Gay, Lésbica, Hetero ou nada disso: amamos o Cruzeiro é o que interessa!


O juiz erra um lance. Da arquibancada quase em uníssono vem o grito “tem um viado e tá querendo aparecer.”

Pré clássico. Dentre os cantos entoados, os gritos de franga, bicha e viado são presença garantida.

Qualquer coisa que se fale, o rival responde com “Maria”.

“Coisa de futebol” muitos vão dizer. Discordo. O futebol não é algo isolado da sociedade. O estádio não é o lugar onde você grita o que bem entende sem que isso refita nas outras pessoas e diga muito sobre quem está cantando.

O Brasil é o país que mais mata LGBT’s no mundo. A cada 19 horas, um LGBT é vítima de crimes de ódio que levam a morte. Mais que armas, facas e pedras, o que mata essas pessoas é o preconceito. É a não aceitação de uma realidade que no mínimo, não é da sua conta.

Ao chamar os rivais no feminino como forma de atingir a sexualidade, como se a vida sexual de outra pessoa fosse um problema seu, o recado é um só: seu lugar não é aqui, as suas atitudes não servem para a vida em sociedade. Não importa se o grito sai no estádio ou na rua, o sentido é o mesmo.

Assim como existem heterossexuais, existem homossexuais, bissexuais e transexuais em todas as torcidas, de todos os times. A torcida do Cruzeiro não é diferente. As pessoas não escolhem o time conforme a sexualidade, acredito inclusive que não exista uma explicação racional para a preferência por um ou outro time. Se o que move a torcida é o amor, qualquer ser humano capaz de amar pode sim ser um torcedor.

O Cruzeiro é o time do povo. E no povo encontramos pessoas de todos os tipos: brancas e negras, ricas e pobres, hetero e não heterossexuais. Infelizmente encontramos até as que se acham no direito de julgar a forma do outro amar e exercer esse amor.

Não existe manual do torcedor, não existem regras para torcer. Cada um o faz conforme o sentimento e a consciência assim o permitem.

Tornar o estádio um lugar hostil é no mínimo desumano. Quando se usa de ameaças e intimidações (o que inclusive é crime) para tentar coibir o outro de torcer, só se mostra que o amor ao clube não é maior que o preconceito e o ódio que se tem por quem muitas vezes nem se conhece.

Por que o fato de ser, pensar, agir diferente é um problema? Enquanto usamos de piadas e senso comum para julgar o outro, as pessoas estão morrendo de verdade. Mais que qualquer coisa, se o que nos une é o amor pelo Cruzeiro, esse amor deve estar acima de conceitos e preconceitos. Ser LGBT não é e não deve ser usado como um ponto de demérito ou humilhação.

Se somos Cruzeiro e nada mais interessa, qual o sentido em se interessar por algo que não te diz respeito? Que sejamos livres para torcer e viver, da forma como nos couber. Se não é do seu interesse beijar uma pessoa do mesmo sexo, não beije. Se a união homoafetiva te desagrada, não se case com alguém do mesmo sexo. Se você se sente incomodado com a vida e o amor de outra pessoa, procure ajuda.

 

Por: Natália Andrade