O Cruzeiro não sabe brincar


Durante 2013 e 2014, anos em que o Cruzeiro conquistou o Campeonato Brasileiro de forma incontestável, amassando todos os adversários, era recorrente uma discussão entre torcedores, dirigentes e até jornalistas esportivos de todo o país: não seria a hora de voltar a disputar o mata-mata? Será que vale a pena manter a fórmula de disputa do campeonato nacional em pontos corridos, como foi feito pela primeira vez em 2003? E aqui o título se justifica. Nos três anos citados, quando o Cruzeiro foi campeão, não restou uma vírgula de dúvida sobre quem foi o melhor time do ano. Todos elogiam o equilíbrio do Brasileirão. Mas o Cruzeiro não sabe brincar…

Pois bem, mais estranho que o nosso comportamento Joselito na disputa, é esse silêncio no ar e nas mesas redondas sobre a volta do mata-morre. Todos parecem unânimes ao concordar que os pontos corridos são a melhor forma de disputa para um campeonato nacional. E eu também acho que seria um imenso retrocesso voltar no tempo para um campeonato eliminatório. Mas essa repentina mudança de pensamento nas cabeças mandantes do futebol brasileiro teria algo a ver com os atuais protagonistas na briga pelo título? Afinal, em 2015 o campeão foi o Corinthians, queridinho da mídia. Em 2016, o Flamengo briga cabeça a cabeça com o Palmeiras pela taça…

Sim, é óbvio que isso tem muito a ver. Precisamos entender que a representatividade política dos times de Minas Gerais é muito menor que de paulistas e cariocas. Não se trata de clubismo, muito menos de bairrismo. É entender as particularidades do futebol brasileiro e saber lidar com elas. Nesse caso, não é correto apontar incompetência do atual presidente Gilvan. Com Perrella e suas bravatas a situação era a mesma. A politicagem impera não só por aqui, mas em toda a América do Sul. E justamente da Conmebol vem a surpresa do ano: a reformulação da Libertadores.

Foto: Marcello Zambrana/Light Press/Cruzeiro

A única chance real de ir a próxima Libertadores é pela Copa do Brasil. Próximo adversário pela competição, o Corinthians precisará pagar o pato (Foto: Marcello Zambrana/Light Press/Cruzeiro)

Indiretamente, a Libertadores espalhada por todo o ano representa uma melhoria para o calendário nacional. Afinal, era muito comum vermos jogadores importantes na primeira fase da competição não podendo jogar a decisão do certame. Nos moldes que serão aplicados a partir de 2017, quem deixar seu clube para se aventurar em outro continente não será um jogador chave na ida até a decisão. Isso porque no mês de agosto (quando a janela europeia fecha), a Libertadores estará ainda nas primeiras fases de mata-mata. E os jogos melhor distribuídos prometem melhores condições de gestão do plantel, para que os jogadores estejam menos desgastados e o nível técnico suba.

Para os saudosistas do mata-mata, essa mudança também acerta em cheio. Afinal, após os estaduais (que são decididos em mata-mata), os clubes jogarão o Brasileiro, a Copa do Brasil e a Libertadores (ou Sul-Americana). Então existe a possibilidade real de uma equipe disputar três decisões eliminatórias em um ano, além da liga nacional, em pontos corridos (como deve ser).

O que mantem um clube bem organizado fora de campo é calendário. Sem ter a possibilidade de um planejamento correto, de todo o ano, o futebol brasileiro jamais conseguirá se equiparar ao melhor do mundo, praticado na Europa. E se temos a técnica, basta um pouquinho de inteligência e boa vontade para que tenhamos ainda mais orgulho do esporte que chamamos de nosso. Espero que o Cruzeiro tenha uma nova campanha avassaladora em 2017, e que o silêncio sobre essa controvérsia continue. Afinal, se a disputa ficará “sem graça” para os adversários, significa que nós teremos muitos motivos para fazer festa.

Por: Emerson Araujo