer a mudança e ao mesmo tempo tentar agradar a todos? Impossível. O comandante nunca vai agradar a todos e, às vezes, é necessário cortar na própria carne para tirar o veneno e restabelecer a ordem. Acredito que a maior dificuldade será promover a mudança sem atingir possíveis alianças partidárias, que mesmo fora têm força dentro do clube e podem se tornar oposição, ameaçando assim seu futuro político dentro do clube.

É hora de ter coragem e cortar o mal pela raiz, a começar pelo comando técnico. Vágner Mancini já provou que não é técnico para comandar um gigante como o Cruzeiro. Há sete meses no clube Mancini não conseguiu dar um padrão de jogo ao time, que quando entra em campo parece um time de amigos de fim se semana que se reúnem para uma pelada. Não vejo uma jogada ensaiada. As falhas defensivas são evidência de um time que não treina (ou é mal treinado) e o esquema adotado se mostra falho. Mas não adianta troca-lo e não mudar as peças. Com Everton, Marcos, Diego Renan, Amaral, Rudnei, Wellington Paulista, Bobô, Anselmo Ramon, Marcelo Oliveira, Fábio Lopes e Gilson o máximo que o Cruzeiro pode fazer é um time meia boca para disputar a segunda divisão do campeonato Brasileiro. Inclusive dos jogadores citados o clube buscou quatro deles em times que caíram para a série B em 2011. Não citei nenhum dos zagueiros porque acredito que com um time melhor e bem treinado eles poderão ser avaliados de forma mais justa. Afinal, até o Gil virou “ídolo” num time que tinha um pouco mais de qualidade.

Dez anos sem um título de expressão pesa muito nas costas dessa nova diretoria. Para mudar o panorama e sossegar a torcida é preciso coragem para promover as mudanças. Imagino que desfazer-se de tantos jogadores seja um grande problema, pois existem contratos e multas em caso de recisão, mas é para isso que Valdir Barbosa e Alexandre Matos são muito bem pagos, para criar solução em casos que parecem perdidos. Eles devem criar alternativas que viabilizem o futebol do clube. Muitos atletas que não servem para o Cruzeiro podem reforçar equipes que disputarão a série B do Brasileirão. Mantê-los com a desculpa de que não existe peça de reposição no mercado não cola, porque todos se mostraram inaptos a vestirem o Manto Celeste. Bancar a permanência deles é assinar um atestado de burrice e incompetência sem tamanho.

Penso que os demais atletas devem mostrar um pouco mais do que vem apresentado. Não dá para continuar jogando só com o nome, porque qualidade eles têm. Torço para que Souza e Alex Silva reencontrem os bons momentos que já viveram no futebol e acrescentem qualidade ao time.

Chegou o momento de mudar, se não for agora depois será tarde. Ser eliminado na semifinal do Campeonato Mineiro ou em qualquer outra fase da Copa do Brasil não é problema, mas no Campeonato Brasileiro, onde a regularidade faz a diferença, o erro pode custar caro. O ano de 2011 deixou a lição e insistir no erro pode manchar a história do maior clube de Minas Gerais.

Dr. Gilvan tenha coragem, é melhor errar pela ação que pela omissão.

Foto: VipComm