
16 dez Copa do Brasil 1993
Na década de 80, o Cruzeiro passou por uma fase de reestruturação. O time esteve em sérias dificuldades financeiras, e por isso viveu um longo período de vacas magras. Nos anos 80, o time somente conseguiu vencer os Campeonatos Mineiros de 1984 e 1987. Montava equipes modestas, que faziam campanhas razoáveis nos torneios em que disputava. Tudo isso, para economizar o máximo possível, assim saneando as dívidas, e reformulando a estrutura do clube. Um mal que veio para o bem. Na década de 90, o Cruzeiro foi arrasador. Durante toda a década o clube conquistou seis títulos internacionais, dois nacionais, um regional e sete de nível estadual. Foi considerado pela imprensa esportiva do Brasil, como o Campeão da Década.
Dentre todos esses títulos, a Copa do Brasil de 1993 teve grande importância para a galeria de troféus do clube. Primeiro por que o Cruzeiro não conquistava um título nacional desde 1966, quando levantou o caneco da Taça Brasil. Segundo que, a Copa do Brasil era uma competição recentemente implantada no calendário da CBF (começou a ser disputada em 1989) – seguindo os padrões da Copa do Rei (Espanha) e Taça da Inglaterra – e dava uma vaga direta na disputa da Taça Libertadores da América do ano seguinte. Assim, a Copa do Brasil passou a ser o segundo torneio mais importante do país, e era disputada por equipes de todos os estados. Até então,apenas Grêmio, Flamengo, Criciúma e Internacional haviam conquistado o torneio. Resumindo, mais um novo troféu na galeria de conquistas do Cruzeiro surgiria no ano de 1993.
O início da trajetória rumo ao título
A Copa do Brasil de 1993 contou com a participação de 32 clubes de 24 estados do Brasil. Ainda não havia sido implantado o sistema de vitória por dois ou mais gols na casa do adversário na primeira fase, que eliminaria o segundo jogo. Portanto, a equipe poderia abrir larga vantagem de gols na primeira partida, que o jogo de volta seria obrigatório. O Cruzeiro encarou a Desportiva do Espírito Santo na primeira fase. O jogo de ida foi realizado no dia 16 de março daquele ano, no Estádio Engenheiro Araripe – Cariacica. A partida terminou empatada por 1 a 1, com Washington marcando para o time capixaba, e Cleison fazendo o gol da Raposa. Três dias depois, as equipes voltaram a se enfrentar em Belo Horizonte, no estádio do Mineirão. Dessa vez, o Cruzeiro atropelou – venceu por 5 a 0 – com gols de Cleison (2), Nivaldo (2) e Éder Aleixo. A equipe mineira avançou às oitavas-de-final para enfrentar o Náutico, que por sua vez, eliminou o CRB de Alagoas com duas vitórias: ganhou por 1 a 0 em Maceió, e goleou por 5 a 0 em Recife.
No dia 6 de abril de 1993, Cruzeiro e Náutico fizeram o primeiro confronto das oitavas, no Estádio dos Aflitos em Recife. A Raposa encontrou sérias dificuldades, principalmente devido às condições precárias do gramado do estádio e acabou sendo derrotada pelo placar mínimo: um a zero para o Timbú. O gol dos pernambucanos foi marcado pelo armador Paulo Leme, e deu ligeira vantagem ao Náutico para a segunda partida. No Mineirão, o Cruzeiro tinha uma missão espinhosa pela frente, pois qualquer gol que o Náutico marcasse, poderia complicar a situação do time celeste cada vez mais. Era a regra do gol fora de casa valer como critério de desempate. Mas o Cruzeiro fez o básico para reverter a vantagem do Timbú: com gols de Nonato e Nivaldo, o time fez 2 a 0 e avançou às quartas de final da competição. Dessa vez, o adversário seria o São Paulo, que havia eliminado Sergipe e Rio Branco nas fases anteriores. O time paulistano usava uma equipe formada por jogadores reservas na competição, pois dava prioridade à disputa da Taça Libertadores da América (na qual se sagrou campeão no mesmo ano). A primeira partida foi realizada no Morumbi, e o Cruzeiro levou a melhor: venceu por 2 a 1, com gols de Boiadeiro e Nivaldo; enquanto Cláudio Moura descontou para os paulistas. O Cruzeiro levava a vantagem de ter vencido fora de casa para Belo Horizonte. No jogo de volta, empate por 2 a 2 – Cleison marcou duas vezes para o Cruzeiro, enquanto Elivélton e Douglas anotaram os tentos do São Paulo. Mais de 36 mil pagantes acompanharam a partida no Mineirão. Cruzeiro classificado para as semifinais, dessa vez para enfrentar o Vasco da Gama.
