24 fev Eles não contam com a nossa astúcia
Vai ser épico. Lendário. Para mim, em particular, não há nada mais simbólico do que o jogo de hoje. Entrei no Mineirão pela primeira vez na vida aos 10 anos de idade, vinda de São João del Rei, somente para assistir Cruzeiro x Colo Colo pela Libertadores. E lembro de tudo como se fosse ontem: eu e meu irmão, então com sete anos de idade , nas cadeiras especiais com meu pai (fluminense doente), achando magnífica a festa – e super legal a torcida adversária, que estava vestida de… Chapolin Colorado. (O que eu não entendo até hoje, pois as cores do clube são preto e branco. Mas enfim.)
Ir de Chapolin em plena década de 1990 a um estádio abarrotado de crianças é muita apelação emocional. Era o primeiro jogo das nossas vidas, e tenho certeza absoluta que meu pai rezava em silêncio por uma derrota acachapante, que fizesse os dois filhos ficar decepcionados com a Squadra Azurra e resolvessem, por fim, torcer pelo time das Laranjeiras. Leda ilusão. Naquele dia, apesar dos Chapolins, só o Cruzeiro poderia nos defender. E o 1×0 no placar fizeram meu querido velho ter que nos levar, de novo, contra o Sporting Cristal.
É por isso que hoje, para mim, o Mineirão vai estar épico. Lendário. Quase 13 anos depois, estarei presente em outro confronto entre a raposa mineira e o cacique chileno, que se autodenomina em seu site “o eterno campeão”. Pois desde já aviso: eles não contam com nossa astúcia. Não contam com nossa gama de heróis pós-modernos que, com todo respeito a meu ídolo Roberto Bolaños, não são tão atrapalhados; mas têm, igualmente, bom coração e vontade. Vou reviver meu primeiro jogo sem meu pai e meu irmão, que hoje estão no interior de Minas, mas com novos amigos que vieram nesse “intervalo” de tempo, e que vão me fazer sentir de novo como se fosse a primeira vez.
O Colo Colo é um time quatro anos mais novo que a gente, tão tradicional quanto nós em Libertadores e que, ainda por cima, tem nome de índio – e com essas tradições da terra não se brinca. Mas as cores não enganam: um time em preto e branco sempre assina o caderninho da freguesia, e acho que a América deveria ficar atenta a esse dado importante. E esse negócio de ter “Cristal” na camisa vai remeter muito a 1997. Eu não consigo entender como um time com nome de cacique não consegue perceber esses sinais subliminares de fracasso iminente.
Mesmo assim, e zoações a parte, hoje não é brincadeira. O Colo Colo costuma dar trabalho, e o jogo de hoje tende a ser lembrado por todo o campeonato. Mais uma vez, somente a vitória nos interessa. Magra, gorda, tanto faz. São 13 anos esperando, mais uma vez, por este confronto. E ele merece todo o nosso carinho.
O jogo de hoje vai me lembrar de coisas bonitas que aprendi com o futebol. De como torcer em paz, aprender a admirar e, principalmente, respeitar as torcidas adversárias, mesmo que seja imenso o meu amor pelo meu clube. De como saber perder e, principalmente, saber ganhar, quando o time que a gente enfrenta merece respeito até às solas dos sapatos. Há 13 anos, quando entrei pela primeira vez no que hoje considero minha segunda casa, eu entendi imediatamente o que eu queria ser: uma boa cruzeirense. Portanto, sigam-me os bons. Pois hoje, novamente, nosso amor pelas cinco estrelas do peito é quem poderá nos defender.