Copa do Brasil 1996


Muita gente considera os dois troféus da Taça Libertadores da América, conquistados pelo Cruzeiro (1976 e 1997), como os mais importantes da história da equipe. Mas o título da Copa do Brasil de 1996 foi de fato, um dos momentos mais marcantes que o clube já viveu.

Primeiro, por que o título deu o direito do Cruzeiro disputar a Libertadores do ano seguinte, sendo um passo inicial da arrancada para o bicampeonato da maior competição sul-americana. Segundo, por que o Cruzeiro conseguiu derrotar na final, jogando fora de casa, o então considerado pela imprensa como o melhor time do país – o poderoso Palmeiras – de Cafu, Rivaldo e Luizão. Foi uma final emocionante, em que o Cruzeiro teve que lutar contra tudo e contra todos, para buscar o bicampeonato da Copa do Brasil. Mas antes, otime Celeste enfrentou outras pedras no caminho. Vamos relembrar a campanha que levou o Cruzeiro a essa conquista tão marcante na história do clube.

A campanha

Confira a galeria de fotos dos Títulos do CruzeiroO Cruzeiro começou a competição automaticamente classificado para a segunda fase. O jogo de estréia foi contra a equipe do Juventus, do Acre, que havia eliminado na fase anterior o time do Atlético Roraima, vencendo por 3 a 1 em Boa Vista. O Cruzeiro entrava como franco-favorito, mas teve dificuldades no primeiro jogo. Jogando fora de casa, os mineiros empataram por 1 a 1. O meio-campo Belletti marcou para o Cruzeiro, e Ico empatou para o Juventus. Com esse resultado, houve a segunda partida em Belo Horizonte, no Estádio Independência. Dessa vez, não houve grandes dificuldades, e a lógica prevaleceu: vitória da Raposa por 4 a 0, com gols de Marcelo Ramos (2), Edmundo e Uéslei. O Cruzeiro avançou às oitavas de final para enfrentar o Vasco da Gama, que havia eliminado o Santa Cruz da Paraíba.

A primeira partida das oitavas de final foi realizada no Estádio de São Januário, no Rio de Janeiro. Mesmo jogando fora de casa, o Cruzeiro não tomou conhecimento da equipe vascaína e aplicou uma sonora goleada: venceu por 6 a 2. A defesa vascaína não teve uma boa noite, cometeu muitas falhas e acabou deixando o jogo fácil para o Cruzeiro. Os gols do time Celeste foram marcados por Uéslei, Gélson, Marcelo Ramos, Roberto Gaúcho, Palhinha e Edmundo; Nílson e Zinho descontaram para os cariocas. Com essa vantagem astronômica, o Cruzeiro entrou mais relaxado na segunda partida, realizada no Independência, e empatou por 1 a 1. Marcelo Ramos fez para a Raposa, e Zinho marcou para os vascaínos. Tudo empatado e o Cruzeiro passava às quartas de final, para enfrentar o Corinthians.

Dessa vez, o Cruzeiro jogou a primeira em casa. E novamente no Independência. O público compareceu em maior número – foram 13.698 pagantes – que transformaram o Independência em um verdadeiro caldeirão. E o Cruzeiro, no embalo da torcida, goleou o Corinthians por 4 a 0, abrindo uma excelente vantagem para a segunda partida. Os gols do jogo foram marcados por Nonato, Palhinha, Cleison e Célio Lúcio. No segundo jogo em São Paulo, o Corinthians conseguiu vencer por 3 a 2, mas não foi o suficiente para conseguir a classificação. Marcelinho Carioca, Souza e Edmundo marcaram para os paulistas; enquanto Roberto Gaúcho e Marcelo Ramos descontaram para os mineiros.

