Futebol não é 8 ou 80


Há uma semana, vivíamos um inferno. O Cruzeiro perdeu para o Grêmio em Porto Alegre, foi relegado à lanterna do Brasileirão e passou a ser tratado como o pior time do mundo. Paulo Bento não servia, os jogadores eram todos ruins, a diretoria era formada por um bando de incompetentes… Três dias depois, o time celeste fez um bom jogo em Campinas, venceu a Ponte Preta por 4 a 0 e deixou, não só a lanterna, mas a zona de rebaixamento. Pouco depois é anunciada a contratação do centravante argentino Ramon Ábila. E no dia seguinte, é confirmada a vinda do atacante Rafael Sóbis. Foi a deixa para que o oba oba tomasse conta das redes sociais, e, consequentemente, da torcida.

Se você é uma dessas pessoas, faça um favor: PARE. Apenas, pare. Ou como tanto gostam de dizer nessa era internética da zoeira, SEJE MENAS. Você não é uma foca de circo, diminua suas expectativas e se atenha a realidade. Em 10 jogos disputados, vencemos 3. Até que se prove o contrário, nosso campeonato é apenas de realizar uma campanha tranquila, na metade superior da tabela. Isso não é demérito algum, reconhecer qual a sua realidade é uma virtude importantíssima para que não tenhamos crises e desespero desnecessários. Precisamos conquistar muitos triunfos e galgar várias posições na tabela para que haja alguma expectativa mais ousada, como voltar à Libertadores.

Ábila e Sóbis são jogadores que mudam o patamar do Cruzeiro? Potencialmente, sim, mas nenhuma contratação é certeza de nada. São apostas, nada mais que isso. Me agrada mais a chegada do jogador argentino, que vem para a função mais carente do nosso plantel. Não temos um camisa 9 confiável desde Marcelo Moreno, em 2014. Todos que se aventuraram no setor oscilaram muito e não passaram confiança. Antes da atual briga de foice no escuro entre Riascos, Douglas Coutinho e Rafael Silva, tivemos Leandro Damião, Henrique Dourado, Joel e Vinícius Araujo, que também não se acharam por ali. Esqueci propositalmente de Willian, para dedicar ao bigode uma análise exclusiva.

Você não me engana mais, Willian. Vejo muitos torcedores exaltando o fato que você vive apenas uma má fase, que o fato de somar 1 gol em seis meses pode acontecer com qualquer um. Poder, até pode, meu caro. Mas todo ano você repete o mesmo roteiro. Vamos aos fatos. Negociado pelo Corinthians com o Metalist, o homem que usa nossa camisa 9 fez 35 jogos e anotou 4 gols pelo time ucraniano em um ano. O desempenho foi tão ruim, que o mandaram em um empréstimo sem custos na negociação que levou Diego Souza para o frio. Foram 22 partidas pelo Cruzeiro e 8 gols, naquele timaço de 2013. Números que animaram e fizeram o atacante se tornar um concorrente forte para, o então titular absoluto, Dagoberto.

Não adianta fazer essa cara, é de você mesmo que eu tô falando (Foto: Reprodução / Globoesporte.com)

Não adianta fazer essa cara, rapaz,  é de você mesmo que eu tô falando (Foto: Reprodução / Globoesporte.com)

Em 2014, o rendimento foi bem inferior. Pelos números gerais, marcou 10 gols em 56 partidas. Foram 3 gols no Campeonato Mineiro e 1 na Libertadores, entre fevereiro e março. A partir daí, o jogador passou sete meses tendo balançado as redes apenas uma vez, pelo Brasileirão. Na reta final de 2014, quando já havia sido comprado em definitivo por 3,5 milhões de euros, o atleta teve um novo pico de rendimento, anotando 3 gols nos dois jogos da semifinal da Copa do Brasil, contra o Santos. Em 2015, foram 13 gols em 46 aparições. E o detalhe: até 6 de setembro, quando Mano Menezes chegou ao clube, o jogador tinha 2 gols em 31 partidas. Com o Brother Menezes, 11 gols e 6 assistências em apenas 15 jogos.

O que essa avalanche de números quer dizer, no fim das contas? Simples, Willian não é um grande jogador em má fase. É um jogador mediano, fraco para alguns, que tem momentos de intenso brilho. Mas momentos esporádicos, raros, imprevisíveis. E para quem questiona o fato dele jogar fora de posição, seu melhor rendimento na carreira foi jogando como centroavante. Como um homem de lado, ele pode ter menos responsabilidade de marcar gols, mas continua sendo um atacante e precisa ser mais efetivo. Essa é a minha grande crítica para o atleta, adorado pela maior parte da torcida sem nunca ter justificado tal honraria. Alguns dizem que ele é um ídolo do clube. A estes lunáticos, nem me dou ao trabalho de responder.

Por fim, as contratações podem trazer evolução ao nosso time. A perspectiva é boa, mas vamos precisar pastar muito no campeonato para conseguir alguma coisa. Sem a entrega demonstrada no jogo contra a Ponte Preta, seríamos novamente batidos. E o jogo contra o Palmeiras não significa nada além de 3 pontos. Portanto, vamos parar com essa mania de sermos “torcedores willian”, que oscilam do 8 ao 80 de forma indiscriminada. A diretoria segue tendo cometido muitos erros, o plantel segue precisando de ajustes e praticamente todos os nossos jogadores precisam render muito mais para justificarem sua presença no Maior de Minas. Cobrança, cornetagem e gols do Cruzeiro: sempre serão bem vindos (e vistos) por aqui.

Por: Emerson Araujo