17 mar A César o que é de César
Diz na Bíblia que, quando perguntado por fariseus e herodianos se era certo pagar tributos a César, político romano, já que só se deviam tributos a Deus, Jesus respondeu: “Dê a César o que é de César; a Deus o que é de Deus”.
Ainda hoje a expressão é usada por muitas pessoas, em muitos contextos. Hoje, por exemplo, a máxima “dê a César o que é de César” cabe muito bem na realidade do Cruzeiro. Enquanto alguns outros times de bairros vizinhos ou região metropolitana da cidade esperam resultados de jogos envolvendo Chapecoense, Brasiliense e outros “enses”, ou acabam de ascender à segunda divisão do campeonato nacional, o Cruzeiro recebe não um time qualquer que luta por alguma posição em tabela. Recebemos hoje a seleção do país que vai sediar a Copa do Mundo.
E enquanto alguns dos nossos olham para o próprio umbigo no intuito de pensar, com o máximo egoísmo, que temos que nos focar na Libertadores e não em amistosos, Adilson Batista promete força máxima no jogo de hoje. Muito corretamente. Cruzeiro x África do Sul não é apenas mais um amistoso; é um jogo para os olhos do mundo, que coloca o nosso time exatamente onde ele sempre deve estar, por honra e merecimento: no centro das atenções de mais de 70 países ao redor do globo terrestre.
De tantos clubes para serem escolhidos, a seleção do brasileiro Parreira escolheu, além de outros dois, o Cruzeiro Esporte Clube de Minas Gerais. É nosso dever, então, honrar este digno compromisso e comparecer em massa ao Mineirão para torcer, vibrar, e mostrar para quem quiser ver, em qualquer parte do planeta, a força da China Azul. Se a gente tem jogo no fim de semana, ou semana que vem pela classificação, isso pouco importa. O que importa, hoje, é sermos hoje mais que vitrine dos nossos jogadores; é sermos exemplo de futebol bonito, com garra e emoção.
Hoje, como em um jogo de vida ou morte, nenhuma falha será perdoada. Nenhum corpo mole, nenhuma máscara entrará em campo no Gigante, pelo menos do lado azul do túnel. Não tivemos a habitual concentração, mas isso não nos exime de estar bastante concentrados no foco: a vitória.
E a festa. Jogar contra a África do Sul vai ser histórico, por diversos motivos. A África é um continente sofrido, esquecido por muitos impérios, que fazem questão de dar as costas para o lugar onde a vida começou. E, ainda assim, é impressionante a força que eles encontram, apesar do apartheid social problemas econômicos, para fazer festa, vibrar e amar, em proporção igual de quem os ama, quem os acolhe. Eu me sinto muito honrada, como torcedora cruzeirense, pelo convite, e mais ainda pela aceitação do mesmo por parte da nossa diretoria e comissão técnica. E se alguém hoje vier encher o saco, usem a máxima do dia: A César o que é de César; ao Cruzeiro a África do Sul, o mundo e a união dos povos.
No mais, a gente se vê hoje, às 21:50h, o horário nobre do futebol brasileiro, para fazermos uma festa linda, digna de muita cantoria e barulho. Levemos apitos, bandeiras e balões, e recebamos com alegria e peito aberto as vuvuzelas do Bafana Bafana. Não vamos deixar passar um detalhe nesse dia que, tudo indica, vai entrar para a história do futebol, o esporte mais capaz de ligar as pessoas à liberdade. Como diria Gabriel, o Pensador, “salve nossos irmãos africanos do outro lado do oceano”.
Salve e sejam bem vindos a Belo Horizonte, a casa do melhor clube brasileiro do século XX.