Semifinal: Roberto Gaúcho e Edenílson são decisivos
Dessa vez, a primeira partida do Cruzeiro seria em casa. Mais de 32 mil torcedores vão ao estádio para empurrar o time celeste. A torcida do Vasco, em menor número, também aparece para dar seu apoio à equipe. O jogo começa e o Cruzeiro ataca como um rolo compressor para cima do Vasco. O atacante Edenílson constrói as principais jogadas do time na partida, dando muita dor de cabeça aos defensores vascaínos. Depois de muita pressão, a Raposa abre o marcador com Luís Fernando Flores – depois de um lançamento de Nonato, ele mergulhou de cabeça para fazer o gol – Cruzeiro 1 a 0. Minutos mais tarde, o Vasco empata depois de uma falha no sistema defensivo do Cruzeiro. A zaga deixa o time carioca tabelar e a bola sobra para França, que chuta cruzado, sem chances para Paulo César Borges. Mas no fim do primeiro tempo, o Cruzeiro marca o segundo gol: depois de um passe de Roberto Gaúcho, Edenílson manda para as redes. No segundo tempo, o Cruzeiro ainda aumentaria a vantagem, em mais um gol marcado por Edenílson – dessa vez de cabeça – depois de um belo cruzamento do inteligente Roberto Gaúcho. Final de jogo no Mineirão, e o Cruzeiro vence por 3 a 1, podendo perder por 1 gol de diferença no jogo da volta no Maracanã.
No jogo de volta cerca de 22 mil torcedores vão ao estádio para apoiar o Vasco. A tarefa era complicada, mas o time cruzmaltino tinha total confiança de que poderia bater o Cruzeiro dentro do próprio domínio. Começa bem, pressionando bastante. Paulo César faz duas boas defesas no início do jogo. Ainda no primeiro tempo, o Vasco abre o marcador com Valdir, depois de uma dividida com o goleiro cruzeirense e vira o primeiro tempo com o placar de um a zero. Na segunda etapa, o Cruzeiro começa a equilibrar as ações e chega ao gol de empate. O capitão Paulo Roberto solta uma bomba em uma cobrança de falta de longa distância e a bola entra no ângulo esquerdo de Carlos Germano. Um golaço do lateral-direito cruzeirense! Quase no final da segunda etapa, a Raposa ainda teve outra chance de marcar: Roberto Gaúcho sofreu pênalti e o lateral Paulo Roberto se encaminhou para a cobrança, mas acabou acertando o poste direito do gol vascaíno. Final de jogo – Vasco 1×1 Cruzeiro. O time mineiro avançava à sua primeira final de Copa do Brasil para enfrentar o Grêmio, que por sua vez já havia conquistado a competição em sua primeira edição, no ano de 1989.
A grande final – mais uma vez brilha a estrela de Roberto Gaúcho
Por um lado, o Grêmio tinha o artilheiro Gílson e o habilidoso Dener. Por outro, o Cruzeiro contava com a inteligência de Roberto Gaúcho e a classe de Marco Antônio Boiadeiro. Era uma final bastante disputada. O Grêmio chegava à decisão com a campanha de 4 vitórias, 3 empates e 1 derrota. O tricolor gaúcho havia eliminado Sorriso/MT, União Bandeirante/PR, Palmeiras e Flamengo. O Cruzeiro também teve a mesma campanha do Grêmio (4 vitórias, 3 empates e 1 derrota), e passou por Desportiva, Náutico, São Paulo e Vasco. Houve um fato curioso nessa decisão: foram escalados árbitros de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul para apitar a decisão. Márcio Rezende de Freitas foi o responsável pelo apito no primeiro jogo em Porto Alegre, e Renato Marsiglia foi o juiz na segunda partida em Belo Horizonte.
Bola rolando no Olímpico e o endiabrado Dener foi o primeiro a levar perigo contra o gol de Paulo César Borges. Ele driblou dois atletas do Cruzeiro, mas bateu fraco para o gol, facilitando a defesa do goleiro. A chuva tomava conta do jogo. O gramado ficara todo encharcado, prejudicando bastante o toque de bola, que era uma das principais características do Cruzeiro. Mesmo assim, o jogo foi recheado de lances de perigo. O Cruzeiro assustou mais. Como em uma cabeçada de Roberto Gaúcho, depois de cruzamento feito pelo veloz Edenílson. No segundo tempo, Dener disparou pelo lado esquerdo e ao entrar na pequena área, finalizou para fora, perdendo uma chance incrível. Cleison também teve a oportunidade de marcar. Ele dividiu a bola com o goleiro Eduardo, mas ao tentar finalizar, foi prensado pelos zagueiros gremistas. Com todas as chances desperdiçadas, o jogo terminou empatado por zero a zero. O Cruzeiro levava consigo um empate e a vantagem de poder decidir dentro de casa. Esperava o apoio do torcedor para poder levantar o caneco dentro do Mineirão.
