O Cruzeiro merece o rebaixamento?


Calma, cruzeirense. É óbvio que a gente não quer e não merece a queda do Maior de Minas para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. A ideia do texto é apenas analisar se, por números, o Cruzeiro tem feito realmente uma das quatro piores campanhas no Nacional. Em futebol apresentado, qualidade de jogo, será que estamos assim tão mal? Ou essa posição ruim é fruto de acaso, algumas escolhas erradas e fartas doses de azar? Vamos observar os números e identificar se é possível chegar a um consenso.

Guardiola, o popstar dos treinadores de futebol, ama a tal da posse de bola e baseia a formação dos seus times a partir disso. O Cruzeiro é o quarto time que menos entrega a bola “de bandeja” para o inimigo. Apenas Fluminense, Chapecoense e Palmeiras fazem uso mais eficiente da pelota. Seguindo nessa linha, a ferramenta básica para não conceder a posse é o passe. O time celeste está em oitavo lugar entre os que mais acertam passes na competição, com 9650 trocas de bola corretas. E nos passes errados, somos o quinto time que menos erra nesse tipo de transição, com 1140 equívocos.

Esses números dizem muito pouco. Precisamos lembrar que esta não é a única forma de se jogar futebol. Times que erram poucos passes (como o Santa Cruz, líder no ranking) podem ser aqueles que raramente tem qualidade técnica para propor o jogo e optam por estratégias mais reativas. Mas outro indicador é certeiro: chute a gol. Afinal, quem não chuta não faz gol e quem mais chuta, mais marca, correto? Em tese sim, mas a vida não é tão simples assim. Com 145 chutes certos no alvo, apenas Palmeiras, Grêmio e Vitória arremataram mais vezes com precisão. Sabe aquela impressão que todo goleiro, contra a gente, vira um Buffon? Tem uma pontinha de fundamento.

Isso explica o fato dos comandados de Mano ostentarem o oitavo pior ataque do certame. Foram míseros 35 gols anotados em 28 jogos. Em um campeonato dotado de goleadores pouco efetivos (o artilheiro tem apenas 11), os avantes mais mortíferos do estrelado balançaram as redes adversárias apenas 6 vezes (Arrascaeta e Ábila). É MUITO POUCO. E na cozinha, temos a sexta pior defesa do campeonato, com 41 gols concedidos. Desempenho que melhorou com o treinador Mano Menezes, visto que a era Paulo Bento foi marcada por uma sequência de desastres no setor.

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Fotomontagem a partir de prints do site Footstats

Indo para os aspectos individuais, Henrique é o nosso melhor passador no campeonato (1038 acertos). Até por ser o primeiro homem do meio-campo, costuma ser o responsável por se aproximar dos zagueiros, carimbar as bolas e fazer a saída de jogo. Mas o grande protagonista é De Arrascaeta. O uruguaio é quem mais erra passe (119), quem mais finaliza (para o bem e para o mal, com 25 certas e 23 erradas), quem mais dá assistências (7) e quem mais faz gols (6). Essa enxurrada numérica torna o camisa 10 o jogador mais eficiente da equipe. Até por isso me soa tão estranho ver Mano Menezes o deixar no banco, preferindo gente pouco produtiva, como Sobis e Rafinha.

Vamos agora falar da contenção. Henrique (65) é quem mais desarma, seguido por Lucas Romero (47). De Arrascaeta (42) e Edimar (33) também se destacam nesse indicador, o que mostra o porque do lateral ter chegado ao clube, assumido a titularidade e nunca mais deixado a condição. Ariel Cabral (26), mesmo sendo um volante, tem números muito baixos nesse ponto. Quem mais faz faltas (36) é o contestado lateral direito Lucas, o que não surpreende, por ser também o jogador mais indisciplinado (10 amarelos e 3 vermelhos). Quem mais apanha é Arrascaeta, tendo levado 51 bordoadas.

Essa matemática toda vai nos levar a algum lugar? Não. Os únicos números que realmente fazem a diferença, no fim das contas, são os de gols marcados e concedidos ao final de cada peleja, e, obviamente, o número de pontos na tabela. Mas os indicadores ajudam a entender que o Cruzeiro não tem jogado assim tão mal. E também não dá pra dizer que é falta de sorte estar tão mal na classificação. Tem faltado, principalmente, mais competência na hora de converter as oportunidades. Mas o time joga um futebol melhor e tem boas perspectivas de sair logo do buraco.

Agora, é com os jogadores. Apoio nunca faltou e uma presença maciça da China Azul é esperada para o jogo de amanhã, contra a Ponte Preta. Juntos vamos tirar o Cruzeiro dessa zona perigosa, visto que, com uma vitória simples, podemos subir até 5 postos na tabela. Não podemos mais falhar, o fim de temporada se aproxima e nossa cota de erros já se esgotou. Competência, Cruzeiro. Estaremos sempre fechados com você.

Por: Emerson Araujo