O amadurecimento que não passa despercebido


O amadurecimento que não passa despercebido - Cruzeiro Esporte CLube

Dentro de uma visão psicológica, diz-se o ser humano maduro, aquele que tem/passa uma grande experiência de vida. Uma pessoa passa por derivados estágios para atingir a fase de maturação. Em outras palavras, o ser humano está sempre em transformação, passando por várias experiências, assimilando e acomodando cada uma de acordo com suas necessidades. A maturação, nesse sentido, pode ocorrer após ou durante uma crise psicológica, desencadeada, geralmente, por algum evento importante na vida do indivíduo. É um processo essencial no desenvolvimento individual, que afeta diretamente seu posicionamento dentro de um cenário coletivo.

Todo esse contexto psicológico descrito tem um único objetivo: provar para você, leitor, de forma cabal, o quão fundamental se tornou o futebol de Lucas Silva para o sucesso do Cruzeiro no Brasileirão.

A temporada de 2012 foi de muito aprendizado para o volante. Quando chamado pelo então treinador Celso Roth para compor um grupo fraco, a responsabilidade já se mostrava grande. Entrou no time diante do Bahia, em Salvador, onde o Cruzeiro venceu por 1×0, com atuação segura do jogador. Era o cartão de visitas de um nome muito esperado desde as categorias de base, onde era capitão e exercia liderança. Após boa sequência, Lucas teve sua evolução gradativa posta a prova pelo treinador depois de uma atuação no clássico do Independência, onde empatamos em 2×2. No lance do segundo gol atleticano, boa parte do mundo cravou falha do volante, que não soube matar a jogada no início. Na minha concepção, era um erro necessário. Hoje, simbólico.

Quase queimado por Roth, a esperança era de um 2013 melhor e de maiores oportunidades. Marcelo Oliveira sempre soube trabalhar bem jovem jogadores. Passando-lhes confiança, o processo de amadurecimento se deu de forma natural, principalmente para Lucas Silva. Nada substitui o talento.

Lucas esperou. Acima de tudo, trabalhou. Sob os cuidados da comissão técnica, retomou seu processo de amadurecimento de forma categórica. Empenhou-se em aprimoramento objetivo: marcação mais firme, encurtamento do espaço, melhoria na saída de bola, fortalecimento físico e, principalmente, confiança. A sequência de jogos necessária veio, a confiança aumentou, assim como sua importância para arrancada celeste.

Contra a Portuguesa, Lucas completou sua 10ª partida como titular no campeonato. Coincidentemente, o Cruzeiro vem em sequência de 11 jogos pontuando – 10V e 1E – desde que ele assumiu a titularidade, ocorrida na goleada imposta ao Vitória por 5×1, na 15ª rodada. Seus números não mentem; contribui tanto para o futebol do time que passou a ser ponto de referência.

Sites de estatísticas como WhoScored, FootStats e Squawka abalizam seu o desempenho. O jogador já distribuiu 477 passes certos, contra 40 errados, obtendo um percentual de 92% de acerto. O jogador do atual time titular mais próximo dessa impressionante marca é William, com 87%. Essa alta porcentagem representa a qualidade na saída de bola que Lucas agregou ao time desde que entrou. Chama a atenção também a quantidade de passes longos, característica marcante do jogador: são 85 viradas de bola de média de 20m cada uma (sendo 41 delas de 40m!), com 67 acertos. No Brasileirão, nenhum outro jogador tem tamanha precisão no quesito.

Defensivamente, sua contribuição também é manifesta. Perde apenas para Egídio em desarmes certos, com 37 efetuados até aqui, somando uma média de quatro por jogo. Durante as partidas do Cruzeiro é possível notar algo interessante nesse quesito: Lucas tem se caracterizado por marcar e brigar pela bola mais firme e, quando efetuado o desarme, aciona sua ótima noção de espaço, limpando a jogada com calma e saindo com ela dominada, dando uma “girada” peculiar nessa execução. Essa noção não se aprende; ela é nata.

Em matéria de reconhecimento, Lucas Silva começa a colher os frutos. Teve seu contrato renovado até 2017 vai se valorizando a cada jogo. É líder isolado – 6,7 pontos de média – do tradicional Troféu Armando Nogueira, realizado pelo SporTV que atribui notas aos jogadores após os jogos, estando à frente de jogadores como D´Alessandro, Alex e Ronaldinho Gaúcho. Já pela ainda mais tradicional Bola de Prata da Revista Placar, Lucas esbarra em uma situação curiosa. Como requisito para levar a premiação, um jogador precisa ter completado o mínimo de 16 jogos para ser considerado. O volante cruzeirense ostenta apenas 10 partidas disputadas – segundo contabilização da revista- mas pontuação média suficiente (6.35) para ser líder em sua posição, ao lado do companheiro de “volância”, Nílton. Além disso, ele surge como grande candidato a levar o troféu “Revelação do Campeonato”.

O suposto erro de Lucas Silva no Independência, naquele 26 de agosto de 2012, foi bastante simbólico. De lá para cá, o jovem soube se recolher ao tocar a lona. Levantou-se, trabalhou calado em prol do seu talento inegável, aceitando o burilamento de Marcelo Oliveira com humildade e esperando uma oportunidade. Quando ela surgiu, soube agarrá-la e hoje assombra a todos tamanha qualidade agregada e maturidade. Se William deu outra cara ao setor ofensivo cruzeirense, Lucas Silva tornou-se indispensável na execução do coletivo, contribuindo nos mais diversos aspectos. Pergunte ao Nílton, que desandou a fazer gol e chegar à frente, ciente da cobertura que tem.

Constatamos assim que o amadurecimento é um processo essencial no desenvolvimento de um indivíduo, afetando diretamente seu posicionamento dentro de um cenário coletivo. Prova cabal é o que passou Lucas Silva, para chegar até aqui e ser peça indispensável no sucesso cruzeirense.