Resumo tático de 2016: o Cruzeiro de Deivid, Bento e Mano


  De todos os erros cometidos no futebol, alguns parecem ser mais recorrentes: a falta de planejamento, a falta de convicção dos presidentes e as intensas trocas de treinadores. O Cruzeiro, desde 2015, vem cometendo todos estes erros e, neste ano que se finda, a situação não foi nada diferente: três treineiros – Deivid, Paulo Bento e Mano Menezes, passaram pela Toca da Raposa. Tal situação resultou em mais uma temporada brigando contra o rebaixamento e em um time sem qualquer padrão tático. Abaixo, listo para vocês, alguns pontos que considerei relevantes, sob tudo o que foi feito pelo treinadores que aqui passaram em 2016.

  O Cruzeiro, no final de 2015, era  um time com padrão de jogo definido, Mano Menezes antes de ir para a China, deixou uma defesa sólida e uma proposta de jogo eficiente com jogadores brigando pela bola e compactação de espaços, ora dando falso domínio ao adversário, trazendo-o para o nosso campo, pressionando, tomando a bola e partindo rápido em contra ataque e ora adiantando suas linhas marcando na frente e fazendo a defesa adversária rifar a bola para tê-la e, em consequência, jogar, mas nunca se esquecendo da defesa no seu 4-1-4-1 sem a bola, e no 4-3-3, com a redonda e fazendo bem o balanço dessas duas estratégias citadas.

  Pois bem, Deivid assumiu querendo protagonismo e, ser protagonista para o calouro treinador, era propor o jogo, ter a bola, jogar com linhas altas, manutenção da posse de bola… tudo perfeito na teoria. Contudo, na pratica, isso precisava ser muito bem treinado, com cultura “Barcelônica” se o português me permite. O Cruzeiro de Deivid tinha a bola, mas não criava, rodava o jogo sem objetividade. No começo do ano, o time atuava em um 4-2-4: Henrique e Cabral lado a lado à frente da zaga e liberdade para os laterais, resumindo: o adversário chamava o Cruzeiro e, os que tinham um pouco de qualidade, nos matavam nos espaços deixados e na lentidão de algumas peças.

  Com o passar do tempo, Deivid foi testando jogadores fora de suas posições, Alisson, por exemplo, foi realocado na direita, ao invés de seguir na esquerda onde, comprovadamente, ele rende mais; Ariel Cabral passou a cobrir as laterais, assumindo uma função defensiva na qual não estava acostumado.. Um outro erro comum de Deivid, era explícito nas entrevistas pós-jogo, ao direcionar a culpa dos fracassos nos jogadores que não assimilaram sua proposta e, aí neste ponto, estava pronta a receita do fim: perdeu o vestiário e os caras já não corriam por ele. O resultado todos já sabem, o “estagiário do Luxa” foi demitido e, hoje, se prepara para comandar o Criciúma, em 2017.

  Sob a batuta de Paulo Bento, treinador de nome e com passagens pela seleção portuguesa, logo no início foi perceptível que precisávamos proteger a zaga. A tentativa de Bruno Ramirez como terceiro volante e saindo para o jogo falhou, assim como a insistência com Gino. Arrascaeta, recuado pela direita, foi o principal destaque da passagem do portuga por aqui. Na zaga, optou por Bruno Viana, um zagueiro leve e jovem visando a cobertura das laterais e o bote rápido ao lado de Bruno Rodrigo, o que também não deu certo. Apesar do desequilíbrio defensivo, o Cruzeiro passou a criar inúmeras chances de gol e fez, inclusive, excelentes partidas no Brasileirão, mas esbarrava na ineficiência do ataque e na fragilidade da defesa.

  Aliado a isto, Bento entendeu e vivenciou da pior forma a cultura do futebol brasileiro, onde um gramado duro, um campo pequeno e pesado mudam o jeito de jogar de um time. O português entendeu, também, que o rodízio de jogadores no Brasil não é bem quisto, principalmente pelos líderes do grupo. E, mais uma vez, Mano Menezes veio ao nosso auxílio com um discurso básico de unir grupo, ganhar o vestiário, fazer os caras correrem pra ele como em 2015. O futebol não era bonito como outrora, talvez por ser um time mais lento e técnico do que o time de 2015, que era mais rápido e brigador.

  A diferença de posicionamento e formação tática se deu por conta de três jogadores: Robinho, Sóbis e Abila. Os três, juntos, não possuíam condições físicas para suportar um jogo todo. Sóbis acompanhando a lateral esquerda pouco contribuía no setor ofensivo.  Robinho, por sua vez, começou fazendo o corredor direito como Williams em 2015, mas ‘pregava’ no segundo tempo, justamente, pela falta de preparo físico. Ao decorrer do trabalho, Mano trouxe Robinho por dentro, na frente dos volantes, evitando um desgaste físico maior, em certos momentos, o jogador chegou a atuar mais aberto na direita.

  Abila foi um caso a parte, chegou fazendo gols o que justifica um time jogar em função dele, correr pra ele, etc. Mas quando começou a perder gols, as deficiências ficaram evidenciadas. O argentino pouco contribuía na marcação da saída de bola, não brigava na bola aérea espirrada da nossa defesa. Vendo isto, Mano analisou o custo benefício tático de ter Robinho e Sóbis, que já eram pesados, e viu que não poderia ficar com os três no time e, isso ficou evidenciado contra o Grêmio, quando Abila foi sacado para ter um time mais combativo sem a bola com Robinho podendo jogar sem tanta obrigação de marcar.

  Esse foi o resumo dentro de campo do Cruzeiro em 2016. Assim como toda a torcida, faço votos de uma boa pré-temporada e Mano tendo tempo e peças para armar seu time e preparar melhor os jogadores fisicamente. Um abraço à todos, boas festas, Deus abençoe esse mundo!

Por: Gener Galvão