Critério do STJD é não ter critério, mas Cruzeiro paga preço alto em comparação com outros clubes


A partida do primeiro turno entre Cruzeiro e Atlético-MG já acabou há quase um mês, mas as consequências desta partida nos julgamentos do STJD fazem pensar o tratamento que vem sendo dado a Raposa por este tribunal, acostumado a ser acusado de posturas duvidosas.

Na semana seguinte ao clássico, o Cruzeiro foi julgado com urgência incomum (o normal é que os incidentes sejam julgados duas semanas após ocorridos) pelos episódios envolvendo a sua torcida naquela partida e Montillo foi indiciado por ter cometido uma falta em lance que a arbitragem não marcou, mas que foi considerado pelo tribunal como jogada violenta.

O enquadramento do Cruzeiro deve ser considerado normal, afinal a torcida protagonizou um episódio de desrespeito às regras e a punição ao clube poderia, inclusive, ser entendida como justa. Foi este o meu entendimento original, inclusive, mas passadas algumas semanas, a torcida palmeirense protagonizou um cenário muito mais grave, com depredamento do Pacaembu e invasão de camarotes para agredir dirigentes e não se viu a mesma urgência no julgamento deste processo.

Como se não bastasse a morosidade do STJD em julgar este caso em relação ao tempo que foi gasto para julgar o Cruzeiro, a equipe alviverde foi indiciada de forma menos grave do que a Raposa e correrá risco de perder até 10 mandos de campo. Já o Cruzeiro, que foi enquadrado em artigo que trata da prática de tumulto e desordem, o que significa que, de forma absurda, o procurador Paulo Schimidt entende que os acontecimentos do Independência foram mais graves do que os do Pacaembu.

Mais absurdo, no entanto, foi o fato de Montillo ter sentado no banco dos réus por uma falta não marcada que de agressão não teve nada, enquanto jogadores como Marcos Rocha, que desferiu um tapa no rosto de Everton naquela partida, também captado pelas câmeras e Bernard, que foi para cima de Mateus em lance que originou uma certa confusão no primeiro tempo, escaparam ilesos.

A incoerência do STJD, porém, se mistura a da arbitragem. Naquela partida, Ronaldinho acertou Wallyson com um carrinho e a arbitragem nada marcou. Rodadas depois, o lateral Douglas do São Paulo repetiu a jogada, foi expulso e será julgado no STJD pelo episódio (todos os expulsos são julgados).

É verdade que Montillo acabou absolvido, mas neste domingo vimos Ronaldinho (mais uma vez) acertar o peito de Kléber com um chute de forma nitidamente voluntária. Se faltas não marcadas agora motivam julgamentos, porque o STJD ainda não se manifestou, como fez no lance de Montillo?

Exemplos vários ainda poderiam ser dados da falta de coerência deste tribunal, mas o fato posto a partir deste texto é que o Cruzeiro tem sido julgado (e o pior, aceitado a situação) de forma mais dura do que outras equipes. O recurso sobre a perda dos mandos de campo ainda será julgado, mas nenhum diretor do clube aparece para cobrar que a Raposa seja julgada de acordo com o peso adotado para os seus adversários.

Se não é possível afirmar que o STJD age mal intencionado, pode-se certamente afirmar que o Cruzeiro vem fazendo um péssimo trabalho de bastidores para evitar punições que outros tem escapado ilesos ou com penas menores. À torcida azul, porém, cabe repercutir tais incoerências e, com a força de 8 milhões, mostrar que não aceitamos este tratamento tão desigual nos tribunais como temos verificado.