Sobre planejamento, paciência e objetivo alcançado


Salve, Pentacampeões! É verdade que o Cruzeiro ainda tem uma série de partidas pelo Campeonato Brasileiro de 2017, mas ainda estamos no mês de outubro e completamente satisfeitos, já que a equipe celeste conseguiu atingir o seu objetivo primordial de 2017: voltar à disputa da Taça Libertadores da América. Chegar até aqui não foi um caminho fácil. Desde o início da temporada até o último dia 27, a data do Penta, muito se questionou sobre o trabalho do treinador Mano Menezes e se ele teria capacidade de conduzir esse clube à glória. Conseguiu. Mesmo contando com muita má vontade do torcedor cruzeirense.

Mano chegou ao Cruzeiro no final de julho do ano passado com a ingrata missão de, assim como em 2015, livrar o Cruzeiro da ameaça de rebaixamento. Sendo uma unanimidade, foi abraçado pela torcida, conseguiu ter a tranquilidade necessária para cumprir esse objetivo e, além disso, colocou o Cruzeiro em uma semifinal de Copa do Brasil. Com as metas de 2016 alcançadas, treinador e diretoria miraram a Libertadores como o alvo do Cruzeiro na temporada 2017. Era preciso colocar o Cruzeiro no lugar que lhe é de direito, junto aos grandes clubes da América, disputando o maior torneio interclubes do nosso continente. Porém…

O Campeonato Mineiro começou e, a partir daí, a unanimidade Mano Menezes começou a sofrer suas primeiras críticas. Time pragmático, pouco fluido, falta de ofensividade, esquema tático muito defensivo… As escolhas do treinador para o time titular também sofreram diversas críticas. E então veio o momento mais tenso do ano. No dia 07 de maio de 2017, o Cruzeiro foi derrotado pelo Atlético-MG na final do Campeonato Mineiro. Três dias depois, visitou o Nacional-PAR pela primeira fase da Copa Sul-Americana e foi eliminado nos pênaltis. Dois duros golpes que afetaram diretamente a confiança do torcedor no trabalho desenvolvido pela comissão técnica.

A maioria, neste momento, já enchia as suas redes sociais de comentários pedindo a cabeça do técnico Mano Menezes. Após um início completamente irregular no Campeonato Brasileiro, os pedidos se acentuaram. Nesse meio tempo, diversos torcedores se apegavam a falas de jornalistas ou até de ídolos do clube que defendiam que o Cruzeiro é um time com características ofensivas, que tem que jogar para frente, que é inadmissível um clube como o Cruzeiro assumir uma postura que não seja esta. Contrariando esta onda de críticas, a diretoria celeste manteve-se firme, demonstrando que acredita naquilo que começou em julho do ano passado, e que muita gente não entende o que é: PLANEJAMENTO.

O responsável pela contratação de Mano sabia exatamente qual o tipo de futebol que, majoritariamente, as equipes do treinador praticavam, e aquilo que o torcedor do Cruzeiro gosta de ver dentro de campo. E não é difícil perceber que são características diferentes. Mas o que ninguém percebia, devido à mania de criticar apenas pelo imediatismo, é que o Cruzeiro criava uma identidade, um modelo de jogo padronizado. Vale ressaltar que em um calendário completamente inchado, como é o Brasileiro, criar este padrão é fundamental para um sucesso na temporada. O Cruzeiro do dia 27 de setembro, campeão da Copa do Brasil, joga de forma análoga ao Cruzeiro que venceu o Villa Nova, na primeira partida da temporada, pelo placar de 2×1. Talvez não era da forma que a torcida celeste queria; mas quem disse que existe apenas uma maneira de ser campeão no futebol?

Todos sabemos, mesmo antes do apito inicial, a forma como o Cruzeiro vai entrar em campo: posse de bola para o adversário, proposta de jogo reativa, linhas compactas, organização, recuperação rápida de bola e transição em velocidade. Completamente pragmático, nem tão bonito de se ver, mas plenamente eficiente. A opção por um jogador mais móvel no comando de ataque trazia fluidez às ações ofensivas. Em uma ponta, um jogador mais cerebral; na outra ponta, um jogador mais veloz, para dar mais profundidade ao ataque. No centro do campo, mais do que jogadores com bom desarme, era necessário que houvesse um bom passe que pudesse fazer a transição do setor defensivo para o ofensivo com qualidade. E ao invés de atacar e ser atacado, o Cruzeiro dá o falso controle das ações ao seu oponente, controlando o adversário com sua intensidade na marcação.

Foi assim o ano inteiro.

Hoje, após o título da Copa do Brasil, poucos torcedores se arriscam a dizer que não concordam com a permanência de Mano Menezes, mas a maioria faz isto apenas pelo título conquistado. E não deve ser assim. Mano conseguiu dar uma cara ao time do Cruzeiro, mesmo que esta não seja vistosa, na maioria das vezes. Conseguiu formar uma equipe competitiva, que bateu de frente com equipes de maior poder aquisitivo e consideradas como melhores elencos do futebol brasileiro. Jogadores como Ezequiel, Léo, Hudson, Rafael Sóbis e Rafinha, que foram vítimas de questionamento por parte da torcida celeste, cumpriram papel importantíssimo durante a temporada, na formação desse jeito de jogar. E se outrora havia dúvida sobre onde isso nos levaria, agora não há mais.

Por isso, torcedor, quando se abre mão de uma demissão de treinador com base em um projeto, uma continuidade, um planejamento, devemos parabenizar quem o fez, independente se isso deu certo ou errado. A cultura do imediatismo no futebol brasileiro só vai acabar a partir do momento que se entender esse conceito de médio e longo prazo. Em competições tão equilibradas como as do nosso calendário, toda pressa tende a ser castigada.

Que isso seja uma grande lição de como a paciência pode ser uma virtude. Principalmente quando se trata de futebol.

Por: Pedro Henrique Paraíso