De protagonista a coadjuvante


Se você é cruzeirense, tem mais de 25 anos e é saudosista deve se lembrar dessas datas: 30 de novembro de 2003. 13 de agosto 1997. Nove de julho de 2000. 20 de novembro de 1991. Para alguns, o titulo de 2000 é o mais emocionante, para outros, o de 2003 o maior alívio, o de 97 a maior alegria e o de 91 o início de uma era de vitórias. Não há como medir qual título é maior, mais importante. Como um velho amigo me disse uma vez “O importante é levantar troféu e gritar: é campeão”.

Cada título teve um herói, seu ídolo. Fazendo gol, no banco, às vezes fechando a baliza, talvez só falando ao companheiro que iria bater a falta “bate por baixo da barreira”. Ênio Andrade, Dida, Alex, Geovanni, Muller, Mário Tilico, Mota, Elivelton, Boiadeiro, Ademir.

Impossível dizer o “nome” de cada jogo, de cada conquista; cada torcedor tem o seu preferido, e guarda isso para uma conversa de botequim, para contar a história ao filho ou sobrinho. Imagens que vem à cabeça e às vezes enchem os olhos de lágrima. Seja pela emoção ou por lembrar-se de um ente querido com quem assistiu ao jogo, ou simplesmente pelo amor ao clube. Todos se lembram “exatamente” como foram os jogos, como comemoram os gols, como tudo aconteceu.

A maneira como cada time jogava, quem era ou não craque, são lembranças ainda vivas dentro de cada torcedor. O tempo transformou os jogos contra Paysandu, Sporting Crystal, São Paulo e River Plate em dramas, quase tragédias gregas, combates épicos onde simples homens transformaram-se em heróis e conseguiram feitos homéricos. Para nós, torcedores, éramos grandes, os reis, invencíveis. Pelo menos nas nossas lembranças essas partidas estão entre os maiores duelos da história do futebol.

Mas isso tudo é passado, 2003 já está há quase 10 anos atrás. Boa parte do time da tríplice coroa não joga mais bola. O técnico, que era um deus naquela época, hoje é motivo de chacota. Os que ainda jogam, vivem o ocaso da carreira, já passaram do seu ápice. Outros sumiram no mundo da bola.

São quase 10 anos sem ganhar um título importante. Claro, chegamos perto algumas vezes, em 2009 e 2010. Mas é muito pouco. O Cruzeiro ganhava títulos com maior freqüência. Sempre havia um troféu para levantar, uma faixa para receber, um título para comemorar.

Viramos o time do “quase”. Quase ganhamos a Libertadores de 2009, Quase ganhamos o Brasileiro de 2010. Atualmente o torcedor cruzeirense parece aquela dupla de uma propaganda de tubos e conexões: “Dá-me um título, dá-me um titulo”. No futebol o que importa é título.

O cruzeirense, não suporta o papo de “o importante é competir”, não combina. O clube vive uma terrível seca de vitórias e títulos. É preciso que o novo presidente rompa com o passado, que foi vencedor, mas com o tempo acabou perdendo o gosto pelas vitórias. É hora de acabar com o ciclo  do quase, da venda de jogadores e de pensar pequeno. Presidente lembra-se todos os dias que os rivais do Cruzeiro não estão aqui em Minas Gerais, o Campeonato Mineiro não é referencia para montar um time vencedor.

Fotos: Auremar de Castro/EM