Mil e uma formas de torcer pelo Cruzeiro


Mil e uma formas de torcer pelo Cruzeiro | Cruzeiro Esporte Clube - Foto: VipComm

Muito se tem comentado sobre processos de higienização e elitização das torcidas brasileiras. Movimento que se segue após a reforma e os elevados custos que foram para reformar ou construir os estádios para a Copa no Brasil. Há verdade em tudo isso, mas, com certeza, esse não é objetivo de nenhum clube brasileiro, acredito. Ficou mais caro para usar tais estádios, preços subiram, então, não vou entrar em toda essa discussão, já que muita gente boa já falou e muito disso tudo.

A questão toda é que há o sentimento de que ver jogo está caro demais!

Com preços de ingressos majorados, os clubes têm recorrido à associação dos seus torcedores, outras empresas que patrocinam o futebol, apostam pesado nessa ideia, que é ótima, usa-se toda a capacidade de “gerar paixão do futebol“ com ações promocionais. Experimentamos um verdadeiro Boom, nas primeiras semanas, muitas associações e o movimento ainda é ascendente, mas lento. Vou falar do programa de sócios que me interessa. O programa do Cruzeiro.

A percepção que tenho é que há o sentimento que assistir a um jogo do Cruzeiro é caro, os preços vão de R$ 60 a R$ 120 sem desconto, sócios Cruzeiro Sempre pagam metade desse valor. De fato, quando alguém diz que o ingresso é caro, não há argumento que se possa usar para mudar a opinião da pessoa, pois o que está em jogo é o valor, e pra essa pessoa, se R$30 não vale, que dirá R$ 60. Há também quem argumente com razão, o custo absurdo de um pai, levar esposa e 2 filhos ao estádio, se todos fossem sócios pagariam R$ 120, não sendo, seria R$ 240. Pesa sim, pra maioria esmagadora dos orçamentos familiares. Como resultado, jogamos pra públicos modestos em um estádio considerado grande para os padrões atuais, ou seja, perdemos dois dos maiores ativos do Cruzeiro atualmente: a imensa torcida, mais de 8 milhões, e um estádio (pelo contrato, quando joga lá, o estádio é do Cruzeiro) enorme.

Mediante esse cenário, sempre surgem na mídia, os defensores do ingresso “barato”. Para eles, seria lindo cobrar, por exemplo, R$ 10 e ter 60 mil pessoas todos os jogos. Lindo, na teoria, mas não funcionaria na prática, pois se observarmos as médias de públicos anteriores com times excelentes ou medíocres, teremos algo em torno de 25 a 30 mil pessoas. Isso se explica por vários fatores, dentre eles o cultural, de aguardar pelo “melhor jogo”, pelos clássicos e jogos decisivos. Obviamente que para mídia, interessada em ter a opinião pública a seu favor, propor redução drástica de preços será sempre uma saída eficiente, até porque ela não paga a conta, mas cobra nos seus meios, a contratação e manutenção de jogadores de ponta.

Tudo o que falei até agora é pra tentar trazer um novo foco, promover discussões e apresentar propostas mais profícuas. Entendo ser melhor que simplesmente cobrar do clube uma redução no preço dos ingressos. O que precisamos é que se aumente o valor percebido do produto que compramos, até que chegue o ponto, que pagar R$ 30 ou R$ 60 por um ingresso, não seja percebido como caro. Ou que seja possível, subsidiar estes ingressos à partir de medidas tomadas pelo próprio clube.

Tomando a família de pai, mãe e 2 filhos (maiores de 12 anos) como base, pensei em três substitutos para um programa típico de ir ao Mineirão. Rodízio, Restaurante e Cinema. Todos pagos, obviamente, porque há opções de lazer gratuitas que ficam às moscas finais de semana.

No primeiro caso, olhei no site Mercado Mineiro, esse programa ficaria na faixa de R$ 60, por pessoa.

