Adilson Batista, a personificação do jeitinho mineiro



A torcida cruzeirense, além de linda e apaixonada, é também louca bipolar – como eu a chamo carinhosamente. Não estou chamando ninguém de louco de pedra e nem fazendo pouco da bipolaridade, que é uma doença grave.  Essa é só uma forma resumida de dizer que somos a torcida que prefere ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

Nosso jeitinho mineiro de confiar desconfiando se personifica numa figura morena de olhos azuis que atende pelo nome de Adílson Batista. Pronto. É só falar isso que nego já vai 1) me elogiar a vida inteira ou 2) me chamar de “adilsete” e me renegar até à morte. Mas mesmo assim enfrento a fogueira das vaidades da família azul pra falar sobre algo que me incomodou essa semana: notícias de que o nosso treinador estaria sendo cotado para assumir o Grêmio no ano que vem.

Adilson Batista - Foto: VipCommO meu problema com essa história toda é a tradição. No Brasil, um treinador não vinga por muitos anos, e Muricy Ramalho, que seria o último Highlander, foi-se. Essa coisa mesquinha do imediatismo brasileiro às vezes me irrita. Nego quer tudo pra ontem, quer ser campeão do universo pra ontem, mas não dá base hoje para que a equipe faça sua parte – e não estou falando dos salários.

Exemplo prático e manjadíssimo para desenhar o que estou dizendo: Alexander Ferguson. O nome é familiar? Pudera. Alex está há mais de 20 anos à frente do Manchester United. Se os dados não me traem, ele entrou no clube em 1986, e foi ganhar sua primeira Premier League pelo ManU na temporada de 1992/93. Continha básica: 86 pra 93 são sete anos. Sete anos sem um título importante. E quantos BONS times disputam o campeonato inglês de futebol?

Enquanto isso, por aqui, tivemos o Luxa, que ganhou tudo o que disputou pelo Cruzeiro em 2003 e, por N motivos, encerrou uma trajetória promissora e foi procurar outros clubes. Lá, no ManU, Alex não é o que tem maior permanência; um outro treinador que me foge o nome foi técnico dos demônios vermelhos por mais de 23 anos.

E, além disso, gurizada, tem outras coisas. Ferguson não é nem um pouquinho querido por quem trabalha com ele e muita gente o acha in-su-por-tá-vel. Admiro muito isso nos ingleses: o jeito de ser das pessoas não compromete o andamento dos trabalhos. Aqui, qualquer falastrão perde ou ganha a confiança do povo em questão de segundos, e depois não pode mais trabalhar sossegado porque 1) coloca-se nele um excesso de confiança (e, consequentemente, excesso de frustração) ou 2) já tem galera odiando ele, pedindo a cabeça e não dá chance nenhuma para que o cara faça seu trabalho.

Fiquei muito chateada ao saber dessas especulações sobre Adilson Batista, pois na minha opinião, um técnico que deu dois campeonatos mineiros históricos para o Cruzeiro (só esqueceremos dois 5×0 consecutivos quando tivermos dois 6×0 da mesma forma), conduziu o time em dois mata-mata de Libertadores da América e foi vice-campeão de uma delas simplesmente NÃO PODERIA SAIR DO CLUBE. Tá, seria bem melhor sermos campeões, mas não rolou. E quando todo mundo achava que iríamos seguir os passos do Flu e amargar o pesadelo por anos, foi Adilson Batista que, entre pardalzices e sanidades, conduziu o clube ao atual quinto lugar, a dois pontos do G4.

Como diria Lula… deixem o homem trabalhar! E comprem os lencinhos, pois se ele for embora, vamos todos chorar na cama que é lugar quente. Quem vocês colocam no lugar dele? Todo mundo vê que o paranaense é bom, e parece que só a gente ainda insiste em não o querer. AB não é santo, e não está no TOP 10 do mundo, e o Cruzeiro é bem maior que ele e que qualquer um que virá ocupar o lugar caso ele realmente saia. Disso tudo eu sei. Mas sei também que, além de ser a personificação do jeitinho mineiro de confiar desconfiando, ele também será a figura em potencial de que a gente só dá valor a algo quando perde. Ainda há tempo para que isso não aconteça. Para que descubramos, AGORA, que queremos coisas que não suportaremos perder – como outra Libertadores; como o técnico Adilson Batista.