O Cruzeiro chegava às semifinais para enfrentar o Flamengo, mostrando novamente, a sua força em competições de mata-mata. Contava com uma equipe bem montada, que demonstrava vontade, raça e união em todas as partidas disputadas. Não era a melhor das equipes, mas contava com jogadores que poderiam fazer a diferença, como Palhinha, Roberto Gaúcho e Marcelo Ramos, além do paredão Dida, que atravessava uma fase fantástica. Na primeira partida das meias-finais, o Cruzeiro jogou contra o Flamengo no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. E começou perdendo. Sávio arrancou pela esquerda e bateu forte no ângulo, sem chances para o goleiro Dida, Flamengo na frente, um a zero. No segundo tempo, Marcelo Ramos tentou pela esquerda, bateu cruzado. O goleiro Roger Noronha espalmou, e no rebote, Cleison empurrou para as redes, deixando tudo igual. No jogo de volta, no Mineirão já reformado, o Cruzeiro pressionou, mas não conseguiu sair do 0 a 0 contra o Flamengo, diante de um público de 84.414 pagantes. Mas como o Cruzeiro havia marcado um gol fora de casa, se classificou pelo critério de desempate. Então, era partir para a final, e enfrentar o tão badalado Palmeiras!

Palmeiras x Cruzeiro – A decisão

Cruzeiro e Palmeiras chegavam à decisão com as seguintes campanhas: a Raposa com 3 vitórias, 4 empates e 1 derrota; e o Porco com 6 vitórias e 1 derrota. O Cruzeiro passara por Juventus-AC, Vasco, Corinthians e Flamengo. Teve uma ligeira dificuldade na primeira partida, mas conseguiu seguir bem na sequência. Na semifinal, eliminou o Flamengo de forma dramática. Já o Palmeiras, atropelava todos que passara pelo caminho. Logo na estréia, enfiou uma sacola de 8 gols na equipe do Sergipe. Ainda eliminou Atlético Mineiro (também com goleada), Paraná e Grêmio, nas fases seguintes. Logo, o Palmeiras chegava como favorito à conquista do troféu.

A imprensa exaltava o esquadrão de Vanderlei Luxemburgo, e dizia que o Cruzeiro tinha poucas chances de ganhar o título, devido ao forte time armado pelo técnico palmeirense. A equipe alviverde já havia conquistado o Campeonato Paulista, com uma campanha de 27 vitórias, 2 empates e 1 derrota, marcando 102 gols e sofrendo apenas 19, nos 30 jogos disputados. Terminou o campeonato com 83 pontos ganhos (somados os dois turnos) – com 28 a mais que o segundo colocado São Paulo – uma campanha memorável e com um aproveitamento de 92,2%, jamais alcançado por qualquer outra equipe campeã no futebol paulista. Valorizavam demais o Palmeiras, e por muitas vezes, deixavam o Cruzeiro de lado. Mal sabiam eles o que estava por vir.

No primeiro confronto, em Belo Horizonte, as duas equipes travaram um duelo equilibrado. O público compareceu mais uma vez – mais de 68 mil pagantes assistiram ao empate de 1 a 1. O Palmeiras saiu na frente, em uma falta cobrada pelo zagueiro Cláudio. Ele soltou a bomba de fora da área e abriu o placar para os palmeirenses. No segundo tempo, Marcelo Ramos fez o gol de empate para os cruzeirenses, assim reacendendo as chances da Raposa na competição. Mesmo com o empate em casa, tanto os jogadores como a torcida, tinham a esperança em poder surpreender os adversários no jogo de volta. O Cruzeiro partiu para São Paulo sabendo que a missão seria espinhosa. Encontraria novamente com a forte equipe do Palmeiras, mas dessa vez, dentro dos seus domínios. Toda a torcida alviverde estaria lá, marcando presença para empurrar o time. Mas mesmo assim, os jogadores celestes mantinham a confiança de que poderiam derrubar o Palmeiras no Palestra Itália.

Quarta-feira, dia 19 de junho de 1996, foi a data da grande decisão. A festa era enorme antes da partida. Quase 30 mil torcedores pintavam as dependências do Parque Antártica de verde e branco. Gritos de “é campeão” saíam da garganta do público, antes mesmo de começar o jogo. A imprensa comentava que o título praticamente era do Palmeiras, que o Cruzeiro não suportaria a pressão. Bola rolando e para desespero da torcida Celeste, o Palmeiras abre o marcador, aos 5 minutos de jogo. Rivaldo arranca pela ponta esquerda e faz o cruzamento. A zaga do Cruzeiro não consegue marcar, e Luizão surge como um raio, completando para as redes do goleiro Dida, e fazendo o primeiro gol da partida. Era tudo que a torcida do Palmeiras e a imprensa queria. Mais um motivo para eles vibrarem e endeusarem o esquadrão alviverde. O Palmeiras abria vantagem. Então, o Cruzeiro teria que correr dobrado para reverter o placar. E conseguiu empatar o jogo, ainda no primeiro tempo. Roberto Gaúcho cobra escanteio curto para Cleison, mas acaba se atrapalhando com a bola. Amaral e Júnior também batem cabeça, e não conseguem cortar. Falha grotesca da defesa do Palmeiras. Roberto retoma novamente a posse da bola e bate rasteiro para o gol. Bola na rede! Cruzeiro empata a partida e o Parque Antártica fica em silêncio. Assim permanece até o final da primeira etapa. As duas equipes partem para o vestiário, com um gol para cada lado. Com o resultado de momento, a decisão se encaminhava para as penalidades.