Dia 3 de junho de 2010, chegava o dia da grande decisão. Mais de 70 mil torcedores lotaram o Mineirão para empurrar a Raposa rumo ao título. Foi o maior público da competição, que gerou uma renda superior a Cr$ 11 milhões. Só a vitória interessava ao Cruzeiro. Um empate por 0 a 0 levaria a decisão para os pênaltis, e qualquer empate com gols, daria a taça ao Grêmio. E o Cruzeiro saiu na frente no primeiro tempo. Roberto Gaúcho arriscou um chute de longe, a bola saiu fraca e defensável para o goleiro Eduardo. Mas o arqueiro gremista não segurou e acabou levando um baita frango – bola no fundo do gol e o Cruzeiro abre o placar – um a zero. Depois do gol celeste, o Grêmio acordou e foi todo para cima, tentando buscar a igualdade. E chegou ao empate: depois de um escanteio cobrado por Carlos Miguel, Pingo subiu na pequena área e cabeceou a bola no canto esquerdo do goleiro Paulo César, deixando tudo igual no Mineirão. E assim terminou o primeiro tempo, tudo empatado no estádio e o Grêmio com a vantagem por ter marcado gol fora de casa. Mas no início da segunda etapa – mais precisamente aos 20 segundos – o Cruzeiro novamente desempatou a partida. Escanteio cobrado, Paulo Roberto ergueu na grande área e Cleison subiu para fazer o segundo gol, de cabeça. O Cruzeiro passava à frente novamente, 2 a 1. A equipe mineira só não fez mais gols, por que o árbitro Renato Marsiglia deixou de marcar um pênalti claro, e o goleiro Eduardo fez grandes defesas durante o restante da segunda etapa. E assim permaneceu até o final, quando aos 48 minutos do 2º tempo, o juiz encerrou a partida. Cruzeiro campeão!
Foi o primeiro troféu da Copa do Brasil levantado pelo Cruzeiro. O time conseguiu uma vaga na Taça Libertadores da América de 1994, competição na qual não disputava desde o ano de 1977. Depois desse título de 1993, mais três troféus da Copa do Brasil viriam a parar nas mãos do Cruzeiro (1996, 2000 e 2003). Além disso, era o início de uma década vitoriosa, onde o Cruzeiro deu muitas alegrias aos seus fiéis torcedores e também cresceu bastante no número de adeptos do clube. Um título que ficará na memória de todos, por engrandecer e fortalecer mais ainda a tradição do Cruzeiro Esporte Clube no cenário do futebol.
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Em pé: Paulo Roberto, Célio Lúcio, Ademir, Robson, Nonato e Paulo Roberto. Agachados: Cleisson, Rogério Lage, Boiadeiro, R.Gaúcho, Luiz Fernando e Edenílson |
Cruzeiro 2×1 Grêmio – Jogo de volta da Final da Copa do Brasil de 1993
Estádio: Mineirão – Belo Horizonte
Público: 70.723 pagantes
Renda: + Cr$ 11 milhões
Árbitro: Renato Marsiglia
Cruzeiro: Paulo César; Paulo Roberto, Célio Lúcio, Róbson e Nonato; Ademir, Rogério Lage e Cleison; Roberto Gaúcho, Edenílson e Éder Aleixo.
Técnico: Pinheiro
Grêmio: Eduardo Heuser; Dida (Charles), Paulão, Luciano e Jackson; Pingo, Juninho, Jamir (Fabinho), Carlos Miguel e Dener; Gilson.
Técnico: Sérgio Cosme
Gols: Roberto Gaúcho aos 12 minutos e Pingo aos 25 minutos do primeiro tempo; Cleison aos 20 segundos do segundo tempo.
Campanha do Cruzeiro na competição
Desportiva 1×1 Cruzeiro
Cruzeiro 5×0 Desportiva
Náutico 1×0 Cruzeiro
Cruzeiro 2×0 Náutico
São Paulo 1×2 Cruzeiro
Cruzeiro 2×2 São Paulo
Cruzeiro 3×1 Vasco
Vasco 1×1 Cruzeiro
Grêmio 0x0 Cruzeiro
Cruzeiro 2×1 Grêmio
Artilheiro do Cruzeiro: Cleison (6 gols)
Confira a galeria de fotos dos Títulos do Cruzeiro
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Rafael Laerte Mendes Arruda (@rafaelfeto), é natural de Esmeraldas-MG, tem 18 anos,estudante de Jornalismo do Uni-BH. É fanático por futebol desde a sua infância, quando aos 3 anos de idade, ganhou sua primeira camisa do Cruzeiro, presenteada por seu pai. Desde então, Rafael tornou se um apaixonado pelo clube, frequentando quase todas as partidas no Mineirão. Já esteve presente em vários estádios, como Morumbi, Arena da Baixada, Pacaembu, Engenhão, sempre acompanhando o Cruzeiro aonde for. |