
31 ago Enquanto houver sol
Eu nasci numa família onde 98% são de torcedores do Cruzeiro. Não fui criado pelo meu pai (também cruzeirense), mas pelo meu avô.
Desde pequeno o Sr. Tiago sempre foi minha referência, principalmente como pai. Papel que ele ocupou de vontade própria.
Tinha uma força sem igual. Antes de se mudar para Belo Horizonte para tentar uma vida melhor com minha avó e 8 filhos, ele trabalhou na roça, no Serro; em garimpos de Diamantina, entre várias outras funções. Sempre serviço braçal. Eu o achava o cara mais forte do mundo.
Nasci em Belo Horizonte em 1991. Minha primeira lembrança como torcedor do Cruzeiro foi na Libertadores de 97, quando vi pela televisão aquela finalização despretensiosa do Elivelton.
Sempre que podia, meu avô me levava ao Mineirão. Claro, em jogos “menores”, contra adversários de menor expressão, pois ainda era muito novo. Ele tinha essa preocupação. A partir dessa presença, fui construindo um amor inestimável pelo Cruzeiro.
Sempre fui muito tímido, e nos jogos em que íamos juntos, quando passavam os vendedores ambulantes com salgadinhos e picolés, eu não o pedia para comprar pra mim, mas ia seguindo o vendedor com os olhos. Meu avô sempre percebia e fazia essa criança mais feliz, mesmo não podendo gastar tanto. Também em casa era assim, para sustentar meu vício por biscoito recheado.
Fiz o ensino fundamental na UFMG, onde existia uma espécie de filial do Cruzeiro. Jogávamos com as 5 estrelas no peito todo domingo de manhã, no “campão” da FAE. Não houve um jogo em que meu avô não estivesse presente me acompanhando no sonho de ser jogador de futebol do clube que eu amo.
Ele sempre me dizia para me orgulhar do time que torço, pois somos “Campeões dos Campeões, o maior clube de Minas Gerais”.
O tempo passou e com ele veio o peso da idade.
Meu avô sofreu um derrame quando eu tinha por volta de 11 anos. Problema este que serviu como trampolim para outros de igual gravidade. Pouco tempo depois, o segundo derrame, e até hoje eu me lembro da cena dele deitado na cama do seu quarto, com balão de oxigênio e os médicos do SAMU em cima.
Aquela cena foi terrível pra mim, pois se tratava do homem mais forte do mundo, completamente rendido por uma enfermidade.
Muito tempo no hospital e a melhora foi gradativa, porém, ele ficou com o lado direito do corpo muito debilitado.
Hoje, com 86 anos, é praticamente impossível sua ida ao Mineirão, pois sua locomoção ficou seriamente comprometida com a sequencia de problemas de saúde.
Ele ainda acompanha o Cruzeiro, com seu rádio inseparável e na TV durante a semana, assistindo programas como Alterosa Esporte, Globo Esporte. Tinha também o Minas Esporte, talvez o seu preferido.
“Ô Lulu, já começou o esporte?”
Sua dose de esporte é medida, pois também há recomendações médicas para que ele não tenha emoções muito fortes.
O que quero pedir para o Cruzeiro (diretoria, jogadores e comissão técnica), clube que amo desde que me entendo por gente, é que não dê uma desonra tão grande para meu avô. Não manchem a história do “Campeão dos Campeões, o maior time de Minas Gerais”.
Vocês não sabem o peso que tem o Cruzeiro Esporte Clube em nossas vidas.
Por: Luciano Batista