No segundo tempo, o jogo ficou mais tenso. O Palmeiras era melhor, criava mais chances e tinha mais volume de jogo. O Cruzeiro levava perigo nos contra-golpes, com Palhinha e Marcelo criando as principais jogadas do time. Além disso, a Raposa contava com a grande exibição do goleiro Dida, que salvava como podia debaixo das traves. Fez defesas importantíssimas, quando a pressão a favor do Palmeiras era grande. Mas aos 38 minutos do segundo tempo, o momento máximo do jogo aconteceu. O Cruzeiro virou a partida! Era uma coisa que quase ninguém esperava. O poderoso Palmeiras ser derrotado em seus domínios, em uma decisão de campeonato. E o lance do gol: Roberto Gaúcho arrancou pela esquerda e fez o lançamento para a grande área. Velloso saiu mal e deixou a bola escapar. Na sobra, Marcelo Ramos arrematou para o gol. Cruzeiro 2 a 1!

Festa em Belo Horizonte. Comemoração em toda Minas Gerais. As ruas foram tomadas por torcedores cruzeirenses. A agitação rolou até a madrugada. O Cruzeiro tornava-se bicampeão da Copa do Brasil. Derrotou o tão falado, o tão exaltado e aclamado Palmeiras. Calou a imprensa, calou a torcida adversária, calou todo mundo. Os jogadores mostraram com raça, vontade, determinação e luta, as forças de um time acostumado com títulos, a grandes conquistas, e a encarar desafios de igual para igual. O Cruzeiro, mais uma vez, mostrava seu prestígio no cenário nacional do futebol com mais um título. Que por sinal, foi o pontapé inicial para o bicampeonato da Libertadores.

Palmeiras 1×2 Cruzeiro – jogo de volta da Decisão da Copa do Brasil de 1996

Local: Estádio Palestra Itália, São Paulo-SP

Público: 29.139 pagantes

Renda: R$ 329.159,00

Árbitro: Sidrack Marinho

Gols: Luizão aos 5 minutos e Roberto Gaúcho aos 25 minutos do primeiro tempo; Marcelo Ramos aos 38 minutos do segundo tempo.

Palmeiras: Velloso; Cláudio (Reinaldo), Cléber, Sandro Blum; Cafu, Marquinhos (Cris), Amaral, Djalminha e Júnior; Rivaldo e Luizão. Téc: Vanderlei Luxemburgo.

Cruzeiro: Dida; Vitor, Célio Lúcio, Gélson Baresi e Nonato; Fabinho, Ricardinho, Cleison e Palhinha (Edmundo); Roberto Gaúcho e Marcelo Ramos. Téc: Levir Culpi.

Campanha do Cruzeiro

10 jogos – 4 vitórias, 5 empates e 1 derrota

22 gols marcados e 9 gols sofridos

Artilheiro do time: Marcelo Ramos (7 gols)

Rafael Laerte Mendes Arruda (@rafaelfeto), é natural de Esmeraldas-MG, tem 17 anos,estudante de Jornalismo do Uni-BH. É fanático por futebol desde a sua infância, quando aos 3 anos de idade, ganhou sua primeira camisa do Cruzeiro, presenteada por seu pai. Desde então, Rafael tornou se um apaixonado pelo clube, frequentando quase todas as partidas no Mineirão. Já esteve presente em vários estádios, como Morumbi, Arena da Baixada, Pacaembu, Engenhão, sempre acompanhando o Cruzeiro aonde for.