“Santa” Zaga


Tragédia! Nenhuma palavra define melhor o jogo do Cruzeiro contra o Santa Cruz, na noite de 25/05/16, no Estádio do Arruda, em Recife. De um começo auspicioso a um final dramático, o Cruzeiro foi do céu ao inferno em menos de 30 minutos. Num jogo em que a esperança da torcida cresceu ao ver a evolução do time dentro de campo, mesmo num curto espaço de tempo entre a chegada do treinador português, Paulo Bento, e o início da complicada caminhada dos clubes na disputa do título brasileiro, o que se viu, ao final, foram excessos de erros, lamentações e obviamente, o desespero da torcida.

O jogo começou mostrando um Cruzeiro combativo, que dominava as ações no campo ofensivo, encurralava o Santa Cruz em sua defesa e roubava a bola com facilidade. Chegava à área adversária com tranquilidade, mas esbarrava na falta de eficiência dos jogadores de frente ao finalizar. O Santa Cruz, por sua vez, limitava-se a defender-se e usar a única válvula de escape do time, o jogador Grafite, que, mesmo aos 37 anos ainda demonstra o faro de gol. E foi com esta arma que o Santa Cruz criou a sua única oportunidade de gol no primeiro tempo, quando o jogador ganhou a disputa de bola com o zagueiro Bruno Viana e ao adentrar a área celeste, chocou-se contra o goleiro Fábio; o árbitro Anderson Daronco marcou pênalti, num lance polêmico, em que muitos analistas entenderam que o jogador coral projetou-se contra o goleiro. Na cobrança, o próprio Grafite anotou o gol, inaugurando o placar, Santa Cruz 1X0, aos 19 minutos do primeiro tempo. Ainda sim, a equipe celeste não se intimidou e continuou a lançar-se à frente, sempre parando na limitação dos jogadores de ataque ao finalizarem as jogadas.

Na volta do segundo tempo, o time cruzeirense continuou a tomar as rédeas da partida, mesmo com o placar adverso; a boa defesa do goleiro do Santa Cruz, Tiago Cardoso, em um chute frontal, de dentro da pequena área, do jogador De Arrascaeta, mostrava que o gol seria questão de tempo. E assim aconteceu aos 7 minutos, quando o próprio Arrascaeta empatou o jogo em uma cobrança de falta monumental.

Porém, a alegria da China Azul e a esperança em uma possível virada, duraram até os 20 minutos, quando Grafite novamente ganhou a disputa de bola com o zagueiro Bruno Rodrigo e recolocou os corais novamente em vantagem. O técnico Paulo Bento, diante da situação, decidiu por substituir os jogadores Arrascaeta, que sentiu um desconforto e Ariel Cabral, colocando em campo o jovem meia Alex e o atacante Douglas Coutinho. Entretanto, as substituições não surtiram nenhum efeito e o que se viu, a partir daí, foi um time desorganizado, exposto e que se tornou presa fácil do adversário. Os gols de Artur aos 32 minutos e Keno, aos 45, ambos devidos a erros individuais da zaga celeste, só serviram para coroar uma noite de equívocos dos zagueiros cruzeirenses.

Ao final da partida, o que restou foram as lamentações. O zagueiro Bruno Rodrigo, responsável direto por 4 gols sofridos pelo Cruzeiro em dois jogos, furtou-se a falar, evitando dar maiores declarações. Já o goleiro Fábio foi mais incisivo e declarou que está na hora de cada um assumir a sua parcela de responsabilidade, os jogadores, a torcida e a diretoria, que deve estar mais próxima ao time.

À torcida coube o desespero e a revolta. As redes sociais transbordaram de comentários ácidos, principalmente em relação à composição do elenco e à atual diretoria, que não tem reposto a contento os jogadores que foram negociados ou estão lesionados. Couberam críticas ao departamento médico do clube, um dos mais completos do futebol sul-americano, que não dá satisfações à torcida sobre a evolução de jogadores lesionados, sobretudo dos zagueiros Dedé e Manoel, peças imprescindíveis à defesa celeste. Também notou-se uma cobrança intensa à contratação de jogadores jovens, que estão aquém da possibilidade de assumir o protagonismo no time celeste, além, é claro, de jogadores que a torcida sequer deseja ver vestindo o sagrado manto azul estrelado, devido à visível limitação técnica.

Após três rodadas disputadas no campeonato brasileiro, confrontando adversários teoricamente mais limitados, o Cruzeiro somou apenas 1 ponto, o pior início de campeonato dos últimos 10 anos e que faz com que o clube amargue a vice lanterna da competição. Como disse um jornalista, “técnico o Cruzeiro tem, só faltam jogadores”; ou a diretoria vai ao mercado e repõe as peças necessárias ao elenco, ou neste ano o clube brigará para não ser rebaixado à segunda divisão. Já não se acendem as luzes amarelas na Toca da Raposa. Acendem-se as luzes vermelhas, acompanhadas de sonoras sirenes de alerta.

por Wagner Guimarães, administrador de empresas e um cruzeirense indignado.