Uma andorinha só não faz verão, mas consegue acordar todas as outras


Finalmente ele chegou. O Cruzeiro acertou a contratação de Dedé, jogador de seleção e, em forma, um dos melhores zagueiros do país. Se não o melhor. Contratação mais cara da história Celeste, o investimento precisa ser visto como extremamente válido pela torcida.

O acerto com o zagueiro demonstra aspectos importantes. Do ponto de vista técnico, o ganho com Dedé é indiscutível. Mesmo vindo de uma fase contrastante da que o consagrou, ele não desaprendeu a jogar. Dedé jogava em um time combalido, onde era a única faísca de brilho e liderança, carregava um fardo pesado. Chega uma hora que cansa, desgasta, desanda e o desempenho é afetado. No Cruzeiro, Dedé encontrará uma situação totalmente oposta; um clube melhor estruturado, elenco fortalecido e promissor, com uma torcida que pede um novo ídolo. No papel, a fórmula é boa.

Contudo, Dedé não jogará sozinho. Apesar da qualidade e titularidade prévia, ele chegará para um setor que ainda carece de ajustes. As primeiras partidas do Cruzeiro na temporada têm mostrado uma defesa ainda em adaptação, oscilante em determinados momentos. Dedé não fará verão sozinho.

Hoje a dupla de zaga titular ainda é incerta. Paulão começou bem, mas antes da lesão vinha cometendo erros tolos. Léo voltou bem ao time, enquanto Thiago Carvalho e Nirley não convenceram. Bruno Rodrigo é o que mostra futebol mais seguro e sai na frente. Já Victorino, só Deus sabe quando volta e se volta.

Muitos dos riscos que a defesa cruzeirense vem sofrendo são justificados pelos desacertos nas laterais e cobertura dos volantes. Ceará e Everton cumprem bem a função de apoiar, mas sofrem na contenção. Contra o CSA, os flancos cruzeirenses foram verdadeiras avenidas. É preciso o acerto da sincronia entre quem sobe e quem fica e, aquele que ficar, precisa ser mais combativo defensivamente a fim de diminuir os espaços.

Mas o ponto chave está na proteção dada pelos volantes. Enquanto Nílton começa bem de 2º volante, Leandro Guerreiro destoa. Lento e sem combatividade, tem assistido aos adversários jogarem em seu setor, em suas costas. Tendo em mente que Dedé é um zagueiro que sai bastante para o jogo, é vital ter um volante cobrindo com pegada e eficiência. Guerreiro demonstra não estar no melhor momento para tal função. Cabe a Marcelo Oliveira prover uma saída. Talvez, com Henrique voltando, Nílton poderá ser esse homem da contenção. O fato é que alguém precisa ser mais combativo e protetor na volância. De nada adiantará uma zaga com Dedé se a mesma segue exposta.

Em suma, é importante definir uma dupla de zaga que possa se completar, além de acertos pontuais na proteção do sistema defensivo através dos laterais e volantes. O time vai ganhando identidade lá na frente e com a retaguarda não pode ser diferente. Marcelo Oliveira sabe disso.

Dedé agregará demais ao futebol cruzeirense. É uma bola dentro da diretoria ir atrás e fechar com um zagueiro de nível internacional, de apenas 24 anos e ainda a evoluir. O elenco montado pode parecer exagerado em quantidade, mas reflete a necessidade de profundidade na disputa das várias frentes que teremos. Fora isso, o pé-de-obra que foi trago nos dará uma base por algumas boas temporadas, aspecto positivo que experimentamos poucos anos atrás.

Acima de tudo, bancar Dedé demonstra protagonismo, pensamento ambicioso, brilho nos olhos para voltar às glórias. Vale levantar a bola que o Cruzeiro perdeu apenas uma negociação, com Alex. De resto, brigou diretamente com clubes do porte financeiro e técnico de Santos, Corinthians, Palmeiras, Botafogo, São Paulo, Atlético-MG e até PSG por jogadores pontuais como Everton Ribeiro, Diego Souza, Lucca, Dagoberto, Ricardo Goulart e Dedé. E ganhou todas.

A diretoria do Cruzeiro está no caminho certo. O presidente Gilvan tem aparecido menos e trabalhado mais, enquanto Alexandre Mattos cresce a cada dia, provando ser um dos melhores reforços dos últimos anos. É preciso dar-lhe o crédito por ter aceitado um Cruzeiro moribundo pós-Dimas Fonseca, para hoje ter o respaldo maciço dos cruzeirenses com o trabalho sério que vai desempenhando.

Quanto ao Dedé, aplica-se aquela velha máxima de uma andorinha só não fazer verão. Mas essa mesma andorinha tem totais condições de acordar todas as outras e convidá-las a fazer. O Cruzeiro Mitou.

Foto: Rodrigo Ciantar