Fora das quatro linhas: uma reflexão sobre o atual modelo de Sócio do Futebol cruzeirense e pretensão de democratizá-lo


Fora das quatro linhas: uma reflexão sobre o atual modelo de Sócio do Futebol cruzeirense e pretensão de democratizá-lo - Cruzeiro Esporte Clube

Em excelente entrevista dada pelo diretor de futebol cruzeirense Alexandre Matos ao Guerreiro dos Gramados na última segunda-feira, ele foi enfático: o sucesso do time desse ano só floresceu graças ao investimento e trabalho ambicioso do programa Sócio Torcedor Celeste. Através dele, o Cruzeiro conseguiu potencializar seus rendimentos, uma vez que o Mineirão também voltou a ser nossa casa. Números de hoje atestam que já contamos com mais de 43 mil associados, um crescimento de 370% em 2013, que começou com 7 mil. Inicialmente, a meta para toda a temporada era de 30 mil. Tal balanço positivo deixa lições importantíssimas a serem copiadas para os próximos anos, assim como margem para evolução. Mas onde evoluir?

Um aspecto fundamental passa a ser a obrigação de aproximar os torcedores fora da capital com essa realidade e mentalidade do clube. Como toda relação de sucesso, é preciso investir, desenvolver políticas específicas e potencializar seu alcance. Com atestada maioria em todo estado e espalhados pelo país e o mundo, não é inteligente deixar de lado toda essa segmentação. O atual programa do Cruzeiro pode avançar nesse ponto.

Limitado pela logística e distância física da capital, o torcedor não belo-horizontino não merece que sua paixão só tenha correspondência de um lado. O sucesso em campo em 2013 e o promissor 2014 precisam ser APENAS algumas das razões para ele despender seu dinheiro, tempo e motivação em ser associado. Longe dos jogos quase que semanais, o torcedor não vai se sentir entusiasmado a ser sócio se não tiver benefícios palpáveis do outro lado. E, por benefício palpável, leia-se muito mais do que simplesmente desconto em supermercado. Ele precisa é ser colocado na posição de cliente e parte integrante do clube, que essa paixão que ele sente pelo Cruzeiro seja correspondida. Não apenas em forma de bom desempenho a partir do aumento de receita. Uma hipótese levantada neste tipo de análise é que o torcedor precisa de muito mais do que descontos e preferência na compra de ingressos para se tornar sócio. Mais efetivo do que tentar sensibilizar o torcedor de fora da capital é criar incentivos para que ele se torne sócio.

Esse boom em 2013 mostrou que é preciso saber explorar. Se no ano o futebol em campo nos foi oferecido como principal produto e motivação, para os próximos pode-se ir além. Visando esse segmento não belo-horizontino (até mesmo o de BH), o conceito único de fidelidade do programa de Sócio Torcedor precisa ainda ser mais elaborado. Alguns exemplos de como vincular tal ideia com benefícios:

– Direito a voto nas eleições do clube

– A contribuição mensal que possa ser revertida em ingresso e viagem para o jogo em BH.

– A realização de jogos pontuais pelo interior

– Sistematização de prêmios e oportunidades para esse público

– Programa de relacionamento do clube com os sócios torcedores

– Recebimento de materiais promocionais do clube: Os ST adimplentes recebem materiais promocionais do clube.

– Fidelidade Premiada: Sorteios de mensalidades para os sócios que estão em dia com suas mensalidades, recebendo um “Número da sorte” para concorrerem à premiação.

– Descontos nas lojas oficiais do clube

– Desconto ou oportunidade de atividade no clube social: Usufruir de atividades na Sede Campestre

– Parabéns aos sócios: Todos os sócios que fazem aniversário em dia de jogo ganham q ingresso, com direito a acompanhante

Essas são apenas algumas das muitas possibilidades a serem exploradas, já implantadas com sucesso em clubes como Grêmio, Internacional e Santos, visando tanto o torcedor de BH, como o de fora. Passa pela premissa de tornar o programa Sócio do Futebol mais atrativo para todas as partes da torcida, seja na capital, no estado ou até no mundo.

Estudos recentes corroboram a necessidade de se desmistificar a relação exclusiva que se criou do direito ao ingresso de jogo com o programa de sócio torcedor. A preferência na compra do ingresso como o verdadeiro motivo palpável para as pessoas se associarem só se comprova totalmente benéfica quando essas têm a oportunidade de morarem no mesmo local dos jogos, no caso, Belo Horizonte. O reflexo tem sido o grande problema dos projetos de sócio torcedor no Brasil. Os clubes têm se pautado pelo “Torcedômetro” criado pelo Movimento por um Futebol Melhor e visto a operação como varejo. Ou seja. Conta é subir no ranking do número de associados, apenas. Além de atrair outras faixas de torcedores, é necessário reter os que já existem e motivar todos a sempre consumirem mais, agregando em benefícios e vantagens, além de participação direta na vida do clube.

O programa de Sócio do Futebol cruzeirense precisa atuar como um clube de benefícios exclusivos e intangíveis para seu associado, e não apenas como operação de varejo. Pensar em todos os torcedores, literalmente. Satisfazer os que podem frequentar o Mineirão toda semana, assim como cativar e manter fiel aqueles que estão distantes e de maneira alguma podem ser tratados como “menos torcedores” que os da capital. Toda essa estruturação leva tempo e experimentação até ser implementada e completamente funcional. Mas não é inventar a roda; estudar casos de sucesso e adaptá-los.

Estamos no caminho certo, mas há o que melhorar. Um clube não deve descansar no sucesso, mas sim desenvolver meios de prolongá-lo. A atual gestão celeste tem feito o esforço pra isso.