Começo de ano tumultuado no Cruzeiro


Poucas vezes vi um início de temporada tão tumultuado no Cruzeiro. “Novela” Montillo, atraso de salário, desempenho técnico ruim nos dois amistosos disputados, declaração infeliz do novo presidente , carta dos atletas em repúdio a essa declaração e, por fim, acidente com o zagueiro Victorino.

Sim, amigos, em um mês, tudo isso aconteceu na Toca da Raposa 2. De todos os problemas, os únicos solucionados são o de Victorino, que felizmente não se feriu e, ao que tudo indica, não será problema para a estreia no Mineiro, e o salário atrasado, que foi pago na última terça-feira, segundo informação da diretoria. O restante se arrasta, entrando pelo mês de fevereiro.

Foto: VipCommO caso Montillo já acabou com a paciência até mesmo do mais ponderado e calmo cruzeirense. Após uma onda de apoio, no início da novela, à permanência do meia, hoje já percebo, nas redes sociais, certo desinteresse pelo desfecho da história. Se ele ficar, bem; se sair, vida que segue, parece-me estar pensando o torcedor.

E está certo. O sentimento tem de ser exatamente esse. Preferiria não perder o Montillo, mas entre ter as contas em dia e ver meu time financeiramente viável ou manter a qualquer custo um atleta que sequer demonstra muito interesse em ficar, fico com a primeira opção. Sou contra a gastança desenfreada no futebol. Antes de tudo, o importante é o Clube possuir saúde financeira. Depois disso, como conseqüência, vêm as vitórias e títulos.

Portanto, nesse episódio, torço mais pelos interesses do Cruzeiro. É claro que, se for possível contar com a técnica diferenciada do Montillo, melhor. Agora, não apóio a ideia de se fazer loucuras por um atleta que, por carta, manifestou interesse em sair.

Outro fato que tem perturbado o ambiente na Toca da Raposa nos últimos dias é o atraso no pagamento do 13º salário dos jogadores. Pela lei, evidentemente, todos têm direito ao recebimento. Isso é incontestável. Se, no entanto, o recebimento dependesse da produtividade, nem mesmo gorjeta essa turma de 2011 mereceria.

Mas, enfim, não é isso que está em questão. O fato é que o Cruzeiro revelou, neste mês, uma situação preocupante. A falta de caixa para quitar suas obrigações trabalhistas é um sinal grave. Há muito tempo não se tinha notícias de uma insuficiência do Clube para sanar despesas dessa ordem.

Definitivamente, é preciso estabelecer ações para o aumento de renda. A principal bandeira tem de ser um programa forte de sócio do futebol. Algo que dê ao torcedor não só a impressão de que comprou um “carnê” de ingressos para todos os jogos do time, mas que ofereça a certeza de que ele faz parte do dia a dia do Clube, inclusive com voz política.

Nessa história, há outra face, que é o torcedor cruzeirense. Este precisa romper com a cultura do “reclamar muito e ajudar pouco”. Cabe a ele “comprar” o Clube, aderindo a programas como sócio do futebol. Caso contrário, cada vez mais o veremos em disparidade econômica com as equipes do “Eixo”, sempre amparadas por estatais, “unimeds” e “traffics” da vida.

Quanto ao episódio da declaração do presidente Gilvan e a carta dos jogadores em resposta, uma sucessão de erros desencadeou na revelação de que um regime anárquico vige na Toca da Raposa. O novo presidente, irritado com a pergunta sobre o atraso, ironizou a falta que esse dinheiro faria na vida dos muito bem pagos atletas do Cruzeiro. Errou. Se um, dois ou dez dias de atraso, não interessa. O fato é que atraso salarial traz prejuízos, sim. Ainda que seja para quitar a parcela da BMW. E irrita quem deixa de receber, não quem deixa de pagar.

Portanto, a declaração foi muito infeliz.  E acredito que, mais calmo e com a serenidade que lhe é peculiar de volta, o próprio presidente reconheceria isso. Mas eis que uma “tchurminha” tem a torpe ideia de tornar pública, por meio de uma carta à imprensa, a insatisfação do elenco com o teor das palavras do presidente.

Pronto. Quase como uma bomba, a carta ganhou destaque nas principais redes de notícia esportiva. Sem demonstrar qualquer preocupação com a imagem da Instituição e com o seu maior patrimônio – a torcida -, os jogadores desrespeitaram, antes de tudo, a imagem hierárquica da figura do presidente. Confrontaram-no, publicamente, por uma situação que poderia (e deveria) ser resolvida lá dentro.

Pergunto: onde estão os líderes do grupo, como o capitão Fábio, para demovê-lo dessa ideia de jerico? Será que envolvidos na elaboração da carta? E mais: como reagiriam, os remanescentes de 2011, se fossem, por meio de carta à imprensa, cobrados pela torcida, por conta do pífio, lamentável e péssimo desempenho no ano passado? Está na hora de essa “tchurminha”, boa de motim e fraca de bola, aprender algumas coisas, sobretudo respeito ao Clube, que tem no seu presidente a figura maior da representação da torcida.

E por onde andavam Dimas Fonseca, Valdir Barbosa e Guilherme Mendes, que não contornaram a situação? Os jogadores alegaram que, antes de publicar a carta, tentaram contato com o presidente, para externar a insatisfação, mas não o localizaram. Mas e a diretoria de futebol, eles não a localizaram? Ora, é para isto que serve também uma diretoria de futebol, canal entre a presidência e atletas, inclusive para solução de problemas. Não conheço a dinâmica diária do Cruzeiro, mas me parece que falta um pouco mais de engajamento do trio. Assim como dos jogadores em seus afazeres.

Até agora, nos dois amistosos disputados em 2012, o time celeste não apagou a má impressão de 2011. A preocupação do torcedor, traumatizado pelo final de ano tenebroso, já se nota. Não jogo a culpa disso em Vágner Mancini, como prefere a maioria. Sou adepto da teoria de que treinador, na média, é tudo igual. Poucos são excepcionais. Alguns outros são péssimos. Vejo o Mancini dentre os médios.

Já o elenco é limitado. As laterais carecem de melhor provimento. A zaga perdeu seus dois melhores jogadores em 2011, Gil, ainda no decorrer do ano passado, e Naldo, injustificadamente não adquirido pelo Clube. No meio de campo, houve uma renovação grande no contingente de volantes, o que requer tempo para maiores análises. A armação fica por conta de Montillo, que, se sair, a deixará nas mãos – nos pés, melhor dizendo – de Roger, o que é um deus-nos-acuda. O ataque, grande drama do ano passado, está o mesmo, com Wellington Paulista e Anselmo Ramon.

Sinceramente, não me entusiasmo com os 4 gols (3 deles de pênalti) de Wellington Paulista neste início de temporada. Suspeito que continua o mesmo: muita encrenca, chatice e briga em campo e pouco futebol. Estou na expectativa pela estreia de Walter e retorno de Wallyson. É onde ainda reside um pouco de esperança no ataque celeste para este primeiro semestre.

Enfim, problemas mil nesse início de temporada. Alguns de fácil solução, outros, nem tanto. Para todos eles, uma receita: trabalho. Todos têm desafios para cumprir e ajudar o Cruzeiro, do presidente ao torcedor. Todos podem se engajar um pouco mais. É só querer!

Avante, Cruzeiro!