Tem certeza que o burro é ele?


Não estou te chamando de burro, cruzeirense. Mas sabe aquele pessoal que não vê os jogos, não lê os textos e comenta só pelo título e/ou resultado? Pois é, esse texto vai, sem açúcar nem afeto, pra esse pessoal. Após a inacreditável derrota sofrida frente ao Atlético-PR, no Mineirão, o que se viu foi uma enxurrada de críticas ao treinador português. O mais comum foi vê-lo sendo chamado de burro. Sejamos razoáveis, quando saiu a escalação para a partida, não vi ninguém questionando. Todo mundo viu que era o melhor time possível. E o Cruzeiro amassou seu adversário, criou diversas oportunidades e esbarrou nos próprios problemas individuais. Seja na parte ofensiva ou defensiva, os próprios jogadores do Cruzeiro se sabotaram. Mais uma vez.

Então, de quem é a culpa? Analisando o último jogo, podemos ver claramente qual foi a diferença. Nosso ataque criou, mas não foi efetivo, desperdiçando muitas oportunidades. O ataque do Furacão foi prolífico, tendo 100% de aproveitamento nas finalizações certas. Ou seja, quando chutou no gol, foi gol. Situação semelhante já havia acontecido na nossa derrota para o Santa Cruz, no Recife, por 4 a 1. O nosso goleiro Fábio (a quem critico incessantemente e respeito quem discorda), saiu de campo com um número incrível: zero defesas. Se tivesse um cone no lugar faria o mesmo efeito.

Você pode ver pelo mapa de finalizações da partida, retirado do ótimo site Footstats, que o Atlético-PR finalizou 9 vezes durante o jogo. O diagrama mostra de onde essas finalizações ocorreram, o que deixa claro que o nosso miolo defensivo permitiu pelo menos outras três conclusões de dentro da área. Poderia ter sido pior, mas os disparos foram pra fora. O nosso adversário conseguiu arrematar, preferencialmente, pelo meio.

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Já o nosso ataque concluiu 4 vezes de dentro da área, outras 8 de fora. E parou no goleiro Weverton, em noite inspirada. O diagrama pode indicar duas coisas: que conseguimos diversificar as investidas, atacando pelos lados. E não fizemos gol pela incapacidade dos homens de frente. E também que os nossos jogadores finalizaram várias vezes sem estar nas melhores condições para tal, facilitando o trabalho do goleiro.

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Mas tem uma galera que entende menos de futebol que a maior parte da torcida: a “imprensa especializada”. Não sei se são motivados por interesses escusos ou se realmente não conhecem nada de futebol. Mas ouvir crítica esportiva no rádio e ver os comentários da transmissão da TV tem sido uma afronta constante a qualquer torcedor mais atento, que observe o jogo mais a fundo, em suas nuances táticas e saiba que uma partida é composta por dois times. Claro que existem exceções, mas o baixo nível de entendimento futebolístico está se tornando a regra. Isso é preocupante.

Um exemplo simples foram as críticas às mexidas do treinador. O comentarista da emissora que detém os direitos, malandramente, foi na onda, questionando a entrada do Allano. Vamos fazer um exercício de pensar a substituição do ponto de vista tático: Rafael Sobis estava cansado, não fazia mais um bom trabalho pelo corredor esquerdo, mas poderia render algo centralizado, atrás do atacante (como ele jogou no Tigres). Alisson, Élber e Rafinha não estavam no banco. O único que faz essa função, entre os 12 suplentes, é Allano. Não é que o cara queira botar o Allano, mas pela estratégia tática que ele pensou, era o que tinha.

Tenho certeza que você entende essa situação, da mesma forma que entende que a entrada do Gino foi para evitar que a goleada ficasse pior, porquê com o desânimo que os jogadores mostraram após o 2 a 0, o buraco poderia ficar maior. Mudando de pato pra ganso, vejamos abaixo a precisão das conclusões no último confronto.

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O Furacão mandou três bolas na casinha, guardou. Vejam como as demais finalizações foram imprecisas. O Cruzeiro mostrou mais facilidade para acertar o gol, mas total incapacidade de ser preciso no arremate. Foram 8 defesas do goleiro Weverton, apenas duas mais colocadas nos cantos. Seis conclusões no meio do gol, totalmente dentro do raio de ação do arqueiro inimigo. Apenas uma defesa (em chute do Robinho) foi realmente acima da média. Nossos outros chutes, qualquer goleiro minimamente preparado também teria defendido (até o Fábio).

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Após esses mapas e palavras ao vento, fica alguma conclusão? Sim. Que cada um tire a sua, mas a minha é muito simples. O Cruzeiro funciona como time, na transição de bola e o posicionamento do meio-campo. Claro que qualquer treinador sentirá o peso dos resultados que não vem, mas a maior culpa da nossa má situação no campeonato é muito mais dos jogadores. Não estou aqui para culpar o Gilvan (desta vez). Os atletas estão aí e desempenhando muito mal suas obrigações.  Quase metade do campeonato já se foi e o problema está longe de ser o treinador, visto que esse rendimento pífio acontecia também com Deivid, o amigão da galera.

Após a derrota de segunda, Paulo Bento cumprimentou os jogadores para tentar recuperar os ânimos, claramente destruídos após um resultado tão injusto. Sabemos nós que o futebol não é justo, é um jogo em que o mais competente vence. E o português defendeu jogadores indefensáveis, como Bruno Rodrigo (que falhou nos três gols). Se esses atletas não correrem por esse cara, não vão correr por ninguém. Que o Cruzeiro reaja logo, que Bento enxergue quem são os elementos que não estão fazendo por onde a titularidade e que nossos melhores jogadores voltem rápido. Antes que seja tarde demais.

Por: Emerson Araujo