No segundo, montei um prato básico, simples e que agradaria a grande maioria da população. Composto de Fritas + Filé + 02 Cervejas + 02 Refrigerantes, ficaria na média, R$ 74. Ou seja,

R$ 18,50 por pessoa. Convenhamos, é um prato em formato mínimo.

Para terceira opção consultei Cineart e Cinemark, e o preço de uma seção (sem ser 3D) ficaria na faixa de R$ 20,00 por pessoa.

Pois bem, temos então programas que estão abaixo e acima do valor do ingresso, e são tanto factíveis como também preferências de algumas pessoas nos finais de semana, se não, estádios estariam lotados. Podemos concluir que o custo para ver o jogo é relativamente mais caro que outras opções de lazer, mas não é o absurdo que se apresenta. A questão é realmente preferência, mas o clube podia dar uma ajudinha…

Aqui vou começar as críticas e sugestões, porque também não gosto da postura de ficar só bodejando, “ingresso é caro”. Na minha modesta opinião, a diretoria do Cruzeiro, está vacilando muito. Reconheço todo o investimento que vem sendo feito no time principal, nas categorias de base, e no próprio marketing. Mas esse catalizador já perdeu o gás, estagnamos na faixa dos 30 mil sócios, com ritmo lento de subida e jogando para espaços vazios. Por que isso ocorre?

a) Segmentação: o Cruzeiro hoje, basicamente separa seus torcedores (consumidores) em três tipos, sócios com acesso, sem acesso e não sócios. Isso é pouco se considerarmos que além de segmentar a torcida também deveria segmentar também seus jogos. Sugestões:

a.1 Criar jogos classe A, B e C e cobrar conforme a atratividade do jogo.

a.2 Segmentar setores mais vazios do Mineirão para fazer promoções, ou combos de ingresso, pra família, amigos, turistas etc. Um exemplo, separar 2.000 ingressos e fazer promoção pra família, de modo que pai, esposa e 02 filhos (nossa família modelo) paguem na média R$ 20,00 o ingresso. Concorreria fácil com o cinema, não?

Obs.: muitos vão dizer que essa demanda concorre com os sócios, etc. Não concorre, é só planejar bem as ações, e seriam alternativas para jogos com menos apelo.

a.3 Pulverizar pontos de venda, pacotes de ingresso e formas de pagamento. Será que é difícil em um campeonato de pontos corridos, já deixarem a venda ao menos 20% dos ingressos para serem adquiridos pela internet, por exemplo? Não deveria ser possível montar “combos” de jogos e comprá-los com desconto?

b) Utilização do espaço: a casa que o Cruzeiro escolheu, foi o Mineirão, e a despeito de ter contrato bom ou não, o que interessa é que há uma área de 80 mil m² que não é utilizada para absolutamente nada.

b.1 O clube poderia disponibilizar espaços para crianças, adolescentes com parquinhos, monitores, o pai levaria os filhos para ver futebol inclusive, mas a diversão estaria garantida.

b.2 Por que não voltar com aquelas “barraquinhas”? As lojas não estão disponíveis para o público mesmo. Ah, mas não vende cerveja. Bem, aí é uma questão de burrice mesmo. Qualquer um toma cerveja até a entrada do estádio. Tampar o sol com peneira não é postura adequada. Que não venda lá dentro. Mas lá fora?

c) Reforçar a associação: o Cruzeiro demonstra claramente que quer se alavancar por meio do programa de sócios. Está correto. Mas é questionável o modo como vem fazendo isso. Majorar os ingressos para tornar atrativa a associação me sugere um erro tremendo de estratégia. O programa não está morto porque há muita gente apaixonada e porque a AMBEV entrou pesado na história (só esse movimento dela reforça o poder de mercado dessa associação). Assim, a categoria mais barata fica atrativa se somados, descontos nos ingressos + promoções pontuais. Mas, para refletir, 30.000 sócios em um universo de 8 milhões de torcedores são 0,375%. Muitos vão dizer, nem todo torcedor é um consumidor potencial, tem renda etc. Tudo bem! Vamos reduzir a 800.000 torcedores que são consumidores potenciais. Teríamos ainda assim, apenas 3,75% de torcedores/consumidores associados! É muito? Os departamentos de marketing, comercial, informática, futebol e sei lá mais quantos existem, estão fazendo um bom trabalho? Há melhor produto para vender que um onde a paixão já vem trabalhada?

