Os argentinos do Cruzeiro


O Cruzeiro é um clube internacional. Seja por títulos, reconhecimento externo, ou grandes craques estrangeiros que já passaram por aqui. Segundo o ótimo site CruzeiroPédia, a Argentina está em segundo lugar na lista dos países que mais cederam atletas ao Maior de Minas (12 jogadores). Atrás, apenas, do Uruguai, com 13.

Grandes nomes argentinos já passaram com destaque pelo Cruzeiro. Percebo que, além do bom futebol e da raça, característicos dos “hermanos”, eles também se notabilizam pelo profissionalismo e respeito pela instituição a qual representam.

O futebol brasileiro se “modernizou” nos últimos anos. Além de sermos uma grande ponte para transferências de atletas para clubes europeus, nos tornamos um paraíso financeiro para jogadores sul-americanos, fazendo vários bons jogadores deixarem seus países de origem para tentar a sorte em terras brasileiras. O interesse em garantir uma vida mais tranquila não vem acompanhado de uma grande vontade em jogar futebol para representar um grande clube, em sua maioria.

Na contramão dessa tendência, os argentinos ainda mantém vivo o sentimento de valorização da camisa que vestem. Como uma espécie de sonho de criança realizado, observo que eles, de maneira geral, buscam também aprovação popular, além de cumprir com todas as suas obrigações contratuais.

No Cruzeiro podemos citar desde jogadores idolatrados, até os que sequer jogaram regularmente pelo Clube. Casos como o de Ernesto Farias que, contratado por 5 temporadas, cumpriu todas as clausulas até seu último dia de clube, treinando sozinho por várias vezes. O centro-avante até contribuiu com alguns gols importantes na peleja de 2011. Outro que teve profissionalismo irretocável foi o meio-campista Sebastian Prediguer. O jogador nem chegou a atuar com a camisa 5 estrelas, mas não deu nenhuma demonstração de indisciplina ou falta de respeito com a instituição que representava.

Também temos casos recentes e mais representativos, como os do ídolo Sorín, e de Walter Montillo. O primeiro não precisamos comentar sua importância histórica no Cruzeiro. O ex-lateral esquerdo se tornou Mineiro de coração. Já o armador pode ser contestado por algumas atitudes de seu empresário, o peculiar Sergio Irrigoitia. O fato é que, com a bola nos pés, nosso ex camisa 10 se tornou o principal jogador da equipe por todo o período em que esteve em Belo Horizonte. Mesmo em fase de drama familiar, com problemas de saúde de seu filho mais novo, Montillo se colocou à disposição para representar o Maior de Minas, nos ajudando a evitar o rebaixamento em 2011. É um atleta a qual devemos todo o nosso respeito e consideração.

Atualmente temos três jogadores argentinos no elenco. Ariel Cabral, Lucas Romero e Ramón Ábila. Apenas o primeiro tem a preferência do treinador. Ainda que com boas atuações e contribuições decisivas para a equipe, Mano Menezes prefere não escalar Romero e Ábila com frequência na equipe titular. Mesmo preteridos sem grande motivo aparente, o volante e o atacante não esboçam qualquer tipo de reação negativa por amargarem o banco de reservas. A resposta dos mesmos vem em campo e na dedicação dia-a-dia na Toca II. Lucas Romero chegou a dar declarações de que não quer sair do Cruzeiro enquanto não fizer história com a camisa mais pesada de Minas Gerais. Ábila já reconheceu suas limitações técnicas e vem se empenhando para ser um jogador mais participativo, coisa que nunca precisou ser na Argentina. O centro-avante inclusive chegou a declarar que está “fazendo a dieta de Messi” para crescer como profissional. Não se sabe muito bem o que seria isso, mas indica que o jogador também está preocupado em aprimorar a parte física, mesmo em períodos de descanso.

Não é muito difícil se identificar com um jogador argentino. Vários clubes brasileiros têm ídolos daquele país. Talvez eu esteja sendo um pouco utópico, mas gosto de contar com jogadores que demonstram satisfação em vestir a camisa do time que torço. Títulos à parte, me agrada o sentimento de que estou sendo representado por alguém que se importa com o sentimento da torcida, e sabe o peso que o futebol tem em nossas vidas.

O brasileiro se tornou um povo frio, e nossos atletas refletem essa característica. A opção de não ter que dar satisfação à torcida é legítima, mas, no meu entendimento, não é o melhor caminho a ser seguido. Precisamos mudar isso. O futebol agradeceria.

Por: Luciano Batista