12 jul Coisas que aprendemos com a Copa
Pronto, acabou. Depois de toda a alegria, o drama, a comédia, a tragédia, chegou ao fim a Copa do Mundo da África do Sul com a inédita campeã Espanha. E por mais que toda Copa do Mundo tenha lá suas lições de moral e etc. , não me lembro de nenhuma que tenha me empolgado tanto com tantos times quanto essa – e tão pouco com a seleção brasileira.
Analisando o que a Copa nos ensina, essa seria a primeira lição: a voz do “polvo” é a voz de Deus. Mentira, tô brincando. Porque como diria @danilogentilli, mais insano do que achar que um polvo é profeta é pensar no indivíduo que decidiu que o polvo seria um profeta. A verdadeira lição é a de que a voz do povo (povo mesmo) pode ser, senão a voz de Deus, a voz da justiça. Portanto, próximo treinador brasileiro, pegue a dica com o grande mestre Telê Santana: o povo gosta de pão e circo. Leve a seleção dos nossos sonhos, porque se levar a seleção dos seus sonhos, a chance de dar errado é muito grande! Não precisamos vencer sem convencer; precisamos sonhar. Quem nos tira esse direito pisa nos cinco títulos que temos e em todos os que poderíamos conseguir.
A segunda coisa que aprendemos com a Copa é que não interessa o quanto torcemos para um time de futebol, é o momento de tirar férias dele. Afinal, quem fica bitolado pensando em campeonato brasileiro, derrota de Libertadores, provável fracasso na Sul-Americana e outras questões regionais em pleno mês que o mundo para na África está perdendo um tempo precioso, que poderia ser gasto com coisas bem mais interessantes. A Copa é o momento onde a gente tem o coração em várias seleções. Não existem raízes, somos do mundo! Somos livres para torcer para Brasis, Méxicos, Camarões, Japões, Novas Zelândias, velhos mundos e até Argentinas. Em que outro momento da vida você daria pulos ensandecidos com um gol de Fórlan ou vibrasse como se uma defesa de Casillas fosse a última coisa que importasse na vida? Em que outro dia você vibraria com as zebras e ficaria tão animado por ganhar um bolão de 7×0 que ninguém jamais imaginou?
A Copa nos ensina que, para certas coisas, realmente não existem fronteiras. Os interesses se misturam, os sonhos, as tradições, tudo por uma finalidade que vai além de uma taça dourada com tirinhas verdes. Nesse mês o mundo todo é feliz. Alguns ficam felizes pelo belo futebol, outras pelos belos futebolistas. Tem gente que torce para mais de uma seleção, e fazer uma fé em uma terceira esquadra não é ser “vira folha”, mesmo porque na Copa até as torcidas se misturam. Não existem fronteiras entre os povos nos continentes e nem nas arquibancadas. Brasileiros e argentinos andam na contramão enquanto seus técnicos prometem loucuras e choram as pitangas de mãos dadas quando chega a hora de partir. E aí, quando saímos, nós e os hermanos nos colocamos na pele de ganeses, alemães, espanhóis e holandeses. E isso não é vergonha nenhuma! O futebol é, realmente, uma coisa globalizada. E linda.
O que a gente mais aprendeu com a Copa, no entanto, não tem cor, nem manto, nem hino. Aprendemos que futebol é só isso: futebol. Podemos nos magoar de vez em quando, e chorar igual o Salomão, desde que no outro dia a gente seja capaz de rir disso sem constrangimento, sem dor e achando tudo muito divertido. A gente pode e deve se orgulhar da garra dos uruguaios, que fizeram jogos lindíssimos, de encher os olhos, com mãos salvadoras, chutes redentores e tudo o que esperávamos de uma legítima seleção sul-americana. Na guerra, esse é o espírito. Mas a África do Sul 2010 nos ensinou que não precisa, sempre, ser uma guerra. E quando nos lembrarmos da vontade uruguaia que engrandece, nos lembremos também da seleção anfitriã que, contrariando totalmente os rostos carrancudos de jogadores mega concentrados, entrava em campo cantando, dançando, sorrindo. A guerra deles eles já viveram, a história está na nossa cara a nos contar, e eles viram a Copa como o que ela realmente é: uma grande brincadeira. Futebol é brincadeira. Quem não se sente feliz com o imprevisível não poderia se denominar “torcedor”.
Agora, até que a próxima Copa chegue ao quintal das nossas casas, teremos campeonatos brasileiros, Libertadores da América, Sul-Americanas, Mundiais e outras competições para colocarmos em prática aquilo que aprendemos com a África 2010. A vontade para conquistar os títulos tem que ser de guerreiros; o espírito, de africanos. Barulhentos com as vuvuzelas, mas vidrados no que interessa: a alegria. Vencer é apenas o fim do caminho, onde nem sempre o que nos interessa é só o percurso. O importante, para fanáticos como eu, nem sempre é “competir”, mas todos os passos dessa estrada devem ser apreciados. Afinal, como diz Shakira na música-tema dessa Copa, temos tudo, por que não acreditar? Quem faz o caminho sabe o destino que o espera.
E o destino que eu espero para o Cruzeiro, esse ano, é ser Copa: ser feliz, alegre. Tirar essa cara carrancuda de quem está indo para uma guerra, porque no futebol ninguém tem que morrer. Vamos entrar em campo cantando, dançando, sorrindo. Vamos jogar um futebol sem fronteiras, sem preconceito, sem salto alto e sem máscaras. Vamos jogar “futebol”, e não “dinheiro”. Pela amizade entre as torcidas, e não pelo ódio entre elas. Quem sabe pavimentando esse caminho menos sério, menos chato, não encontremos aqui o futebol de encher os olhos que nos levou à final da Libertadores do ano passado, e possamos sonhar novamente com o Tri no ano que vem? Dessa vez com muita vuvuzela, alma lavada e passado para trás. Quem sabe assim, no futuro, o polvo não escolha a caixinha com a nossa bandeira? Com as cinco estrelas que não representam apenas o Cruzeiro Esporte Clube de Minas Gerais. Representam o mundo.
Adeus, Copa. Te vejo daqui a quatro anos, com muito a ensinar. 🙂