Desculpem-me os que defendem, e o próprio Cruzeiro, mas a resposta pra todas acima é NÃO. NÃO estão fazendo um bom trabalho no Cruzeiro! Pra arrebentar nas associações, o Cruzeiro deve oferecer vantagens reais aos seus associados. Desconto na compra de ingressos e acumular pontos conforme pagamento e participação no programa é POUCO. Algumas sugestões.

c.1 Criar mais categorias de modo a permitir associação de famílias, grupos de amigos etc. Exemplo: Um plano familiar por exemplo com 4 integrantes, o primeiro sai com 50% de desconto, o segundo 60%, terceiro 80% e o quarto grátis.

c.2 Aumentar (e muito) a rede de credenciados: o associado deveria ter desconto em vários estabelecimentos, restaurantes, bares, lanchonetes etc. Dessa forma, o estabelecimento ganha uma publicidade fantástica e o associado pode recuperar o valor investido na forma de descontos. Algo que já ocorre com as promoções da AMBEV, mas é muito mal explorado pelo clube de maneira geral.

c.3 Acesso a brindes e produtos oficiais: francamente, os descontos, quando existem são ridículos. Pra começar, um associado em categorias de acesso a estádio deveria já na associação ganhar uma camisa. Quanto é isso em troca dos R$ 1.200,00 (aproximadamente) que o clube receberá? Todo sócio devia poder comprar produtos oficiais com desconto de verdade (30% a 50%). Loucura? Claro, que não, melhor 100.000 sócios comprando com 50% de desconto que 30.000 pagando 100%, façam as contas.

c.4 Sorteios e atrativos em jogos no Mineirão: tá começando essa cultura, mas qual seria a dificuldade de sortear camisas todos os jogos entre os sócios presentes? Se patrocinador tem algum produto, custa sortear alguns? Parte do patrocínio deveria ser revertida aos torcedores, isso é claro.

Concluindo, fiz um texto longo, não sou profissional dessa área, mas procurei abordar os principais pontos que acredito alavancariam tanto a receita quanto a associação ao programa de Sócio Torcedor do Cruzeiro. Também não podemos perder de vista, os milhões que têm o direito de torcer, sem que sejam necessariamente sócios eles têm que ter a vida facilitada o máximo possível.

São medidas fáceis? Óbvio que não, mas se há departamentos e profissionais no clube, eles recebem pra viabilizar tais situações. Muito já foi feito? Foi. Mas há muito que fazer. Enquanto não mudarmos o jeito de fazer, vamos ter que aguentar discursos fáceis apontando para elitização, higienização e outras coisas que saem baseadas em nenhuma ou pouca observação nos preços médios aqui e passam longe de uma análise de comportamento mais recente do público.

Não sei se o Cruzeiro estipulou uma meta para número de sócios. Li algo sobre o Gilvan propor 100.000 sócios, para os 100 anos de instituição. Pode ser, mas o ideal seria a meta de 100 mil sócios já este ano, no máximo pra 2014. Potencial existe! Outro ponto. No Mineirão cabem 60.000 pessoas, o Cruzeiro tem direito a 54.000 ingressos, enquanto a média de público for inferior a 40.000 torcedores, não podemos estar satisfeitos.

Não sei se a frase é realmente de Jean Cocteau, mas é pra refletir: “Sem saber que era impossível, foi lá e fez.”.