Constância e confiança. Lições de um segundo turno


Salve Guerreiros!

Como é saudável uma boa vitória, demonstrar regularidade na tabela. O resultado de domingo foi fundamental para nossas pretensões, merece ser exaltado. Só que até os 29 minutos do segundo tempo, o Cruzeiro fazia uma partida bastante incolor. A falta de alguém para pensar o jogo era nítida. Cansamos de ver bolas rifadas ao ataque, um show de tentativas frustradas de ligação direta feita pelos zagueiros. Estava ficando feio ver um Borges lutando sozinho – como luta! – no meio dos defensores pernambucanos. E isso me assustou um pouco. Contudo, ressalto o fato da equipe ter estado confiante o tempo todo de que sairia vencedora. Buscou, bateu cabeça, até desencantar. Valeram três pontos.

Que Montillo faz falta, isso é inexplorável. O argentino, mesmo não estando nos seus melhores dias, é capaz de colocar a bola no chão, alternar os lados do fluxo ofensivo e criar situações. Sem ele, o Cruzeiro se torna uma equipe comum, que precisa sobressair ao adversário na raça e vontade. Tudo bem, não é o fim dos tempos. Mas ainda reitero que é pouco no aspecto tático, e principalmente em termos de plantel.

Não temos um segundo armador no elenco, que possa fazer as vezes do Montillo. Souza não é o camisa dez substituto, pois em minha opinião não dá esse toque de criatividade. Falta a ele a lucidez necessária da criação. Martinuccio? Incerto ainda.

Achei que Roth insistiu demais e demorou a consertar a falta de transição que o meio-campo apresentava. Era muita gente para destruir e pouca para pensar. Se repararmos, o Cruzeiro entrou com um verdadeiro muro na escalação: Léo na lateral-direita é um terceiro zagueiro, já que apoia muito pouco. Leandro Guerreiro naturalmente joga mais recuado, por vezes até entre a dupla de zaga. Fora os outros dois volantes. 

Ou seja, mandamos a campo uma equipe sólida na contenção, mas que demonstrava enormes dificuldades para criar. E assim foi até o segundo tempo, quando se abriu o time com três atacantes, incomodando mais. O que não significa que o Cruzeiro foi mais lúcido, pensante. Foi mais insistente. São propostas diferentes.

Lucas Silva sacado

Não convenceu a explicação de Celso Roth sobre a saída do Lucas Silva da equipe titular. Segundo o treinador Lucas teve uma “queda de rendimento natural”. Eu particularmente não a percebi. Desde que entrou, Lucas apresentou bom futebol e justamente, maior lucidez na distribuição e saída de bola do que seus concorrentes. Contra o Atlético, foi um dos melhores da equipe.

É natural o garoto oscilar, errar um passe aqui, segurar uma bola ali. Sinto eu que no fundo, Celso Roth receia perder a pegada que sua trinca de volantes precisa ter. Lucas apresenta características diferentes dos outros volantes cruzeirenses, é mais inteligente. Não que Roth prefira uma equipe mais burra, mas ele é adepto de uma equipe mais destruidora, por isso Lucas Silva saiu da equipe.

Atuação de Everton

Pela terceira partida consecutiva, Everton é destaque. Quem diria. Sempre critiquei o jogador, que nunca apresentou grande futebol. Entretanto, reconheço que nas últimas partidas ele tem merecido palavras positivas. Acho que as vaias e críticas o fizeram perceber que não precisaria fazer nada além do simples para ser titular da abandonada lateral-esquerda do Cruzeiro. Everton tem atuado com muita vontade, apoiando com eficiência e constância. Domingo ele foi o personagem no primeiro e segundo gols, fora outras boas jogadas criadas. Além disso, tem sido bem coberto pela defesa e tem feito a recomposição de forma correta. Um grande avanço no seu futebol. Tem sido o típico caso de jogador que quando joga sério, com vontade e cumprindo sua função tática, consegue sobressair. Em um time desequilibrado pela ausência de um lateral-direito de ofício e sem seu principal mentor, o escape por um dos flancos precisa ser bem trabalhado. Nos últimos jogos, vem sendo.

Elber e a confiança

Todo jogador precisa estar leve, confiante de que pode render tudo que sabe. Quando se vem da base, essa necessidade é ainda mais fundamental. Elber sempre foi visto como uma boa alternativa; rápido e ciscador o garoto parte para cima. Só que desde que surgiu no profissional, parecia lhe faltar a certeza de que a jogada que estava ali tentando era a melhor, ou se arriscar drible era a opção certa. Faltava confiança.

O meia entrou bem na partida, deu opção, pediu a bola, marcou seu gol. Um gol que precisa representar muito, para ele manter a regularidade, a coragem de arriscar. Lembro-me de episódios parecidos com Bernardo, Diego Renan e Dudu. Jogadores oriundos da base, com boas perspectivas, mas que começaram atuando sem a devida confiança, até com a impaciência da torcida. Levou algum tempo para conseguirem se firmar.

A seu favor, tenhamos em mente também que o garoto sempre entra no segundo tempo, com a equipe em dificuldades, raramente ao contrário. Isso pesa sim. Que Elber entenda que ele não é o Neymar para ter que entrar e resolver sozinho, mas que confiante, pode ajudar demais o Cruzeiro. Sua comemoração foi bela, verdadeira. É de pitadas assim que o Cruzeiro precisa.

Contra o Botafogo, adversário direto na luta pelo G-4, é preciso o mesmo espírito. Provavelmente será nossa última partida em solo belorizontino no campeonato, devido à punição que certamente virá. Teremos o elenco mais encorpado e se mantém a obrigação de somarmos outros três pontos. Apesar do horário ofensivo, fica a chamada para a torcida comparecer e continuar fazendo sua parte – meia dúzia de arremessadores não nos representa como um todo. Juntos, o Cruzeiro tem sido mais forte, mais coeso. Continuemos carregados pelos bons ventos..