Show de horrores na Toca: segunda temporada


Inspirado nas peripécias quase infantis de House of Cards perante às articulações realizadas pela versão real e tupiniquim protagonizada por Eduardo Cunha em Brasília, o atual Cruzeiro poderia também se vender como uma grande série de sucesso para a Netflix ou demais estúdios interessados. Como um suspense psicológico capaz de deixar atordoados até os espectadores mais gélidos, o departamento de futebol vem dinamitando a imagem de um clube sério, que o Cruzeiro sempre possuiu, de modo que Michael Bay nenhum botaria defeito.

Findados os comentários cinematográficos, vamos à vaca fria. Se alguém não reparou, o Cruzeiro está virando piada, pela incompetência do Senhor Gilvan de Pinho Tavares. Antes de continuar a leitura, não pense que isso é um apelo para a volta da família Perrella. O Cruzeiro precisa de gente nova, trabalhadora, comprometida e honesta. Nada de voltar com esses dinossauros que se serviram do clube por tantos anos, dando muito menos do que poderiam (e deveriam). Nós não temos treinador, estamos perdendo a identidade futebolística, apresentamos na última semana um balanço financeiro ridículo, mal explicado e com um déficit pornográfico e injustificável. E devemos acreditar que tá tudo bem?

Gilvan vem bancando escolhas ruins há algum tempo. Podemos citar aí o boicote e consequente demissão de Marcelo Oliveira porquê o treinador não blindava a diretoria como ele queria (transparência que é vista como ponto positivo por este escriba). E piora: a contratação de Luxemburgo, seguida pela vinda do asqueroso Tinoco e a demora em se livrar destes dois indivíduos, sem esquecer é claro, do seu braço direito, Benecy. Que entre escândalos, péssimas contratações, entrevistas que jogam o clube na lama e incompetência por todos os lados, segue trabalhando no clube, tranquilamente, como se nada tivesse acontecido. Nem vou citar a efetivação e insistência em Deivid, uma aposta que claramente se mostrou equivocada pelo “futebol” apresentado na cancha, desde o início do ano.

Agora, a grande aposta de Gilvan é na chegada de Jorginho. Pois bem, o treinador faz um bom trabalho no Vasco (o que foi insuficiente para evitar o rebaixamento cruzmaltino em 2015) e consegue montar um bom time sem ter grandes peças para tal. Pesa a seu favor ter sido o verdadeiro treinador da Seleção Brasileira na primeira Era Dunga (2006-2010) e conseguido uma boa campanha pela Ponte Preta, chegando a final da Sul-Americana em 2013. Ah, e sendo rebaixado com a mesma Ponte Preta nesse ano, é importante lembrar.

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Então vamos analisar bem a mais nova cisma do presidente Gilvan. Nós estamos entrando em disputa com o Vasco por um treinador que não provou absolutamente nada e já tem pelo menos dois rebaixamentos nas costas. Além disso, notoriamente prioriza um estilo de jogo defensivo, o que vai conflitar totalmente com as aspirações da torcida. Não durou quase nada quando treinou o Flamengo, em 2013, e ostenta apenas três títulos de pequeno valor: uma simbólica Taça Guanabara este ano e dois troféus trabalhando no futebol japonês. Pode dar certo, sim, e se realmente este for o nosso treinador, cabe a todos nós torcer e apoiar o seu trabalho. Mas não é um nome que mereça tamanha empolgação.

Jorginho é nada mais que uma aposta. Assim como Marcelo Oliveira foi em algum momento, Adílson em outro, assim como Deivid foi esse ano. É muito raro você contratar um treinador que não seja visto dessa forma e o único com mais tarimba sondado (Abel Braga), não está disponível. O que considero mais um ato de má gestão é essa demora na efetivação do novo técnico, especialmente quando perdemos um precioso tempo para o novo treinador ajustar a equipe e ministrar os treinamentos imediatamente. A estreia no Brasileirão será em 15 dias e devemos ter um treinador que não sabe nem o nome de todos os atletas. Que sejam os derradeiros capítulos desse folhetim de terror que se abateu na Toca. Mas no que depender de Gilvan, e para nosso desespero, essa série tem tudo para ser renovada.