Tostão na Revista do Esporte de 1966


Tostão na Revista do Esporte de 1966 - Foto: Revista do Esporte – 1966

O ano de 1966 foi mesmo de Tostão. E do Cruzeiro, por consequência. Pois até a “carioquíssima” Revista do Esporte, na época destinada essencialmente ao futebol carioca e paulista, se rendeu à encantadora bola jogada pela principal estrela da Raposa.

Na foto acima, as duas páginas dedicadas pela revista ao grande nome do time celeste. Abaixo, a íntegra do texto, preservando inclusive as regras ortográficas da época.

AOS 19 anos de idade, fase em que o homem não costuma dar muitos exemplos de amadurecimento, o mineiro Tostão surpreende pela sua conduta reta, no plano esportivo e fora dêle, capitalizando simpatias e tornando-se ídolo e exemplo para a juventude que o aplaude nos estádios. E o segrêdo que o levou a uma posição em que muitos sonham chegar e dificilmente conseguem foi a simplicidade, que tem sido a tônica de todos os seus atos na vida.

EDUARDO Gonçalves Andrade, (êste o nome real do craque do Cruzeiro) desde cedo aprendeu a ver a vida com os olhos da simplicidade, recebendo tudo com humildade. Por isso, os elogios com que foi premiado depois que se destacou de maneira extraordinária nos juvenis do Cruzeiro jamais lhe subiram a cabeça. Ao contrário, acolheu-os como incentivo para continuar progredindo na carreira que escolhera para seguir.

DEPOIS que foi promovido ao time de cima do campeão mineiro, Tostão passou a ser assunto obrigatório no noticiário esportivo cotidiano, em Belo Horizonte. Não só os torcedores mais extremados do Cruzeiro, como também os observadores mais insuspeitos cumularam-no de elogios, considerando-o como um dos mais destacados jogadores do Brasil. Isso, porém, não foi motivo para que Tostão mudasse o seu modo de ser. Continuou o mesmo menino que jamais deixou de seguir a orientação paterna e que procurava tirar de cada elogio, de cada conselho, um ensinamento, um incentivo para melhorar.

 QUANDO o seu nome foi premiado com a convocação para o escrete brasileiro – e tôda Minas Gerais se levantou, aplaudindo a medida da CBD e exigindo a sua ida a Inglaterra, não foram poucos os que pensaram que estava na hora de Tostão mudar alguma coisa. Êle, porém, continuou o mesmo. Como o mesmo continuou quando integrou o escrete brasileiro no jôgo contra a Hungria e marcou um gol que sacudiu a torcida e deu esperanças de classificação ao Brasil. Na volta, ao recebeu um Volkswagen de presente da torcida mineira, ainda não se abalou nem modificou o seu modo de ser. A simplicidade continuou marcando todos os seus atos, dentro e fora de campo.

MAS, além da simplicidade, Tostão é o que é (e disso êle nunca fêz segrêdo) porque só sabe fazer amigos, não se envergonha de pedir conselho aos mais experimentados, é combativo, acredita em Deus, reconhece os seus erros, acha que o amor é a mola da vida, leva uma vida comedida, não é de contar vantagem, sempre pautou os seus atos por uma disciplina rígida, respeita a todos para ser respeitado, faz o impossível para honrar sua palavra e sempre tem um gesto e um termo carinhoso para os que dêle se aproximam em busca de auxílio. Isto tudo somado à sua extraordinária e bendita simplicidade fêz o Tostão que todos admiram.

Em tempo: esta edição da Revista do Esporte é a 404, de 3 de dezembro de 1966. Ou seja, edição de quatro dias antes do título inédito da Taça Brasil, conquistado em cima do Santos.