Cruzeiro: Não vou te trair


Há 20 anos iniciei minha jornada de amor e devoção à cor azul e às cinco estrelas cravadas no manto celeste. Passei por turbilhões de sentimentos. De brigas com meu amor eterno, em que, num momento de desilusão, jurava nunca mais voltar ao templo de adoração , a momentos de êxtase total comemorando conquistas. Presenciei a construção de várias páginas heróicas e imortais.

Como em toda relação tivemos altos e baixos. Vibrei muito com a Copa do Brasil conquistada em 1996 que me garantiu, em 1997, sentir a maior alegria nesse deleite existente no caminho de todo torcedor: a Taça Libertadores da América. E foi nesse mesmo ano que também senti uma das maiores dores proporcionadas pelo esporte bretão, ver o Cruzeiro sucumbir diante dos meticulosos, obedientes e calculista alemães.

Mas o último dia 13 de novembro jamais vai sair da minha mente como o mais trsite da minha história de amor. Não apenas como apaixonada torcedora do maior das Minas Gerais, mas também como cidadã. Senti-me assaltada. E o crime aconteceu diante dos olhos de milhões de brasileiros que nada puderam fazer, assim como eu. Senti-me enojada, ultrajada, violentada, envergonhada e decepcionada, mais uma vez, com esse país chamado Brasil. O que vi naquele dia me fez lembrar Cazuza que um dia disse: “Não me convidaram pra essa festa pobre que os homens armaram pra me convencer a pagar sem ver toda essa droga que já vem malhada antes de eu nascer.”

Foi essa a impressão que o trio de arbiragem deixou: ARMAÇÃO. E a repercussão nos dias seguintes só aumentau a suspeita. Lamentável, mas dá para esperar que o futebol seja diferente do que acontece na vida social, econômica e política desse país? O país dos “anões do orçamento”, do deputado do castelo, do dinheiro na cueca, do “valerioduto” e outras mazelas. Acho que a resposta é NÃO. O Futebol é apenas o reflexo do que a sociedade de cada cultura reproduz.

Faz quatro dias que o assalto sucedeu e minha indignação persiste como se o fato acabasse de acontecer. Tristeza e revolta se misturam à paixão e orgulho que senti dos guerreiros que no campo de batalha enfrentavam um oponente impossível de bater, já que esse é senhor absoluto das decisões, o apito. Mas a Squadra Azurra tem em campo atletas de hombridade. Parabéns a Fabrício que se manifestou de forma inteligente ao espetáculo armado dentro de campo. 

Li e ouvi centenas de torcedores, cruzeirenses e de outros times, dizerem que gostariam de não gostar de futebol. Pensei a mesma coisa, mas quem ama, ah…. ama e pronto! Não tem jeito de fugir do que sente. Só não entendi o presidente Zezé Perrella esbravejar horrores depois do jogo (teve o dom de dizer sem nada falar), jogar suspeitas no ar e depois viajar com a delegação da Seleção Brasileira. Será que durante o vôo ele parabenizou Elias e Jucilei pelo resultado da partida? Que vergonha Zezé!!! É por essas e outras que não acredito na moralização do futebol no Brasil. Não com dirigentes desse nível, sob o comando do gatuno mor Ricardo Teixeira. Homens que usam o futebol para enriquecer e ter prestígio e poder.

Para que situações como a ocorrida no Pacaembu diante dos olhos incrédulos de milhões de brasileiros não aconteçam mais é necessário extirpar esses homens de má índole do comando. Precisamos de homens e mulheres éticos para comandar o esporte como Zico, Oscar Schimdt, Hortência, Carlos Arthur Nuzman e Zé Roberto Guimaraes.

Infelizmente a imagem do campeonato Brasileiro do ano de 2010 já foi manchada e quem quer que seja o vencedor terá também seu título maculado. Se corinthianos se orgulham do que viram em campo (assim como em 2005) parabéns a eles, que repetem e legitimam o caos instalado em nossa Pátria amada. Mas nós, cruzeirenses, não carregaremos conosco a vergonha de um título duvidoso, se ganharmos não será no apito. Nos nossos 89 anos de glórias nossas conquistas são legítmas. E para finalizar recorro novamente ao poeta Cazuza para dirigir-me ao Cruzeiro e nossos guerreiros: em nenhum instante eu vou te trair (não vou te trair).