Eu ACREDITO no Cruzeiro


Eu não sei. Pela primeira vez em muito tempo eu não sei o que escrever, o que pensar, o que dizer para acalmar vocês. Para me acalmar. O sonho ficou pesado para os nossos guerreiros, e de repente toda uma nação se vê sustentada por castelos de areia, capazes de ruir a qualquer momento. Mas um sonho se tornar pesado não quer dizer que ele acabou.  Quer dizer que precisamos de uma nova perspectiva para alcançá-lo.

Eu ACREDITO no CruzeiroÉ por isso que hoje todos nós teremos dupla personalidade. Estamos espalhados, mas o espaço-tempo é insuficiente para nos conter dentro do estado mais bonito e mais aguerrido do Brasil. Somos, cada um, um corpo, ocupando, ao mesmo tempo, dois lugares distintos. Sinto muito, Einstein, por jogar por terra uma das mais belas teorias da física. Mas hoje, estar em dois lugares, ao mesmo tempo, se tornou possível.

Então não exagero em dizer que, enquanto você me lê, eu provavelmente estarei nos ônibus de torcedores deixando Belo Horizonte; estarei nas asas dos aviões de toda a malha aérea que pousará em São Paulo. E você já está lá, no bairro nobre de SampaCity, arrumando nosso espaço, nossas bandeiras. Você que está lá, me diga: não é que o Morumbi se tornou pequeno para a nossa esperança?

Tivemos milhões de vitórias, milhões de tropeços, durante todos os anos da nossa existência. Mas nenhuma vitória, até onde me lembre, teve o poder de unir todos os mais de oito milhões em um. Um. É isso que somos. Um gigante, um coração pulsando por todos os corações do mundo. Somos uma fonte inimaginável – e até, admitamos, irreconhecível – de esperança, de motivação e, principalmente, de solidariedade.

Nessa semana eu entendi o que é a força do futebol nas nossas vidas. Quando eu estava no Mineirão, senti o coração apertado com o segundo gol do São Paulo. Cheguei a pensar dos nossos próprios jogadores: quem são vocês? O que fizeram com meu time? Gritei, esperneei. Num gesto de extrema fraqueza, ou de suma força interna, chorei. Mas não por ver a derrota iminente. Vi Kleber correndo como um louco, tentando tudo. Vi Thiago Ribeiro se desesperar com uma bola que bateu duas vezes na trave – como diz uma grande amiga, esse é o cúmulo da perfeição. Com tanto espaço dentro e fora, bateu num porrete de 14 centímetros? Duas vezes?! Os torcedores do São Paulo devem ter pensado que aquilo é sorte de campeão. Eu prefiro pensar que é aperitivo. Nada nos dá mais motivação para concretizar um sonho do que os erros que insistem em nos perseguir.

Aquela quarta-feira ficará para sempre nas minhas lembranças mais queridas, porque, apesar dos pesares, foi naquela noite que eu senti, na alma, a força e o peso deste sonho. Senti que nossos guerreiros não estão sozinhos, que cada tropeço, cada passo errado, resvala na gente. Sai em forma de água pelos nossos olhos e faz nosso coração sangrar. Cada uma das bolas que ultrapassou a meta de Fábio foi uma faca. Cabe a nós saber o que fazer com ela. Uns vão senti-la apunhalar as costas, vão sucumbir ao demérito. Vão dizer que a caminhada toda, até aqui, foi em vão. Que tudo sempre estava errado, e que ninguém viu. Outros vão usar essa faca com outro motivo. Vão mordê-la entre os dentes e seguir em frente, sem medo, sem frustração, independente das armas que o inimigo use. Quem não se apunhala se faz forte. E cada um de nós tem livre arbítrio para escolher o caminho o qual mais lhe convém acreditar.

Se bem que hoje vai ser difícil alguém destoar nessa nossa família de esperançosos, pois todos vão respirar energia, crença e paixão. O movimento #EuAcreditoNoCruzeiro não é apenas uma tag de Twitter; é uma certeza. Ganhar? Perder? Isso é tudo conseqüência do que quer que se faça em campo. Acreditar é um dom que não é facilmente tirado, não é um pozinho que qualquer vento sopra. Acreditar é confiar. Nós confiamos nesses caras que hoje vão entrar em campo porque são eles os missionários da nossa vontade; está nas mãos deles trazer de volta para Minas a conquista da América. E se não for, a volta deles, o que esperamos, não quer dizer que acreditamos em vão. Muito pelo contrário.

Só tem fôlego aquele que sabe que “a guerra só termina quando o último de nós cair”, que acredita que impossível é uma palavra que tem força, sim, quando as palavras paixão, força, obstinação e fé não mais existirem. A prova do nosso amor incondicional é acreditar, sempre, que os guerreiros dos gramados vão nos dar mais um sopro de esperança, e que se a história não for bem a que a gente queria, tudo bem. Temos brio, garra e capacidade de lutar por tudo, mais uma vez, e como se fosse a primeira. Afinal, parafraseando @oteatromagico, “cada sopro que apaga uma chama reacende o que for pra ficar”.

Hoje nós estaremos aqui e estaremos lá. O Morumbi vai se transformar em um templo de gigantes, e tudo o que posso fazer, neste momento, é agradecer por ser cruzeirense e por estar, junto com este time, em mais uma batalha. Como diz aquele provérbio, espere pelo melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier. Se o Cruzeiro passar por essa tempestade, esperaremos o nascer do sol de braços abertos e alma lavada; mas, se a tormenta fizer nosso barco afundar, podem ter certeza: eu quero ser a última a sair dele.

O Cruzeiro, hoje, não é um time de futebol, sequer é campeão de duas Libertadores da América, campeão brasileiro, e toda a gama de títulos, maiores e menores, que conquistamos ao longo da vida. O Cruzeiro, hoje, é um coração de chuteiras. Quando o juiz der o apito final e tivermos, enfim, uma definição para nosso destino, aí sim, discutiremos tradição, títulos, ou a falta de alguns deles, falaremos das páginas heroicas imortais e qualquer “etc” que couber nas conversas sobre a noite histórica das nossas vidas. Mas até lá, o Cruzeiro será apenas isso: Cruzeiro. Sem definição, pois quem define limita. Sem intensidade, pois quem é capaz de dizer o quanto ama, ama pouco. Somos o Cruzeiro das crenças, dos pensamentos mágicos e dos infinitos. Somos mais do que oito milhões, somos um.

E, se vocês me dão licença, gostaria de passar por cima de qualquer diferença e agradecer imensamente àqueles que, em organizadas ou não, estarão no Morumbi representando tudo o que nós somos. De vocês virá a voz da fé, capazes de mover montanhas, determinar placares e construir vitórias. Vocês são os comandantes desse nosso barco, e todos nós, ao redor do mundo, sua súdita tripulação. Vocês são a personificação do porquê nós somos conhecidos como guerreiros.

Avante, meu time. Libertadores é o nosso sonho – e, por mais que tenha ficado pesado, ele não acabou. Traga para Minas o destino que nos for de direito, e se na batalha houver força, sangue, amor, suor e raça, terá havido tudo. E, independente do placar final, agradeceremos ao Cara lá de cima pela sua existência. Estaremos orgulhosos do que você é. Nós não acreditamos em vão. Acreditamos porque te amamos, Cruzeiro. Ganhando ou perdendo, conte com a gente. Sempre estaremos aqui!